O que faz uma campanha de financiamento coletivo valer a pena?

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Se a primeira resposta que vem à cabeça é “dinheiro”, você pode estar enganado. Claro que os recursos financeiros são importantes.  Mas, para Rosa Martins, coordenadora de relações institucionais do Instituto Terramar, do Ceará, o que ocorre de mais importante durante uma campanha de financiamento coletivo é o engajamento que ela traz.

Rosinha, como é carinhosamente conhecida, sabe das coisas. Ela liderou uma campanha bem-sucedida na plataforma da Garupa, terminada no fim de novembro. A Rede Tucum, que é gerida pelo Instituto Terramar e reúne iniciativas de turismo de base comunitária na zona costeira do estado, arrecadou R$ 27.730 de 73 pessoas, batendo 107% da meta. A causa? Financiar o I Acampamento da Juventude, evento que marca a conclusão do processo de formação de 150 jovens da Escola Popular de Turismo Comunitário.

“O maior ganho nem foi o recurso financeiro ou bater a meta, mas dar visibilidade ao processo de construção do Turismo de Base Comunitária no Ceará e ao trabalho que estamos fazendo com a juventude dentro da Rede Tucum”, diz.

Rosinha contou mais para a Garupa sobre os esforços e os contratempos pelos quais ela e sua equipe passaram até conseguir ter o projeto financiado:

 

Como foi a experiência de tocar uma campanha de financiamento coletivo?

Uma loucura, porque foi a primeira vez que fizemos esse tipo de campanha. Tínhamos muitos receios de que não fosse bem aceita, de que fosse até antipatizada pelo público brasileiro, que ainda não tem o hábito de fazer esse tipo de doação.

Eu dormia e acordava pensando ‘O que está faltando pra isso dar certo?’. As comunidades não sabiam como fazer parte da campanha. Tivemos que ensiná-las, por exemplo, a fazer um movimento comunitário e a ter uma pessoa responsável por doar o dinheiro coletado, porque nem todo mundo tem acesso à internet.

Foi diferente do que vocês estavam esperando?

Na verdade, a gente imaginava que as pessoas que nos conhecem aqui no Ceará seriam facilmente convencidas a doar. Mas quem se engajou primeiro foram as pessoas que estavam acostumadas com essa estratégia de financiamento coletivo.

No começo, foi lento o processo de adesão. Ficamos apreensivos, achando que não iríamos alcançar a meta. Mas logo começou a circular uma energia criativa muito interessante. Com as dicas que vocês nos deram, começamos a postar vídeos e a fazer chamadas diferentes, pra bombar a campanha e reunir os esforços da juventude.

Qual foi a maior dificuldade?

Fazer as pessoas compreenderem o que é o financiamento coletivo. Elas ficavam com o pé atrás, não sabiam se era 100% seguro, se o dinheiro iria chegar de fato à comunidade. Quando elas acessaram o site e viram que outros projetos tinham sido financiados, começaram a compreender que esse negócio está há tempos rodando, que tem credibilidade.

 E o maior ganho?

O maior ganho nem foi o recurso ou bater a meta, mas dar visibilidade ao processo de construção do Turismo de Base Comunitária no Ceará e ao trabalho que estamos fazendo com a juventude dentro da Rede Tucum.

Além das matérias veiculadas por vocês (aqui no Conexão Planeta e no blog sobre Turismo Sustentável no canal Viagem Livre), tivemos espaço no rádio e em jornais. Muitas pessoas, depois que nos viram nesses veículos, nos procuraram para visitar o projeto. Elas falavam: ‘Meu Deus, vocês estão aqui pertinho e não os conhecemos!’, ou ‘Gente, vi vocês e quero conhecer mais sobre essa proposta de turismo comunitário!’. Então tivemos que, além de administrar a campanha, organizar as demandas de hospedagem que vinham com toda essa exposição na mídia.

O fato é que muitas pessoas se envolveram no processo: além de nós da Rede Tucum e do Instituto Terramar, vocês da Garupa, as comunidades, alguns amigos que nem são daqui, mas que viram o projeto e começaram a ser solidários… Pessoas do Rio de Janeiro e de outros lugares que nem conhecemos, mas que apoiaram a iniciativa…

Você recomendaria o financiamento coletivo para outras iniciativas de Turismo de Base Comunitária?

Com certeza! Agora, eu acho que nós fizemos uma das propostas mais arriscadas, que foi financiar um evento. Deu certo. Mas, por exemplo, se a ideia fosse construir ou sinalizar uma trilha, comprar um barco de passeio ecológico, construir uma cozinha comunitária para as mulheres oferecerem tapioca… Enfim, acho que talvez seja mais fácil financiar esse tipo de projeto do que um evento.

Até as organizações formais desconfiam de evento, pensam que é algo isolado – o que muitas vezes, e como foi no nosso caso, não é. Tivemos que explicar que o Acampamento da Juventude faz parte de um processo da Escola Popular de Turismo Comunitário (EPTC) e do intercâmbio da juventude. É um projeto superinteressante, que reúne várias experiências e grupos diferentes: indígenas, comunidades costeiras, jovens quilombolas.

A campanha tinha como propósito financiar o I Acampamento da Juventude. Como foi trabalhar em conjunto com os jovens?

Eles se engajaram muito na campanha e fizeram de tudo para arranjar dinheiro. Doaram colares indígenas, camisetas, livros. Em uma noite, eles conseguiram reunir R$ 200 com uma rifa! Em algumas comunidades, foram os jovens que conseguiram fazer esse movimento em prol da campanha. A juventude com certeza é um público que tem tempo, criatividade e, principalmente, potencial para organizar e participar desse tipo de campanha.

Foto: Jovens participantes da Escola Popular de Turismo Comunitário (EPTC), no Ceará (Divulgação/Arquivo Terramar)

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