Não leve um bolo transgênico

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Se você, como eu, não acredita que alimentos transgênicos podem ser consumidos sem danos à saúde e faz de tudo para evitá-los (inclusive deixar de comer pipoca no cinema porque, apesar do preço alto, é difícil acreditar que foi feita com milho orgânico), é bom ficar de olho nos produtos que contêm organismos geneticamente modificados (OGMs), mas podem passar despercebidos durante as compras e as refeições fora de casa.

Um exemplo disso é o fermento químico em pó, que há décadas está nos lares brasileiros e em nossas memórias afetivas do tempo que a casa dos nossos avós tinha sempre aquele cheirinho de bolo recém-saído do forno. Mas – quem diria! -, agora até o tradicional pozinho branco usado para fazer a massa crescer é transgênico, porque contém amido de milho modificado. Pode ser que você não tenha reparado, mas o triângulo amarelo com o “T” dos transgênicos está lá, num cantinho discreto da embalagem de praticamente todas as marcas do produto.

Sabe aquele bolinho de chocolate (como o da foto) que você pede para acompanhar um cafezinho na padaria, no intervalo do trabalho? Provavelmente, contém transgênico. E também o bolo que celebra o aniversário de toda a família, a tortinha salgada do meio da tarde e tantos outros quitutes que saboreamos em encontros sociais e breves pausas durante o dia. De pouquinho em pouquinho, se não cuidamos, vamos entupindo nosso organismo de transgênicos, sem nem perceber – e olha que não estou nem falando da broa, do bolo e de outras tantas delícias feitas de milho, que já desisti de consumir fora de casa há muito tempo.

Em geral, comer na rua fica mais complicado quando seguimos critérios desse tipo na nossa alimentação. Mesmo um restaurante vegetariano nem sempre oferece alimentos orgânicos, certo? É por isso que muita gente tem optado por cozinhar mais em casa, comer mais em casa e ainda levar comida caseira para o trabalho, para a escola, a academia etc.

Só que, para isso, é necessário ter um pouco de paciência nas feiras e nos supermercados e se dispor a ler os rótulos dos produtos. Sim! Sem medo de ser feliz.

Foi assim que, depois de uns dez minutos em frente à prateleira com centenas de potinhos plásticos de fermento químico em pó, descobri uma marca (a única, aliás) que não leva o “T” do terror. Não sou de fazer propaganda de empresas, mas, nesse caso, considero informação de utilidade pública. Há uma exceção, sim, embora não muito fácil de encontrar: o fermento em pó da Yoki usa fécula de mandioca no lugar do amido de milho e, por isso, não contém transgênicos.

É preciso lembrar que toda vez que compramos algo estamos dizendo ao fabricante: “Continue produzindo assim, desse jeito mesmo, que eu compro!”. Ou seja, “eu aprovo o que você faz”. Então, se queremos mais opções saudáveis e menos (ou nada) de produtos com OGMs, temos que ser firmes em nossas escolhas, por menor e mais insignificantes que possam parecer.

Qual a importância do fermento em pó? É só um pozinho branco, usado em pequena quantidade… Mas você já parou para pensar quantas vezes consome algum alimento que tem essa química na lista de ingredientes? Rejeitar os transgênicos é um ato de compaixão, de cuidado com as pessoas e com a Terra, uma atitude de resistência ao agronegócio que só caminha em direção a um buraco sem volta, sem ponto de retorno, sem luz no fim do túnel. Em outras palavras, é algo que deve ser feito sem ressalvas, sem exceções.

Ser um consumidor mais consciente é querer um mundo melhor para todos, e não amanhã, mas a partir de hoje. É pensar, refletir, ter um olhar crítico sobre as empresas e o que elas querem nos convencer a consumir. Com tanta descoberta tecnológica, tanto avanço na ciência, será que o fermento em pó não pode escapar de ser transgênico? Claro que pode! O que faz uma empresa optar por um ingrediente transgênico? O baixo custo, a praticidade? E a saúde da população e do planeta, não conta, não é importante?

Para mim, se uma empresa produz alimentos com ingredientes de qualidade ruim, só há um jeito de fazê-la mudar de comportamento: rejeitá-la. Simples assim. Eu rejeito, tu rejeitas, eles rejeitam e, daqui a pouco, de tanto ver o verbo ser conjugado por uma massa que cresce cada vez mais sem o fermento que ela produz, ou a empresa muda ou mudamos sem ela.

Bicarbonato de sódio + cremor tártaro

Para não depender apenas de uma marca, fiz uma rápida pesquisa na internet sobre possíveis substitutos do fermento químico em pó. Descobri algumas coisas curiosas que compartilho com você.

Em sites de culinária natural e alta gastronomia, há quem use uma mistura antiga de bicarbonato de sódio e cremor tártaro* no lugar do fermento químico em pó, na proporção de ¼ de colher de chá do primeiro para cada 1/2 colher de chá deste último. Procurei o tal cremor tártaro em alguns supermercados, mas não encontrei. Não sou a única com essa dificuldade, pois descobri cozinheiros que o substituem por ½ colherinha de suco de limão. Ah, e tem gente que diz usar somente o bicarbonato de sódio, com sucesso. Vou experimentar! E se você tiver alguma dica, por favor, compartilhe aqui, nos comentários! Obrigada.

*Cremor tártaro, segundo a explicação de um fabricante brasileiro, é um sal ácido obtido de resíduos salinos liberados durante a fermentação do vinho nas paredes dos tonéis.

Foto: Eliza Adam, via Photopin / Creative Commons

3 comentários em “Não leve um bolo transgênico

  • 3 de março de 2016 em 11:30 AM
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    Giu.. que bom que voltou a postar!! estava com saudades, ótimo artigo.

    Um abraço.

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  • 20 de maio de 2016 em 12:12 AM
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    Oi Giu! Acabei de ter uma aula com você, foi realmente muito legal saber de suas experiências e de muitos aprendizados! Eu amei e To adorando ler seus artigos Tbm! Me conte se suas receitas tem dado certo apenas com bicabornato de sódio para crescerem! Eu fiz uma vez e deu certo porém acho que apenas alguns ingredientes em ação com o bicarbonato que faz crescer por ex o chocolate! Mas talvez,por exemplo, milho ou baunilha com o bicarbonato não cresça! Compartilha sua experiência Pfv Pq eu amo cozinhar e quanto mais natural melhor! Obrigada grande beijo!!

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Giuliana Capello

Jornalista ambiental e permacultora, escreve sobre bioconstrução, arquitetura e design sustentáveis, economia solidária, consumo consciente, alimentação orgânica, maternidade e simplicidade voluntária. É autora do livro Meio Ambiente & Ecovilas (Editora Senac São Paulo).