Morre Lonely George: apenas um caracol, mas o último de sua espécie

Morre Lonely George: apenas um caracol, mas o último de sua espécie

Das mais de 750 espécies de caracóis terrestres descritas nas ilhas do Havaí, Achatinella apexfulva foi a primeira delas. Já em 1787, era possível encontrar registros do pequeno caracol, que vive em árvores, se alimentando dos fungos delas.

Antes abundantes nas ilhas havaianas, pouco a pouco, esses pequenos seres invertebrados foram desaparecendo. Alguns dizimados por espécies invasoras, como ratos que chegaram ao local com navios, e camaleões, vendidos como animais de estimação. Além disso, a perda de habitat (vegetação) provocada pela introdução de porcos, cabras e veados contribuiu para a morte dos caracóis.

Em 1997, os últimos dez indivíduos da espécie Achatinella apexfulva – entre eles, George -, foram levados para um laboratório da Universidade do Havaí, em uma tentativa desesperada de salvá-los da extinção. Tentou-se estimular a reprodução dos animais, mas foi inútil. Nove deles morreram e sobrou apenas George, que ficou então conhecido, mundialmente, como Lonely (Solitário) George.

Seu nome era uma homenagem a outro símbolo da extinção de espécies no planeta: a tartaruga George, nas Ilhas Galápagos, também o último sobrevivente entre os seus pares. Ele morreu com mais de 100 anos, em 2012.

Estima-se que George, o caracol, tivesse 14 anos.

“Embora de linhagens evolutivas imensamente diferentes, esses Georges viveram vidas simples em cativeiro. Ambos levaram silenciosamente milhões de anos de evolução – todo o seu genoma – para o esquecimento”, lamentou a equipe do Department of Land and Natural Resources do Havaí, em sua página no Facebook.

“Infelizmente, o seu falecimento é também um prenúncio do que está por vir para os nossos restantes Kahuli (caracóis de árvore), se mais nada for feito urgentemente para os proteger de espécies invasoras e alterações climáticas. Muitos dos caracóis terrestres restantes da ilha estão enfrentando uma extinção iminente”.

Acredita-se que, das mais de 750 espécies desses animais, então existentes no Havaí – uma das populações mais diversas do planeta -, 90% já desapareceram.

Por causa de suas conchas coloridas, no passado, os caracóis havaianos eram chamados de joias da floresta. O folclore das ilhas diz que eles podem até cantar.

Infelizmente, o canto de mais um deles foi silenciado.

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Fotos: The Snail Extinction Prevention Program (SEP)

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.