Ministério do Meio Ambiente exclui mapas de áreas de conservação de sua página na internet

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A proteção de ecossistemas em perigo, como a Mata Atlântica, na foto acima, que hoje ocupa menos de 10% do seu território original, está ainda mais ameaçada. Sem mapeamento, é praticamente impossível preservar a biodiversidade no país. Mas, agora, qualquer ação realizada em uma área sensível de conservação, não será facilmente detectada.

Isto porque uma série de mapas de áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade no país foi apagada do site do Ministério do Meio Ambiente (MMA), há mais ou menos um mês. E, segundo funcionários dessa pasta (que não se identificaram para o site Direto da Ciência para evitar represálias), o pedido foi feito pela sua secretária executiva, Ana Maria Pellini. E não foram só os mapas que sumiram: reportagens produzidas pelo seu departamento de comunicação também foram excluídas.

Creio que não é preciso explicar muito sobre o que isto representa, mas vamos lá! Essas imagens eram a base para a criação de novas Unidades de Conservação, material importantíssimo para orientar pesquisas e ações de preservação.

Elas indicavam áreas com ecossistema em extinção ou que abrigavam espécies endêmicas – só existem em determinados locais – e que, por isso, precisam de proteção. Orientavam técnicos do ministério e do ICMBio (Instuto Chico Mendes de Conservacao e Biodiversidade) e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) em ações de fiscalização, como também de manejo e uso da terra.

Mas, a julgar pelas medidas que o ministro Ricardo Salles vem tomando, desde que assumiu a pasta, o sumiço do hotsite faz todo sentido. Quer dizer, vem corroborar o estilo de gestão de Salles.

É bom lembrar que o ministro tem, em seu currículo, a alteração de um mapa na Área de Proteção Ambiental Várzea do Rio Tietê – irregularidades na elaboração e aprovação de um plano de manejo – no tempo em que era secretário de meio ambiente do estado, na gestão Alckmin, para beneficiar mineradoras, como o site The Intercept Brasil registrou. Por isso, foi processado e condenado pela Justiça de São Paulo, quinze dias antes de ser convidado por Bolsonaro para assumir o ministério. Ele recorreu, claro. E tem certeza de sua vitória.

Não duvido que o convite do presidente para que Salles assumisse o Ministério do Meio Ambiente tenha sido feito justamente por causa de sua ação criminosa em São Paulo. Vejam só como sua experiência está sendo útil em sua gestão atual.

A assessoria de imprensa do MMA justificou que a página foi tirada do ar para receber ajustes, mais especificamente na parte onde estavam os mapas de áreas prioritárias para conservação, uso sustentável e repartição de benefícios, por causa de um “sombreamento entre biomas“, para se evitar “a disseminação de informação equivocada”. O sombreamento entre biomas acontece quando a marcação de um bioma pertence a outro ecossistema. Como se tivesse uma mancha errada no desenho final.

“Informamos que os ajustes já estão sendo realizados e encontram-se em fase final. Tão logo seja finalizado, as informações serão republicadas”, respondeu o Meio Ambiente ao jornal. Ainda com erro de concordância. Poxa, mas se eram só ajustes, bastava tirar apenas a parte que precisava deles, não?

As informações sobre as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade do país – ou seja, as mais sensíveis – não estão mais à disposição do público. É a falta de transparência do Governo Bolsonaro, mais uma vez dando as caras: recentemente, os dados que justificam a Reforma da Previdência proposta por Paulo Guedes foram colocadas em sigilo. Assim é este governo, assim é a gestão de Salles que, esta semana, nomeou militares para assumir a presidência e cargos de direção do ICMBio, o Instituto que leva o nome do ambientalista que, para Salles, não faz diferença alguma saber quem é: Chico Mendes.

Em entrevista para a Globo News, esta semana, o ministro do meio ambiente disse que “a época de tantas pesquisas, tantos seminários, tantos congressos sobre o mar e o meio ambiente acabou”. Também destacou que a prioridade de seu ministério é reorganizar o funcionamento das UCs. Estamos vendo.

Tudo o que está acontecendo no Ministério do Meio Ambiente é muito grave.

Foto: Ernestro Castro / Ilustração: reprodução de página do hotsite tirado do ar

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.