Morre o argentino Fabián Tomasi, símbolo de resistência e luta contra os agrotóxicos

Todos os camponeses e suas familias retratados pelo fotógrafo argentino Pablo Piovano tocam profundamente, tanto no ensaio fotográfico como no documentário O custo humano dos agrotóxicos. Durante dois anos, o profissional percorreu as províncias de Missiones, Córdoba, Entre Rios e Chaco para registrar os efeitos dos venenos utilizados nas plantações naquele país. Um ensaio do horror sobre o qual escrevi no auge dos debates no Congresso e que viralizou nas redes.

Fabián Tomasi estava entre as vítimas fotografadas. Ele morreu na sexta-feira, 7/9, aos 53 anos, por conta de uma polineuropatia tóxica severa, resultado da exposição contínua ao glifosato e ao endosulfan, que pulverizava na região a bordo de um pequeno avião, sem saber o risco grave que corria.

Fabian descobriu a doença há cerca de dez anos. O distúrbio neurológico com o qual foi diagnosticado prejudica o funcionamento dos nervos periféricos, provocando perda de massa muscular e dores terríveis nas articulações, que limitaram rapidamente sua mobilidade. Além disso, ele não podia mais ingerir alimentos sólidos. Muita tristeza e muita dor.

Mas, em vez de se tornar vítima passiva da situação, ele decidiu tornar pública sua história e denunciar os perigos do uso de tais substâncias por meio de entrevistas – na última que concedeu, em julho, enfatizou os perigos letais do glifosato, utilizado para eliminar ervas daninhas das plantações e sentenciou: “Vai fazer com que não reste ninguém” -, atos públicos, manifestações e também se deixando fotografar. Ele não só está no ensaio e no documentário de Piovano, como também no livro Envenenados, do jornalista Patricio Eleselgui, argentino.

Morreu sem vencer a batalha contra a indústria do veneno, contra a Monsanto mais especificamente, mas deixou sua marca nessa luta.

Há mais de oito mil processos contra essa gigante dos agrotóxicos, somente nos Estados Unidos. Foi lá, mais precisamente na Califórnia, que, em agosto, ela teve sua primeira derrota na Justiça. Tardou, mas não falhou.

O jardineiro Dewayne Johnson, que contraiu câncer por causa do uso de venenos Round Up e Ranger Pro, produzidos pela Monsanto, no jardim da escola onde trabalhava, não queria morrer sem receber indenização para proteger sua família na sua ausência. Também queria contribuir para o início de uma nova página na história dessa indústria, que colecionou tanta impunidade. Ele venceu a Monsanto, que foi condenada a pagar 289 milhões de dólares – o equivalente a 1,1 bilhão de reais – de indenização. Claro que ela ainda pode recorrer, mas este é um grande marco, que pode alterar o resultado de todos os outros processos movidos contra a empresa.

Contamos toda a história de Johnson, antes e depois da vitória no Tribunal.

E no Brasil…

Enquanto isso, o uso indiscriminado de agrotóxicos continua pelo mundo; ainda muito forte no Brasil e na América Latina. Mas o sofrimento e a morte de Fabio Tomasi e de todas as pessoas – adultos e crianças – que, como ele, não tiveram orientação, nem foram informadas sobre os reais riscos da manipulação e da proximidade desse venenos, não podem ser em vão. Chega de prejudicar a saúde de quem planta e de quem come!

Como Tomasi e Johnson – símbolos de resistência da luta por uma agricultura sem veneno – a sociedade deve lutar para proibir o uso dessas substâncias sabidamente tóxicas e apoiar todos os que estão processando a Monsanto. É fato que existem caminhos alternativos, com base na agroecologia, que dariam conta de alimentar todos os habitantes do planeta.

No Brasil, a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRa)PL 6.670/2016, está em tramitação no Congresso, na Câmara dos Deputados. Ela representa a esperança de mudança e a possibilidade de se neutralizar o Pacote de Veneno que os deputados federais (alguns, empresários do agronegócio dos agroquímicos) querem aprovar. Só ela pode garantir o crescimento da agricultura sustentável, garantindo saúde e segurança alimentar a todos os brasileiros.

Como participar? Existe a Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida que atua em várias frentes: desde o ativismo puro até capacitação em agroecologia. Também seguem a petição online da campanha Chega de Agrotóxicos que tem o apoio de Bela Gil e diversos chefe de cozinha estrelados, além de ONGs como o Greenpeace Brasil.

Abaixo, outras notícias publicadas, aqui, no Conexão Planeta a respeito dos agrotóxicos:
Justiça brasileira suspende registro de três tipos de agrotóxicos, entre eles, o glifosato (agosto 2018)
PL do Veneno é aprovada em Comissão Especial e, agora segue para o Plenário (junho 2018)
Ruralistas contratam publicitario para criar campanha em defesa dos agrotóxicos e do PL do Veneno (junho 2018)
Manifesto contra a ‘Lei do Veneno’ recebe apoio de dezenas de entidades cientificas (maio 2018)
Sociedade civil se mobiliza contra projeto de lei da “farra” dos agrotóxicos (maio 2018)

Por fim, notícia do Observatório do Clima focando nas eleições: quem serão os candidatos que lutam contra os agrotóxicos? (setembro 2018)

Fonte: Greenpeace Brasil, Le Monde, Globo Rural

Fotos: Pablo Paiovano

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.