PUBLICIDADE

O tijolo nosso de cada dia

O tijolo nosso de cada dia
DAI YUN
STILL LIKE-7, 2015
tijolo vermelho, cimento – 60 x 70 x 52 cm

Chá ou café? Com ou sem fé? E fé em quê? No suporte, no material, na coisa e tal? Acho que é na parede para se encostar, porque ao achar um barranco, do jeito que as coisas andam, ele vai desmoronar em você, em mim. E ver o mundo acabar ali encostadinho na parede bem bonita de tijolo à vista é bem, bem melhor. ó cuidado para cabeça não bater na moldura dura, na cor pastel suja, na escultura de fritura…

Não. Não vi frigideira entijolada no MUMA, lá no Portão Cultural, em Curitiba. É só para rimar mesmo e para torrar o pão. Mas, ela bem poderia estar ali junto com a xícara, com a garrafa e com o pão que não dá nem para torrada. Ô dureza. Ô papelão essa construção do mundo. Tijolo após tijolo para proteger(?) objeto após objeto, comida após comida, dor após dor, falta de ar após falta de ar, andar após andar.  

O tijolo nosso de cada dia

A vida, a ida, a lida erigida pelos tolos que abençoam tijolo. Tijolo para construir sombra. Não sobra nem onda. Só óleo lá perto, lá longe. Bem distante. Já não se sabe mais o que o mar traz.

ZANG SONGTAO
MOSAIC, 2017
madeira, estanho – 160 x 60 x 50 cm

As pedras já eram. Viram pó cada vez mais rápido. E os troncos arrancados, os pedaços que sobraram vagueiam, boiam, tentar ir bem longe para encontrar medusa. E por graças encontram. E conseguem virar, enfim, pedra para tentar escapar.

Monstra medusa agora salva as merluzas. Elas são boazinhas, não são como aqueles que se empanturram de carne como seus parentes dos rios. Salva todo mundo, medusa. Antes pedra que acabar boiando na merda oleosa envolta em plástico.  

WU YONGPING
THE NEW LAKE AND THE MOOD OF THE ANGEL, 2016
cerâmica, fibra de plástico, alumínio – 120 x 45 x 35 cm

Porque remendar caquinho a essa altura nem com ouro e laca e mãos de especialistas japoneses.  Muita cicatriz para incomodar a vista formatada, a vila quadrada. Difícil, heim, conviver com o estilhaço, com a quebra, com o derrubado por esse tanto de desalmado para estragar humores angelicais que nadam em águas perigosas.

E agora o toque mais surreal: o nome da exposição em que essas obras estão incluídas é “Fluindo Naturalmente“. A apresentação diz que a mostra descreve a harmoniosa relação entre homem e natureza. É para rir ou para chorar?

Em que lugar dá-se essa fantasia? No lindo mar dos discursos utópicos para segurar cardume frito em óleo que virou intrínseco? Estamos no mesmo planeta? Ou meu coração já é de pedra mesmo? Não, não é não. Anda bem sentimental. Afinal respeita cláusulas pétreas. E ouvindo Distante, da Lilian Nakahodo, dá para senti-lo batendo entre os meandros das memórias.

Nossa como flui…

Olho esse óleo negro. Soturnos óleos negros. Invasores navegando na minha pupila, me obrigando a recolher no meu íntimo respiro aquele ritmo lento, denso, pesado, virando, rodando, tomando corpo de onda cansada, sem força.

É uma obra triste. Uma imagem de impacto medonho. O olhar que ignora ser petróleo, encontra uma espécie de fascínio naquele corpo dançante espesso, naquela consistência de tinta pronta para ir para uma tela… De horror.  Uma manobra tenebrosa do que se quer destino… É mais desatino. Cada mancha, fluindo façanha de irresponsabilidade.

Exposição “Fluindo Naturalmente” – Bienal Internacional de Curitiba

Ingresso: gratuito
Data(s): 10/10/2019 a 01/03/2020 – 3ª, 4ª, 5ª e 6ª feira, sábado e domingo
Horário(s): 10h às 19h (terça a domingo)
Espaço Cultural: Museu Municipal de Arte (MuMA) – Portão Cultural
Endereço: Av. República Argentina, 3430, Terminal do Portão – 54

Fotos: Karen Monteiro (com celular)

Comentários
guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
Notícias Relacionadas
Sobre o autor
PUBLICIDADE
Receba notícias por e-mail

Digite seu endereço eletrônico abaixo para receber notificações das novas publicações do Conexão Planeta.

  • PUBLICIDADE

    Mais lidas

    PUBLICIDADE