Oba, o baru invadiu os doces de amendoim!

Árvore copada, de altura para mais de 25 metros, o pé de baru, cumbarú, cumaru ou coco-barata (Dipteryx alata) é de chamar a atenção: no Cerrado da região Centro-Oeste são poucas as espécies desse porte e ainda com tronco razoavelmente ereto, de até 70 centímetros de diâmetro. A maioria das árvores nativas são mais baixas, com tronco e galhos retorcidos.

A madeira do baruzeiro costuma ser aproveitada para fazer carvão, móveis ou mourões de cerca, por ser bem resistente ao ataque de pragas. Ultimamente, porém, a grande procura é mesmo pelos frutos. Amendoados e marrom-claros, com 5 a 7 centímetros, eles pendem isolados, aparecendo aqui e ali em meio à densa folhagem verde-escura. Cada fruto esconde apenas uma semente, retirada da polpa dura com a ajuda de uma morsa, para então ser torrada e consumida salgada, como aperitivo. Ou para ser moída e transformada em doces tradicionais – como paçoca, creme, rapadura e pé-de-moleque – e em novas versões de bombons recheados, seja no lugar do amendoim ou combinada com ele.

Um grupo de pesquisa da Universidade Federal de Goiânia (UFG) promoveu degustações de paçoquinhas feitas com baru e amendoim, para testar a aceitabilidade e as características dos doces obtidos. Foram usadas as proporções de 75:25, 50:50 e 25:75 de amendoim e baru. A primeira opção, com 25% de baru para 75% de amendoim, foi a mais aceita e também a que apresentou a menor densidade energética e maior concentração de fibra alimentar total, constituindo um tipo de “paçoca light“, segundo artigo científico publicado por Grazielle Gebrim Santos, Mara Reis Silva, Diracy Betânia Cavalcante Lemos Lacerda, Denise Mendes de Oliveira Martins e Rogério de Araújo Almeida.

Aliás, assim como o amendoim, o baru tem reputação de afrodisíaco, razão pela qual eventualmente recebe o título de viagra-do-cerrado. De fato mesmo, o que diversos pesquisadores confirmam, por enquanto, é que a amêndoa nativa tem uma bela dose de proteína (23% a 26%) e de gorduras insaturadas (31% contra apenas 17% de gorduras saturadas). As insaturadas, vale lembrar, são as gorduras consideradas mais saudáveis, encontradas também em abacates, nozes e azeite de qualidade. Por isso, o baru chega a ser considerado um alimento funcional, recomendado em dietas fitness, como uma variação nativa do coco.

A semente ainda fornece minerais importantes, como ferro, cálcio, fósforo, potássio e magnésio. E dela se tira um óleo de uso farmacêutico e cosmético, também empregado como aromatizante para fumo (de rolo ou de cachimbo). E não é tudo: a polpa serve como complemento alimentar para o gado ou pode virar carvão, com bom poder calórico. Em outras palavras, não falta uso para a espécie. Difícil mesmo é colher quantidade compatível com a demanda crescente de mercado, pois os baruzeiros nativos produzem de maneira muito irregular, com boa colheita num ano e quase nada no seguinte, bem ao estilo de boa parte das plantas tropicais não domesticadas.

De qualquer maneira, com o uso crescente de baruzeiros na arborização de ruas, começam a aparecer coletores urbanos para aproveitar as boas qualidades das sementes. A frutificação da espécie, no Centro-Oeste, costuma ocorrer entre os meses de outubro e novembro, estendendo-se eventualmente até março. A coleta é dos frutos caídos no chão e o homem compete com morcegos e macacos pelos nutrientes de qualidade. Há notícias, inclusive, de populações de macacos-prego que aprenderam a quebrar a polpa para extrair a valiosa semente.

Fotos: Liana John (frutos e sementes de baru, ao alto, e baruzeiro carregado de frutos nas ruas de Campo Grande)

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Liana John

Jornalista ambiental há mais de 30 anos, escreve sobre clima, ecossistemas, fauna e flora, recursos naturais e sustentabilidade para os principais jornais e revistas do país. Já recebeu diversos prêmios, entre eles, o Embrapa de Reportagem 2015 e o Reportagem sobre a Mata Atlântica 2013, ambos por matérias publicadas na National Geographic Brasil.