Ao levar máquinas que fabricam óculos por um dólar, a OneDollarGlasses melhora a visão e a qualidade de vida de milhões de pessoas

criança atendida pelo projeto One Dollar Glasses
Quem nasceu sem nenhum problema de visão, não tem ideia de como é não enxergar o mundo direito. A lousa na sala de aula fica nublada, a placa da rua desfocada e a embalagem do remédio confusa. Estes contratempos afetam diretamente a vida social e econômica destas pessoas. Crianças com problemas de visão não aprendem direito e consequentemente, quando mais velhos, não conseguirão um trabalho decente ou sustentar suas famílias.

Em 2014, dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelavam que 246 milhões de pessoas no mundo não conseguiam enxergar perfeitamente. Deste total, 90% delas viviam em locais pobres.

Para ajudar estas pessoas a ver e ter uma vida melhor, a organização alemã OneDollarGlasses criou um projeto para levar máquinas que fabricam óculos que custam um dólar para vilarejos da África.  

Mas como tornar a fabricação de óculos acessível e fácil? Martin Aufmuth, fundador da organização, fez diversos testes. Depois de muitos erros e acertos, inventou um processo extremamente simples.

Os óculos são feitos com armações de aço bastante leves e flexíveis. As lentes de policarbonato são pré-fabricadas (25 tipos com os mais diferentes graus). Junto, este material custa exatamente US$ 1.

E como montar os óculos, em lugares tão remotos e distantes? Aufmuth desenvolveu um artefato rústico que qualquer pessoa, que tenha passado pelo treinamento da OneDollarGlasses, pode manusear.

A maquininha (bending machine, em inglês) dobra e molda o aço no tamanho adequado: o ponto amarelo é para armações infantis, o vermelho para tamanhos médios e o azul para pessoas que têm uma distância interpupilar maior do que o normal.

a máquina que fabrica as armações do OneDollarGlasses

Com este artefato, as molduras em aço leve e flexível são montadas

O processo para a fabricação dos óculos leva em média entre 10 e 30 minutos. Tudo o que é necessário cabe nesta pequena caixa abaixo. O objetivo da OneDollarGlasses é treinar a população local para fazer este trabalho, gerando assim emprego e renda para a comunidade.

O projeto da ONG alemã já funciona em países como Etiópia, Burkina Faso, Bolívia, Ruanda e inclusive, no Brasil. Por aqui, começou em São Paulo, em 2014, com a organização Enactus Insper, que cuida de pessoas sem teto.

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A caixa da OneDollarGlasses, que fabrica óculos em menos de 30 minutos

O custo da caixa com todo material gira em torno de € 2.500. Com ela, conseguem trabalhar simultaneamente três ou quatro oculistas. E podem ser produzidos entre 20 e 50 mil óculos por ano. O equipamento é doado para comunidades carentes.

Para poder fazer todo este trabalho beneficente, a OneDollarGlasses sobrevive através de doações. Qualquer um pode ajudar. Basta acessar o site da iniciativa.

A história da OneDollarGlasses

Em 2009, Martin Aufmuth leu o livro Out of Poverty, de Paul Polak – outro empreendedor social -, em que o autor falava justamente sobre óculos baratos que podiam ser comprados por pessoas extremamente pobres. Alguns dias depois, andando pelas ruas da Alemanha, Aufmuth viu nas lojas óculos que custavam € 1. Ficou irriquieto com aquilo e decidiu então que era hora de iniciar seu próprio projeto.

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Martin Aufmuth, fundador da organização OneDollarGlasses

Foi somente três anos depois, que com sua caixa em mãos, o alemão chegou a Uganda, na África. Durante duas semanas, ele permaneceu por lá, treinando novos oculistas e permitindo que a visão de 500 crianças e adultos melhorasse.

Apesar de sua alegria, o criador da OneDolarGlasses conta que em seu segundo dia em Uganda, a filha de 14 anos do motorista que os guiava pelo país, morreu de malária. Sulayman – este era o nome do motorista – tirou um dia de folga para enterrar a filha. Mas no dia seguinte, estava de volta ao trabalho. Se ele tivesse poucos dólares a mais para comprar remédios e pagar pelo internação, talvez sua filha ainda estivesse viva.

“A probreza extrema não traz somente fome, mas doenças, falta de esperança, oportunidades perdidas. Milhões de pessoas no mundo precisam de um par de óculos. Muitas delas não vão à escola por esta razão, não podem trabalhar e assim, sustentar suas famílias. É isto que quero mudar”, diz Martin Aufmuth.


Fotos: divulgação OneDollarGlasses

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.