Meu Quintal: lá, as crianças ganharam autonomia e liberdade, do lado de fora

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Em setembro, convidamos leitores a nos contar histórias de escolas, instituições, espaços para a infância que estão trabalhando para que a relação entre criança e natureza aconteça. Nossa intenção foi conhecer mais iniciativas, incentivar os leitores a contá-las e divulgá-las aqui. Pois, hoje, compartilhamos uma das muitas histórias inspiradoras que chegaram até nós.

quintal2Quando a professora Fernanda Lopes pensou em um projeto para trabalhar com brincadeiras tradicionais e o brincar livremente e sem brinquedos, não imaginava que o caminho que percorreria com seu grupo de crianças de 1 ano seria outro do inicialmente imaginado.

Assim, em um belo dia, as crianças foram levadas para o quintal do Núcleo de Educação Infantil Municipal Albert Sabin, no Guarujá/SP. E, de cara, o fato de estarem do lado de fora da escola – inédito para a maioria – causou reações muito rápidas. Elas se encantaram com as folhas caídas no chão, os raios do sol batendo na parede, as borboletas, as poças d’água que se formaram depois da chuva. Ao ver a atitude dos pequenos, a professora percebeu que sua ideia inicial era bastante restrita frente às descobertas das crianças no espaço da escola e em contato com a natureza.

A área externa é grande, mas, até então, não era utilizada totalmente. As gestoras da escola – Ivoneide e Vanessa – apoiaram a ideia da Fernanda e logo deram início a um plano de ação para que as crianças pudessem aproveitar esse espaço da melhor – e mais proveitosa – forma. O primeiro passo foi promover um mutirão de limpeza e organização com a participação das famílias e da comunidade. Isso foi fundamental para tornar o espaço seguro e acessível para os pequenos e, em seguida, o projeto ganhou o nome de Meu Quintal.

O espaço ganhou horta, floreiras, redário (espaço para redes) e o acesso às árvores frutíferas ficou livre para que as crianças pudessem explorar mais este espaço com autonomia. Elas colhem amoras, brincam com o coelho, conversam com as árvores e com os amigos, livremente.

A professora ficou espantada ao identificar que grande parte dos conteúdos propostos para a educação infantil surgia e se realizava de maneira natural e espontânea do lado de fora.

quintal1As crianças  brincaram e sentiram as diferenças entre o lado de dentro e o lado de fora ao observar um coco que havia caído no quintal. Carregaram galhos pesados e outros leves. Para conseguir pular as raízes das árvores e colher frutas no pé tiveram que pensar em estratégias e experimentar as possibilidades do próprio corpo. O corpo cresceu e muito enquanto pulavam na lama, caminhavam sobre o terreno com suas intervenções naturais (galhos, raízes, diferentes elevações na terra). As crianças observaram lagartas, seguiram trilhas de formigas, pegaram minhocas nas mãos. A natureza inspirou cantorias, contações de histórias e brincadeiras.

A participação das famílias não se restringiu às ações estruturais do projeto. Hoje, pais e mães relatam, todos os dias, as experiências incríveis que seus filhos vivem com a natureza fora dos muros da escola.

Veja que interessante a transformação que aconteceu nessa escola a partir da percepção e do desejo de uma professora de ir além do que estava posto! Ouvir as crianças foi fundamental para modificar o planejamento escolar e possibilitar que elas se desenvolvam brincando com a natureza.

Muitas vezes as escolas possuem espaços externos incríveis que só precisam ganhar visibilidade (tanto dos adultos quanto das crianças). E quantas dicas os pequenos não nos dão diariamente sobre essas possibilidades, não? É só reparar.

Fotos: Fernanda Lopes

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Ana Carol Thomé

É pedagoga, especialista em psicomotricidade e educação lúdica. Participa de diversas formações sobre primeira infância, brincar e arte para crianças e coordena o programa Ser Criança é Natural (que dá nome a este blog), do Instituto Romã, que incentiva o contato das crianças com a natureza. Organiza a ação Doe Sentimentos e acredita no poder da infância e que o mundo pode ser melhor.