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Um francês nas alturas

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O dia mal amanheceu e um barulho que lembra pequenos sinos soa do lado de fora do alojamento. Esfrego os olhos, busco a lanterna e vejo no relógio que a hora combinada do despertar ainda não chegou. Ainda sonolento, lembro do objetivo da viagem e pulo da rede. O som dos sinos que vêm lá de fora são de mosquetões e o homem que os maneja é Olivier Jaudoin, um especialista em escalada de árvores. Nossa missão: alcançar uma plataforma que ele mesmo montou a 35 metros do chão, em cima de uma castanheira, para fotografar um ninho ativo de harpias.

Passo por ele, dou um bom dia discreto e sigo para preparar um café forte na cozinha. Para esse francês, pode faltar comida e água, mas sem café não tem papo. Fervo a água, coloco o pó no filtro e voilá. Levo uma caneca para ele e percebo a felicidade do rapaz. Começamos bem mais um dia.

Olivier tem sido meu parceiro em produções desde 2009. Depois de Benjamin da Luz, Marcial Cotes e Marcus Canuto, acabamos juntos no projeto de documentação da harpia, produzindo reportagens para revistas, um livro sobre a espécie e outros diversos trabalhos.

Francês de Aubusson, Olivier trabalhava com o que chama de “poda delicada”, retirava galhos de árvores altas sem que esses caiam e possam danificar algo no solo ou machucar alguém. Fez algumas viagens para o Brasil, conheceu pesquisadores que trabalhavam com dossel (para ficar nas alturas) e logo transformou a vida – para bem melhor – de muita gente que precisava estar em cima das árvores,inclusive com mais segurança.

Dono de uma técnica de escalada em árvores sem igual e de uma capacidade inventiva sem limites, também tem acompanhado grandes produtoras de cinema e documentaristas em suas incursões pelo alto das florestas.

Participou da equipe do filme Amazônia do diretor Thierry Ragobert. Além de dar todo o suporte para colocar pesquisadores, fotógrafos e cinegrafistas em cima das árvores, Olivier desenvolveu outra técnica de movimentação no dossel, que dá liberdade de movimentos e uma segurança imensa lá em cima, inclusive para que tem medo de altura, como eu.

São sete anos de amizade. E sempre que me perguntam sobre os trabalhos que fiz e que exigiram que eu subisse em árvores, lembro dessa grande figura que é Olivier Jaudoin, o francês voador.

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Ana Maria
Ana Maria
1 ano atrás

Para um profissional da natureza tem que correr risco. Cada um com seu método. Fico impressionada com os riscos que eles enfrentam.

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