Monsanto terá de pagar indenização de US$289 milhões a jardineiro com câncer terminal


O jardineiro californiano DeWayne Johnson, de 46 anos, pai de três filhos, acabou de abrir um precedente histórico. Ele ganhou uma ação contra a fabricante internacional de sementes, transgênicos e agroquímicos Monsanto, comprada pela Bayer este ano.

Conforme mostramos aqui, neste outro post, o americano foi a primeira pessoa física a entrar com um processo contra a gigante multinacional.

Em 2014, Johnson foi diagnosticado com um linfoma não-Hodgkin. Apesar do tratamento, em novembro do ano passado, com lesões em mais de 80% do corpo, ele foi desenganado pelos médicos, que afirmaram que o câncer está em fase terminal.

O aparecimento da doença foi atribuído ao uso constante do herbicida, a base de glifosato, Roundup, que ele aplicava nos jardins das escolas onde trabalhava.

Pois ontem (10/08), a corte de San Francisco, onde aconteceu o julgamento de durou quase um mês, decidiu que a Monsanto é culpada ao não ter alertado Johnson dos possíveis efeitos colaterais à saúde advindos da exposição ao produto. O júri também argumentou que a empresa teria agido “com intenção criminosa e opressão”.

Os advogados de DeWayne Johnson alegaram que apesar de todas as evidências científicas apresentadas por estudos e acadêmicos sobre os males causados pelo uso do herbicida, a multinacional simplesmente preferiu as ignorar.

Ao declarar a Monsanto culpada pelo câncer do jardineiro, o júri destacou que a companhia foi “negligente e sabia dos perigos do agrotóxico que comercializava”.

“Finalmente pudemos mostrar ao júri documentos secretos e internos da Monsanto que provavam que ela sabia há décadas que … o Roundup poderia causar câncer”, disse o advogado de Johnson, Brent Wisner, em comunicado à imprensa. Ainda segundo ele, o resultado envia uma “mensagem à Monsanto de que seus anos de fraude sobre o Roundup acabaram e que eles devem colocar a segurança do consumidor em primeiro lugar, acima dos lucros”.

Já Johnson veio à público dizer que a vitória é muito maior do que o ganho de causa de seu julgamento. Ele espera que se torne um marco histórico e estimule outros milhões de casos de vítimas de agrotóxicos a procurarem por justiça e com isso, haja um debate nacional sobre os malefícios à saúde provocados pela utilização dessas substâncias químicas.

Depois do anúncio do veredicto, a empresa informou que irá recorrer da decisão da corte.

Glifosato: um veneno cancerígeno nas prateleiras do mundo todo

O herbicida a base de glifosato é registrado em 130 países e tem seu uso aprovado para mais de 100 cultivos diferentes. No Brasil, a quantidade considerada aceitável na lavoura é 5 mil vezes maior do que na Europa, conforme relatamos aqui, nesta outra reportagem sobre agrotóxicos no país.

Em um relatório publicado em 2015, a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou que o glifosato pode causar câncer em animais tratados em laboratório e que é um potencial causador de alterações na estrutura do DNA e cromossomos das células humanas.

Em novembro de 2017, a licença para o glifosato foi estendida por mais cinco anos na Europa, apesar de uma petição popular, com a assinatura de mais de 1,3 milhão de pessoas, que pedia a proibição do agrotóxico no continente.

Nos próximos meses, outro julgamento começará, desta vez na cidade de St. Louis, no Missouri, contra o Roundup. De acordo com os advogados de defesa de Johnson, outras 4 mil ações similares estão sendo analisadas nos Estados Unidos.

Leia também:
Governo aprova uso de agrotóxico extremamente tóxico
Especialistas denunciam “mito” sobre pesticidas serem essenciais para alimentar humanidade
Abelhas selvagens estão desaparecendo por causa do uso de pesticidas
Trichoderma defende, ataca e dribla no time dos orgânicos
Farra dos agrotóxicos: teste revela que 60% dos alimentos está envenado

Fotos: reprodução Facebook (abertura) e Mike Mozart/Flickr (RoundUp)

Deixe uma resposta

Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.