Número de cesarianas dobra no mundo e Brasil está entre líderes do ranking

Número de cesarianas dobra no mundo e Brasil está entre líderes do ranking

O parto cesáreo ou cesariana é um procedimento médico que pode salvar as vidas da mãe e do bebê, todavia, ele só deve ser realizado quando há indicação para tal. Entretanto, no mundo todo, foi registrado um aumento impressionante deste tipo de intervenção entre os 140 milhões de partos realizados anualmente.

Um artigo internacional divulgado na publicação The Lancet indica que o número global de cesarianas dobrou entre 2000 e 2015, saltando de 16 milhões (12%) para 29,7 milhões (21%). Isso significa que a cada cinco bebês nascidos no mundo, um dos partos foi cesáreo.

América Latina e Caribe são as regiões onde a incidência de cesarianas é mais alta, chegando a 44% de todos os partos. Por outro lado, em países pobres da África, apenas 4% dos nascimentos são cirúrgicos, o que muitas vezes, coloca em risco a vida da criança. A intervenção é muito mais frequente entre famílias de classe alta e em clínicas e hospitais particulares.

O Brasil só perde para a República Dominicana no ranking dos países latinoamericanos onde há prevalência de cesarianas, com um índice de 56%. Dados da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) apontam que, em 2016, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou 2.400.000 partos, destes, 1.336.000 foram cesáreas.

O estudo internacional analisou as taxas de 169 países, que representam os locais onde ocorrem 98% dos nascimentos mundiais. No Egito, os partos normais correspondem por apenas 37%, mas a grande “campeã” é Bangladesh, onde 65% das mulheres dão à luz através do método não-natural.

Para efeito de comparação, a taxa de cesáreas na Europa é de 25% e nos EUA 32,8%. A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que a situação já é vista como uma “epidemia“. De acordo com a entidade, na grande maioria dos partos não há identificação de fatores de risco.

Quando a mãe tem condições e não há complicações com a gravidez, o ideal é sempre o parto normal. A recuperação da mulher é mais rápida e há uma série de vantagens para a criança que, para começar, nasce exatamente no momento em que seu organismo está pronto e maduro para deixar o útero da mãe. Além disso, nenês que nascem de parto vaginal costumam ter menos complicações respiratórias e o contato com bactérias e fungos da região ajudam a colonizar seu intestino.

De acordo com a OMS, não existem evidências de que as cesáreas sejam minimamente benéficas quando mulheres ou bebês não enfrentam problemas importantes.

Os pesquisadores do estudo publicado na The Lancet fazem ainda um importante alerta não somente para mães e bebês, mas para os profissionais da área de saúde: com a atual frequência do uso de cesarianas, jovens médicos estão se tornando especialistas nesse tipo de intervenção, porém estão perdendo o conhecimento e a habilidade obstetrícia dos partos vaginais.

O artigo salienta que há um uso desnecessário do parto cesáreo. Ele é provocado, muitas vezes, pelo medo da mulher à dor ou por comodismo de alguns médicos, que agendam o procedimento e não precisam ficar horas esperando o nascimento natural da criança.

Este ano, a OMS lançou uma série de recomendações para os médicos em relação às mulheres grávida e ao estímulo ao parto natural.

Abaixo seguem algumas delas:

– comunicação efetiva entre prestadores de cuidados de maternidade e mulheres em trabalho de parto;
– cuidados de maternidade respeitosos – que se refere aos organizados e fornecidos a todas as mulheres de uma maneira que mantenha sua dignidade, privacidade e confidencialidade;
– técnicas manuais, como massagem ou aplicação de bolsas de calor, são recomendadas às grávidas saudáveis que solicitam alívio da dor durante o trabalho de parto, dependendo de suas preferências;
– o tempo da dilatação mais lenta da mulher não deve ser indicador de rotina para determinar se uma intervenção médica deve ocorrer para acelerar o trabalho de parto.

*O documento com as recomendações da OMS, em inglês, na íntegra pode ser lido neste link.

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Foto: Luma Pimental/unsplash

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.