Definitivamente, o empreendedor sul-africano Elon Musk não veio ao mundo a passeio.
Há dez anos, nos primórdios da criação da Tesla Motors, Musk descreveu assim o seu objetivo com a empresa: “produzir um carro elétrico atraente o suficiente para conquistar os consumidores mais exigentes”. O propósito final era acelerar a transição para um mundo livre dos combustíveis fósseis que estão “nos fritando”.
Para atingir tal efeito, ele publicou o Grande Plano Secreto da Tesla — que, apesar do nome, estava consolidado num documento de duas páginas que propunha quatro metas:
1. construir um supercarro elétrico esportivo;
2. com o dinheiro gerado, construir um modelo mais acessível;
3. com o dinheiro destes, produzir um modelo mais barato para produção em larga escala e,
4. para completar, em paralelo, produzir opções de geração elétrica com zero emissão de carbono.
Desde então, a empresa lançou um carro esportivo de US$ 120 mil, um sedã de US$ 70 mil (considerado por muitos o melhor carro já produzido em série) e, recentemente, um novo modelo de US$ 35 mil, que, apesar da previsão de entrega no fim de 2017, já tem encomendas de mais de 500 mil unidades (inclusive no Brasil).
Enquanto produzia os veículos, a empresa criou uma divisão de energia que está erguendo a maior fábrica do planeta (a primeira de uma série) para produzir baterias em grandes volumes. Por fim, acaba de incorporar a SolarCity, a maior empresa de energia solar dos EUA (da qual Musk também é o maior acionista).
Quando lançou o plano, foi muito criticado pela ambição desproporcional. Tanto por imaginar que poderia construir um carro elétrico para competir com carros convencionais, quanto por achar que poderia alterar a demanda de petróleo produzindo veículos particulares e caros.
Pois Elon acaba de lançar o seu Grande Plano — Parte II, também com quatro estratégias:
1. criar sistema de geração elétrica solar harmonicamente integrado com bateria;
2. expandir o portfólio de veículos elétricos e autônomos para todos os segmentos, inclusive e principalmente transporte de carga (caminhões) e transporte público (ônibus);
3. desenvolver sistema de piloto automático pelo menos dez vezes mais seguro que direção manual; e
4. viabilizar que o carro se torne um gerador de receita quando o proprietário não está utilizando.
Pelo histórico do moço, são grandes as chances de o plano dar certo.
O Brasil deveria estar de olho nele. O setor de transporte é uma de nossas principais fontes de emissões de gases de efeito estufa e a principal fonte de poluição do ar nas cidades. Veículos autônomos e elétricos no transporte público e de cargas podem revolucionar a mobilidade e a qualidade de vida nas cidades. Parece ficção científica, mas é bem real. Está logo ali.
Foto: Divulgação/Tesla Motors
Texto publicado originalmente em O Globo em 27.07.2016