Em janeiro de 2011 começaram os primeiros relatos sobre a aparição de uma ariranha no Rio Olho d’Água, um riacho cristalino da região de Bonito (MS), situado integralmente dentro de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). O local é mais conhecido pela atividade de ecoturismo oferecida sob o nome de “Rio da Prata”, uma das mais procuradas pelos visitantes que vêm à região.
Após me certificar dos fatos, organizar o material necessário e obter permissão para tentar fotografar este animal, realizei minhas primeiras expedições à área, que consistiam em permanecer dentro d’água sozinho e praticamente estático por cerca de 8 horas diárias. Nesta época, consegui as primeiras imagens e dias depois a ariranha deu uma sumida. Sabíamos que era um macho jovem e bastante curioso, pois interagia harmoniosamente com os visitantes.
Passado um longo período sem notícias concretas de sua aparição, há alguns meses os relatos voltaram – e eram cada vez mais frequentes. Sempre dividido entre as obrigações do escritório e a vontade de registrar uma espécie que muito raramente é vista em águas tão claras, há algumas semanas decidi que era hora de fazer mais uma tentativa. Deixei as pendências para o dia seguinte e parti para tentar novas imagens, sendo a foto que ilustra esta postagem o meu registro favorito do dia. Cabe ressaltar que trata-se de uma fêmea, ou seja, não é o mesmo indivíduo que fotografei quatro anos antes.
Ao retornar para casa, no início da noite, recebi a notícia sobre uma queda de energia que deixou meu escritório sem eletricidade o dia todo, o que obviamente teria me impedido de realizar os trabalhos pendentes caso eu tivesse optado por não ir atrás da ariranha nesse dia…
A presença de predadores como as ariranhas (Pteronura brasiliensis) em uma determinada área pode ser um indicativo de saúde ambiental, pois o fato de estarem posicionadas no topo da cadeia alimentar, só permite sua presença caso as demais espécies abaixo dela estejam habitando o local. Se os peixes herbívoros dos quais ela se alimenta, por exemplo, forem retirados, as ariranhas não conseguirão mais sobreviver por lá – e os peixes só estarão presentes se as plantas aquáticas também estiverem saudáveis. Áreas protegidas, como as RPPNs, são garantia da manutenção destas relações ecológicas, e o ecoturismo em tais lugares, permite às pessoas presenciarem cenas raras da nossa natureza de forma harmoniosa e segura.
Foto: Daniel De Granville
Essa foto mostra um daqueles momentos que eu nem precisava fotografar, só queria ver mesmo. Demais Daniel!
Verdade, Marcos! Às vezes é bacana esquecer um pouco da câmera e apenas observar sem compromisso. Mas eu sei que falar é fácil, na prática é outra história :-)
Abraço!
Daniel, meu caro! Parabéns pelo conteúdo do post, pelo refinado senso estético e perseverança na busca dessas “lindezas”. E obrigado por nos presentar no dia internacional do fotógrafo. Abraços. José Sabino
Oi Sabino! Muito obrigado, você sabe que tem papel importante neste processo, desde suas aulas de zoologia na USP Ribeirão Preto quando nos conhecemos – eu como aluno e você como professor :-)
Abraços!