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Minha casa, seu lixo!

minha casa, seu lixo

Vamos falar de lixo? Ou melhor, da complicada relação humana com a natureza? Penso nisso quase todos os dias por presenciar descasos e crimes ambientais frequentes em meu trabalho como fotógrafo de natureza.

Meu foco é a biodiversidade dos ambientes terrestres, porém, tenho explorado a fotografia, mesmo que superficialmente, no oceano, e ficado fascinado pela variedade de espécies, formas e cores. Em um mergulho no belo mar das Ilhas Canárias, na costa da África, um pequeno detalhe me chamou a atenção. Passei de feliz, com o até então excelente mergulho, para reflexivo sobre nosso tratamento com o planeta.

Como podemos ver nas pesquisas científicas noticiadas na mídia, os animais não conseguem perceber a diferença entre lixo e os elementos naturais que normalmente encontram no meio em que vivem. Muitos desses animais, por serem altamente resilientes, conseguem adaptar-se relativamente bem, como é o caso desse simpático peixinho popularmente conhecido como Maria-da-toca (Parablennius pilicornis), que adotou uma garrafa como sua casa.

Porém, muitos outros animais não têm tanta sorte. São milhões de toneladas de lixo jogadas nos oceanos todos os anos e, frequentemente, recebemos notícias alarmantes. Tartarugas que confundem sacolas com águas-vivas, aves comendo tampas de embalagens e baleias com estômagos cheios de lixo são apenas alguns exemplos de histórias de animais fatalmente afetados. Bastam alguns minutos de pesquisa na internet para encontrar diversos relatos. Imagino, então, toda a infinidade de casos, nos imensos oceanos do planeta que não são documentados.

Recentemente li o artigo “The Best Way to Deal With Ocean Trash” (“A melhor forma de lidar com o lixo no oceano”) no site da National Geographic americana, que alertava sobre os impactos do lixo no ambiente marinho. A frase de abertura do texto escrito pela jornalista Laura Parker, me chamou a atenção: “Os resíduos de plástico dobram a cada década. O que acaba nos oceanos é quase que impossível de limpar”¹.

Mas… e aí? Então não há solução?

Após citar entrevistas de cientistas com ideias mirabolantes envolvendo tecnologias avançadas, a jornalista conclui o artigo dizendo que a forma mais eficiente de solucionar o problema é fazer com que as pessoas parem de jogar lixo nos rios e nos oceanos. Mas, até que ponto estamos dispostos a nos comprometer com isso?

Falar em redução de resíduos, obsolescência de produtos e reciclagem mexe com grande parte do sistema no qual nossa sociedade está enraizada. Uma luta desigual entre o grande poder do capital contra a consciência de que estamos colocando em perigo o nosso próprio futuro.

Aos poucos, vamos nos tornando como o pequeno peixinho que habita a garrafa descartada em seu ecossistema, tendo que conviver com um ambiente cada vez mais impróprio, tentando adaptar-se às mudanças no planeta, muitas delas desencadeadas ou aceleradas pela própria humanidade. A pergunta é: sempre conseguiremos nos adaptar?

Percebo uma preocupação cada vez maior sobre o assunto. Situações pontuais me fazem acreditar que ainda podemos reverter a situação, como o anúncio do governo brasileiro sobre seu apoio à campanha da ONU “Mares Limpos”, que segundo noticiado, reforça o compromisso do país em desenvolver o Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar e apoiar a criação do Santuário das Baleias do Atlântico Sul e de Áreas Protegidas Marinhas.

Outras situações ainda mantém meu otimismo. As crianças de hoje estão muito mais conscientes do que as de minha geração. Uma semana após meu encontro com o peixinho, eu estava com meu primo e sua família em uma viagem de carro. Uma das crianças, a mais nova, abriu a janela para jogar um papel pela janela. A filha mais velha, com seus “longos” 8 anos de experiência na questão, imediatamente gritou para que o irmãozinho não fizesse aquilo, pois precisamos cuidar da natureza para poder sobreviver. Confesso que uma gotinha de esperança inundou meu coração.

Acho que a solução pode estar em nós mesmos, seja envolvendo milhões de pessoas, com grandes campanhas ou apenas fazendo a nossa parte, educando nossos próprios filhos a serem pessoas melhores para um mundo do qual precisamos que esteja saudável para continuarmos vivos. E aí, topa!?

*Aqui uma matéria com vídeo sobre a minha fotografia que saiu na BBC Brasil

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