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Nossos ‘heróis’ de ontem, nossos vilões de hoje


Outro dia, em uma conversa com o amigo André Leite, ele se dizia indignado porque a Avenida dos Bandeirantes, no Planalto Paulista, em São Paulo, é recortada por inúmeras alamedas que levam nomes indígenas. Aquilo me deixou curioso e, então, percebi que ele tem toda razão.

Se iniciarmos o caminho pela Avenida Ibirapuera – que ladeia o parque de mesmo nome -, veremos a seguir as alamedas dos Guainumbis, dos Araés, c, Guaramomis, Tupiniquins, Aicás, Anapurus, Nhambiquaras, Maracatins, Jurupis, Iraí, Aratãs,  Miruna, Imarés, Moaci, Pamaris, Ceci, Moema, Jurema, Arapanés e Jauaperi, entre outros.

Todos esses nomes são de origem Tupi e a maioria é de etnias que sucumbiram sob as botas dos tais “heróis” do desbravamento, os bandeirantes. Aí me deu vontade de escrever, aqui, neste blog, um pouco da história de alguns destes homens valentes que, cheios de “heroísmo” enfrentaram os “selvagens” e sangraram o chão desta terra que chamamos Brasil.

Bartolomeu Bueno da Silva, bandeirante do século XVIII, ganhou dos indígenas o nome Anhanguera, que quer dizer Diabo Velho. Não por ser astuto ou por valentia mas, sim, por enganar, roubar e matar centenas de índios.

Conhecido como um dos maiores bandeirantes do Brasil, Antonio Raposo Tavares ou Dito Velho, era tetraneto de índios Tupiniquins e Tapuias. Que ironia! Filho de Francisco Jorge Velho e de Francisca Golsalves de Camargo, antes de 1671 já perseguia, aprisionava e matava índios no nordeste do Brasil.

Por sua vez,  O Caçador de Esmeraldas, como ficou conhecido o bandeirante paulista Fernão Dias Pais Leme, mais conhecido como Fernão Dias, também perambulou por muitos lugares usando de mão de obra escrava indígena, com o intuito de, talvez, deixar para a posteridade seu “bom” nome. Manuel da Borba Gato – chamado apenas de Borba Gato – iniciou-se com ele, seu sogro, nas Bandeiras.

Todos estes “nossos heróis”, no caminho da fortuna, não mediram esforços para obter riqueza ceifando vidas inocentes.

Hoje, olhando para a situação do Brasil e de todas as etnias, percebo uma grande semelhança com o passado. Isto sem falar das missões jesuíticas que, em nome do senhor, escravizaram índios para a construção das missões.

Em homenagens duvidosas, demos seus nomes a estradas, rodovias, pontes e avenidas. Até esculturas públicas eles ganharam: em 1920, Victor Brecheret criou o Monumento às Bandeiras – para homenageá-los e, em 1963, foi inaugurada a horrenda estátua de Borba Gato no bairro de Santo Amaro, ambas em São Paulo.

E parece que nossos políticos herdaram de nossos “heróis” das Bandeiras, fome e ganância, com projetos de leis como a PEC 215, a instalação de usinas que mal produzem energia e destroem tudo à volta, empresas que matam rios e não são multadas. E ainda querem trocar o nome de uma estação de metrô – como se não existisse nada mais importante para fazer – para perpetuar o de um “bom pastor”.

São armadilhas criadas para dignificar o mal feito. Por estas e por outras continuo dizendo: INIMIGO DE ÍNDIO, É INIMIGO MEU!

Para ilustrar este post, escolhi a foto do cacique kaiapó Raoni, que lutou bravamente contra a construção da estrada MT 322/BR 080, que cortou ao meio o Parque Indígena do Xingu (hoje, Terra Indígena do Xingu, TIX). É nela que ele aparece, com sua força e confiança.

Pra mim, basta de tudo isso porque os índios são os verdadeiros donos desta terra!

Edição: Mônica Nunes

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Renato Sanchez
7 anos atrás

Aqui em Goiás O Anhanguera é herói estadual. A maior avenida da cidade se chama Anhanguera, existem Praças, estatuas, Bairros, estabelecimentos, etc. Ele que foi o maior escravizador e responsável pela morte da muitos povos e índios em Goiás. Assim não conotam os livros de histórias..

Glaucia Vaz
Glaucia Vaz
6 meses atrás

Pontos tristes que só mostram como a mentalidade colonialista, escravagista e racista são tão fortes em Goiás, estado que também adora venerar bandeirantes:
1- Caiado investe esforços em fazer com que o Hino de Goiás seja cantado nas escolas púnlicas. Hino que faz referência a um genocida de povos originários.
2- Poucos colegas de profissão falam sobre o conteúdo desse hino em sala de aula.
3- Sou de Catalão-GO, cujo nome dizem fazer referência ao tal Frei Antônio vindo da Catalunha, o qual acompanhava a bandeira do Anhanguera filho. O “catalão” ficou aqui na região para auxiliar na implementação de um arraial que pudesse receber o retorno da bandeira do tal Bartolomeu filho.
4- Na minha cidade, há os que se orgulham de fazer parte da família que era dona das terras em que, supostamente, o Anhanguera filho deixou uma cruz de madeira.
5- A tal da cruz foi disputada pela elite de Catalão e da Cidade de Goiás.

É deprimente.

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