O melhor professor do mundo é queniano, leciona na zona rural e doa seu salário para famílias pobres

Claro que a gente, aqui, no Conexão Planeta, estava na torcida pela professora paulista Débora Garofalo, que ficou entre os dez finalistas da edição deste ano do Global Teacher Prizeuma espécie de “prêmio nobel da educação”. Publicamos essa boa notícia em fevereiro. Mas ficamos muito felizes com a vitória do professor queniano, Peter Tabichi, anunciada ontem, na cerimônia de entrega em Dubai, nos Emirados Árabes. Ele vai receber 1 milhão de dólares.

O prêmio é oferecido há cinco anos pela Varkey Foundation, organização sem fins lucrativos criada com o objetivo de reconhecer professores que se destacam por suas contribuições à profissão, também promovendo a troca de ideias entre educadores do mundo inteiro. Este ano, mais de 30 mil professores se inscreveram. Destes, 50 foram pré-selecionados para a semifinal e apenas os dez finalistas viajaram a Dubai.

De diversos cantos do mundo, eles lecionam em cidades grandes ou em aldeias remotas e têm muita coisa em comum: “defendem a inclusão e os direitos da criança, integram os migrantes nas salas de aula e alimentam as habilidades e a confiança de seus alunos usando música, tecnologia, robótica e ciências”, destaca a instituição, em seu site.

O poder da Ciência para mudar a África

Tabichi é franciscano, tem 36 anos e leciona Ciências em uma escola da zona rural para alunos de etnias e religiões diversas, promovendo a paz entre eles. A maioria (95%) é de origem muito pobre e 1/3 são orfãos. O queniano doa 80% de seu salário para as famílias mais pobres e projetos comunitários locais, incluindo educação, agricultura sustentável e construção da paz.

Como acontece com qualquer professor que trabalhe em áreas muito precárias – como muitos brasileiros -, diariamente Tabichi enfrenta problemas como abandono da escola, tráfico de drogas, gravidez prematura e suicídio. Como se não bastasse, ele ainda tem, entre seus alunos, jovens que precisam caminhar até 7km para assistir suas aulas.

A escola onde Tabichi dá aula tem apenas um computador, com péssima conexão de internet, para atender sua turma de cerca de 58 alunos, entre outras. Mas as dificuldades nunca limitaram a criatividade desses jovens. Com a orientação de Tabichi, eles criaram dois projetos que tiveram destaque, cada um a seu modo. O dispositivo que ajuda pessoas cegas e surdas a medirem objetos os classificou para participar de uma feira internacional de Ciências e Engenharia promovida pela Intel, que acontece todos os anos, em maio, nos Estados Unidos. Já com o projeto que usa uma planta para gerar eletricidade, eles foram premiados pela Royal Society of Chemistry.

Durante a cerimônia, o queniano subiu ao palco muito emocionado para receber os cumprimentos pelo prêmio. Aproveitou para dizer a seus alunos, que acredita no poder da Ciência para mudar a realidade da África. “Todos os dias, viramos uma nova página. E, hoje, escrevemos uma nova. Este prêmio não é um reconhecimento a mim, mas, sim, aos jovens deste grande continente. É a hora da África”.

O Brasil muito representado no prêmio

Professores brasileiros muito especiais têm colocado o Brasil em destaque no Global Teacher Prize nos últimos três anos. A primeira vez que um brasileiro ficou entre os dez finalistas foi em 2017: o capixaba Wemerson da Silva, de 26 anos, professor de Ciências e Química, de uma escola pública de Boa Esperança.

Eles se inscreveu no prêmio com o projeto Filtrando as Lágrimas do Rio Doce, criado com seus alunos. Trata-se de um filtro bioativo de areia, capaz de limpar a água contaminada com rejeitos de minérios. Em outubro de 2016, ele havia sido o grande vencedor do prêmio nacional Educador Nota 10. Falamos sobre ele, aqui no site.

Em 2018, também tivemos um representante entre os dez finalistas: o diretor e professor de escola pública de São José do Rio Preto, interior paulista, Diego Mahfuz Faria Lima, que se inscreveu com o projeto Minha escola: reconstrução coletiva, com o qual resgatou a dignidade e a autoconfiança de alunos, professores e pais, reduzindo a evasão escolar e o bullying. 

Diego já tinha sido agraciado com os prêmios de Educador Nota 10 e de Educador do Ano, iniciativas da extinta Fundação Victor Civita. Também noticiamos sobre sua conquista no Global Teacher Prize.

E, este ano, foi a vez da professora Débora Garofalo, que envolveu seus alunos na coleta e no uso de resíduos para a produção de protótipos do projeto Junk Robotics, utilizando conceitos de Física e Eletrônica.

Mais de 700 kg de resíduos foram reciclados e transformados em aparelhos de refrigeração, robôs, veículos e helicópteros e o projeto se tornou referência para escolas municipais de São Paulo. Desde então, ela treina outros professores a implementarem o programa. Veja o que contamos sobre ela, aqui, no site.

Claro que ganhar seria um reconhecimento e tanto. Além da projeção, o prêmio de US$ 1 milhão seria muito bem vindo, no caso dos três brasileiros. Mas, a partir dessa participação, muitos caminhos se abrem para os professores participantes e seus alunos.

Olha só o que Débora contou, ontem mesmo, ao site G1: “Acredito que o projeto vai ser multiplicado por outros países. Recebi uma mensagem do Vaticano, do papa Francisco, querendo implementar e levar nosso trabalho adiante. Então não tem motivo para ficar triste. Estou muito feliz!”.

Levando em conta a precariedade da educação e das escolas públicas no Brasil – e as barbaridades que este governo está fazendo e anuncia todos os dias -, Wemerson, Diego e Débora são guerreiros, inspiradores e merecem ser aplaudidos como inúmeros outros professores pelo país.

Foto: Divulgação Global Teacher Prize (Tabichi) e arquivo pessoal (Wemerson, Diego e Débora)

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.