Morte de 200 mil antílopes no Cazaquistão foi provocada por aumento da temperatura do planeta

Morte de 200 mil antílopes no Cazaquistão foi provocada por aumento da temperatura do planeta

Em 2015, mais de 200 mil antílopes morreram no período de apenas três semanas na região central do Cazaquistão, na Ásia. Os corpos foram encontrados numa área aproximada de 20 km2. Os animais pareciam ter morrido de forma inesperada. Filhotes estavam ao lado das mães e tudo indicava que estavam ali se alimentando. Os antílopes saiga (Saiga tatarica) migram justamente para os estepes do Cazaquistão na época de dar à luz.

Na época, os cientistas apontaram como causa da morte uma septicemia (infecção generalizada) hemorrágica provocada pela bactéria Pasteurella multocida do tipo B.

Agora, um novo estudo, divulgado recentemente na revista Science Advance afirma que a proliferação rápida e letal da bactéria entre os antílopes foi causada pelo aumento fora do normal da umidade e da temperatura no local. As mortes em massa aconteceram no mês de maio, e dias antes da tragédia, a temperatura chegou aos 37oC e a umidade em 80%, algo completamente incomum para a Ásia Central.

Durante este evento, estima-se que 60% da população dos Saiga tatarica tenha morrido. Antes disso, a espécie já era considerada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) criticamente ameaçada de extinção.

Segundo os pesquisadores do estudo, entre eles, Richard Kock, do Royal Veterinary College, de Londres, que analisou os antílopes mortos no Cazaquistão, em 2015, a bactéria Pasteurella multocida é normalmente encontrada no nariz desta espécie de animal. Em temperaturas normais, ela é inofensiva. Todavia, com o calor fora do normal, ela acaba entrando na corrente sanguínea e aí, torna-se letal.

Houve dois outros episódios de morte em massa de antílopes no Cazaquistão. Um deles em 1981, quando, novamente, em poucos dias, 70 mil indivíduos morreram. E em 1988, mais 200 mil apareceram mortos inesperadamente.

Ao analisar a temperatura nestes dois anos, os pesquisadores conseguiram estabelecer um padrão: em todos os eventos, houve um aumento anormal da temperatura.

Infelizmente, os antílopes não são os únicos animais ameaçados por uma mortandade em massa causada pelas mudanças climáticas. Outras espécies correm o mesmo risco.

Em 2016, foi registrada uma pandemia de branqueamento que afetou corais do mundo inteiro, adoecendo com especial gravidade a Grande Barreira de Coral da Austrália, o maior conjunto de recifes do mundo. No mesmo ano, os corais nas Ilhas Maldivas também ficaram brancos.

O fenômeno foi descrito como uma catástrofe ambiental silenciosa e de grandes proporções. Um estudo publicado no site do periódico Nature revelou que 91% dos recifes australianos foram afetados em alguma medida pela síndrome.

O branqueamento ocorre quando algum estresse, normalmente térmico, faz o coral expulsar as algas microscópicas que vivem em simbiose com ele. Essas algas, chamadas zooxantelas, são a principal fonte de alimento do coral e lhe dão cor. Quando o mar esquenta demais, elas vão embora. O coral passa fome e fica mais suscetível a doenças. Em muitos casos ele morre.

O primeiro evento de branqueamento de corais foi registrado pelos cientistas em 1998, quando aproximadamente 15% dos recifes ao redor do mundo morreram devido ao aquecimento do oceano. Naquele ano, descobriu-se que a tragédia foi provocada pelo El Niño, fenômeno causado pela desaceleração dos ventos alísios, que sopram na região do Equador. Sem eles, o calor se intensifica nos oceanos, já que as águas não se movimentam.

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Foto: Darwin Initiative/Creative Commons/Flickr

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.