Misteriosas raposas

Já passa da meia-noite e Kerry e Stacie ainda não voltaram para a toca. Uma leve brisa promete que a madrugada será longa e fria, mas nada que impeça seus dois filhotes de explorarem o ambiente desconhecido que os rodeia, entre arbustos secos e pedras.

Ali, longe da vista dos pais, brincam entre si, correm e saltam, entram e saem freneticamente da toca no meio do pasto coberto por braquiárias, e entre uma estripulia e outra, o maior deles insiste em mastigar uma rã que Kerry trouxe horas antes.

Há cerca de três meses estes dois filhotes de raposa-do-campo (Lycalopex vetulus) nasceram. E esta toca é provavelmente a terceira que frequentam nesta região de fazendas, rebanhos de gado nelore e muito capim, no sudeste de Goiás.

Numa área dominada há séculos pela atividade pecuária, este pequeno canídeo, única espécie exclusivamente brasileira, aprendeu a sobreviver entre tantos outros carnívoros como os lobos-guará, cachorros-do-mato e sussuaranas. No entanto, sua existência se torna frágil diante das atividades humanas, e não muito longe dali certamente Kerry ou Stacie têm que desafiar alguma estrada ou cachorro doméstico em busca de alimento.

Sobre a foto
Ela foi feita às 5h30, após espera de 12 horas, ao longo da madrugada, para acompanhar o comportamento e o cuidado parental entre adultos e filhotes dessa espécie. Usei câmera Nikon D4S, com lente 400 mm.

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Adriano Gambarini

Geólogo formado pela USP e especializado em Espeleologia, é fotógrafo e escritor desde 1992 e um dos mais ativos profissionais na documentação de projetos conservacionistas e etnográficos da atualidade. Autor de 13 livros fotográficos, dois de poesia e centenas de reportagens publicadas em revistas nacionais e estrangeiras. Ministra palestras e encontros sobre fotografia, conservação e filosofia de viagem.