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O que desejamos para nossas crianças?


Entre a infância e a vida adulta cada um de nós passa por incontáveis transformações; podemos dizer que entre o nascimento e a morte não paramos de nos transformar. A permanente e contínua transformação é uma das características de tudo que existe em nosso mundo.

Uma das qualidades que se destaca na espécie humana é a sua plasticidade. Nascemos com uma capacidade imensa de nos adaptar, de nos acoplarmos com os ambientes físicos e emocionais em que vivemos. Essa plasticidade acontece durante toda a nossa vida, mas em particular na infância. Um bebê humano, diferente dos outros mamíferos por exemplo, precisa aprender a usar seus sentidos, a usar seu corpo, a usar seus atributos e isso ele aprende com os adultos que estão à sua volta. Ele só não precisa aprender a aprender, que isso ele já nasce sabendo.

Então, quando estamos refletindo sobre a relação criança/natureza, estamos escolhendo que tipo de moldagem queremos dar aos nossos pequenos. Mas vejo uma diferença entre as influências que oferecemos às crianças, quando predominam os ambientes e artefatos construídos e quando predominam os ambientes repletos de seres não humanos, mais que humanos. Na natureza, a criança tem oportunidade de “navegar” mais livremente no campo primordial de onde ela própria vem, seus órgãos perceptivos não precisam dar “saltos”, quero dizer, não precisam se esforçar para reconhecer e se adaptar aos artefatos, pois os seres/ambientes mais que humanos pulsam em consonância com o corpo e a alma das crianças. Quanto mais tempo elas ficarem em contato com a natureza mais poderão se aprofundar no contato consigo mesmas, terem segurança de ser quem elas são e crescerem de acordo.

Muitas vezes já falamos aqui do quanto a abertura dos adultos para permitir que suas crianças tenham uma infância natural beneficia também o autodesenvolvimento de pais e educadores, pois a criança, sendo natureza, pode nos ensinar sobre o que realmente importa, sobre o que é essencial, sobre a relação com o tempo e o espaço e sobre a relativa importância das coisas que criamos.

Mas nossas crianças vão crescer e como vamos fazer para dar continuidade a essa relação natural com elas? Como vamos fazer para lhes desejar que tenham habilidades e uma vida significativa e útil para a comunidade. Obviamente não estou me referindo ao sucesso convencional, baseado em aspectos exteriores à vida. Me refiro a como se tornarem adultos sem precisar fazer uma ruptura, de modo a que levem a naturalidade da vida para o seu modo de viver.

Recentemente assisti ao filme Waapa, realizado pelo projeto maravilhoso Território do Brincar e, entre as diversas inspirações que esse filme de menos de 20 minutos provoca, estão cenas em que os adultos, por meio de elementos da natureza, desejam às crianças – com brincadeiras cheias de desafios -, que sejam boas tecelãs como as aranhas ou bons corredores como a saracura.

Fiquei me perguntando quais seriam os equivalentes, em nossa cultura, para podermos desejar profundamente às nossas crianças que sejam bons adultos no futuro. Do fundo do coração, será que eu desejo que ela seja generosa como a terra? Que ela tenha visão como a águia? Que ela tenha a retidão do bambu? Que ela seja alegre como a primavera? Que ela cante lindamente como o sabiá? O que de verdade desejamos para as nossas crianças?

Um desafio e uma inspiração, é o que proponho para nós (me incluo!): refletir sobre o que verdadeiramente desejamos para as nossas crianças. Nós que reconhecemos a importância da natureza para a infância, como estamos articulando essa convicção com a inserção dos jovens adultos nessa nossa sociedade, tão conturbada e compartimentada?

Meu desejo é que a gente não esgote rapidamente essa questão e que possamos aprofundar a reflexão sobre o nosso verdadeiro engajamento com o processo vivo de nosso planeta. Que ele possa favorecer que emerjam gestos que garantam a transição entre uma infância feliz e livre para uma vida adulta leve, alegre e verdadeiramente coerente com o que importa para a Vida.

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