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Os adolescentes e sua (des)conexão com a natureza

Durante o lançamento da versão impressa do livro Atividades em Áreas Naturais – de autoria de Rita Mendonça, uma das idealizadoras do programa Ser Criança é Natural, que dá nome a este blog – que aconteceu esta semana, em São Paulo, uma roda de conversa levantou muitas questões. Entre as reflexões sobre o brincar livre das crianças que vivem nos interiores do Brasil e o brincar organizado das crianças urbanas, conversamos sobre a importância de garantir o contato com a natureza sempre, mesmo em situações que parecem adversas.

No entanto, uma das questões que nos provocou bastante diz respeito aos jovens do Ensino Médio. Como criar oportunidades para adolescentes tão conectados online e que vivem uma fase difícil de negação de tudo, para que tenham contato com a natureza e valorizem isso? De que maneira podemos transpor suas barreiras e resistências? Como ter e oferecer natureza no Ensino Médio, quando o foco principal – e quase que exclusivo – está no conteúdo e na sala de aula?

Acreditamos que a resposta que temos não se dirige apenas aos jovens dessa fase escolar, mas a todos nesse percurso. As mudanças necessárias para se conquistar esse espaço requerem revisão profunda sobre as diferentes formas de aprender e sobre a influência extremamente benéfica e saudável do contato com outros seres vivos.

Se, ao longo de toda a vida escolar, as crianças não se conectam com a natureza, é difícil (mas não impossível) recuperá-las no Ensino Médio. O ideal é crescer com ela. Nosso desejo é sempre de que esse contato seja real desde a primeira infância e que nunca se perca. Ele deve iniciar com a família, antes mesmo do início da vida escolar, continuar na Educação Infantil e ser parte presente da experiência do Ensino Fundamental.

Mas se o jovem nunca trilhou esse percurso, como podemos fazer isso acontecer? Então, vamos lá!

Para provocar os jovens é preciso que as ações propostas façam sentido. É preciso dar tempo, espaço e estar disponível. O movimento pode começar pelos professores, ao utilizar os espaços externos da escola para as aulas. Ter a natureza – seja de que tamanho for – como paisagem, já é um começo importante para quem essencialmente vive entre quatro paredes, sentado, durante mais de cinco horas do seu dia.

Do lado de fora, instantaneamente os sentidos despertam e as formas de aprender se diversificam. Entre quatro paredes, só o pensamento abstrato pode ser desenvolvido, pois todos os demais atributos da nossa natureza ficam “desligados”.

Do lado de fora, as percepções mais amplas e as reflexões únicas de cada um encontram mais espaço para se expressar. Para isso, o professor precisa também gostar desse contato e se permitir expressar seus próprios sentimentos e pensamentos no momento. As relações entre os jovens entre si e deles com o professor também tendem a ficar mais vivas.

Mudar de espaço é o princípio de uma reflexão para mudar a maneira de ensinar-aprender e de se relacionar com o mundo. É preciso ir além da abstração, é preciso sentir a experiência com o corpo todo. Experimentar e se encantar são essências do ato educativo que servem para todos, independente da idade. Por que não brincar? Por que não sentir? Por que não viver? E por que não criar oportunidades para os jovens?

E em meio à rotina e ao turbilhão de conteúdos abstratos que recebem a cada minuto, existe um tempo livre para que o jovem respire, perceba o mundo, crie. E é nesse tempo que o professor ou educador pode oferecer um novo espaço de conexão, a natureza, interações com crianças e adultos e provocações para viver, de uma forma mais rica e inspiradora, o ócio, a sensibilidade, a criatividade.

Sim! Ainda temos muito pra conversar e refletir sobre o sistema de ensino brasileiro. O rumo que a educação está tomando no país e o lugar que a natureza e o SER humano ocupam devem ser repensados, reavaliados, revistos. O que já sabemos é que do jeito que está não dá pra ficar e isso é o suficiente para começarmos a produzir pequenas mudanças. Nós e vocês, onde estivermos.

Foto: Ana Carol Thomé

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