#Masks4All: na República Tcheca, movimento incentiva produção e uso de máscaras de proteção caseiras e combate ineficácia do governo

Em inúmeros países – principalmente os que não têm o costume de adotar mascaras de proteção contra a poluição -, evitar usar máscaras contra o contágio por coronavírus tornou-se quase um mantra. Isto porque não existe disponibilidade para a população e elas devem ficar restritas para os profissionais que trabalham em hospitais e prontos-socorros, além dos funcionários de estabelecimentos considerados essenciais, como mercados e farmácias.

É o caso da República Tcheca, que – como outros países – sofreu muito com a escassez de equipamentos de proteção, como máscaras e respiradores. Mas, em 14 de março – depois de duas semanas do primeiro caso de COVID-19 confirmado -, o palestrante, escritor e influenciador de mídia social Petr Ludwig produziu um vídeo educativo sobre a importância de usar máscaras, mas não com o apelo de o usuário proteger a si mesmo, mas de proteger os outros. Muito empático.

Todos nós, afinal, podemos ser contaminados e não apresentarmos sintomas da doença, mas, mesmo assim, transmitir o vírus. Para embasar sua fala, Ludwig citou estudo de pesquisadores da Universidade de Cambridge, que concluiu que máscaras cirúrgicas são três vezes mais eficazes do que máscaras caseiras. Porém, recomendava o uso destas como último recurso, ou seja, na falta de máscaras cirúrgicas.

Pouco mais de uma semana depois, em 22/3, o vídeo já tinha 560 mil visualizações e havia sido compartilhado e promovido por muitos outros influenciadores tchecos. Foi, então, que algo interessante aconteceu.

As máscaras cirúrgicas, oferecidas pelo governo, se tornaram cada vez mais raras. E, em dado momento, os hospitais foram para as mídias sociais procurar voluntários que pudessem costurar máscaras caseiras, de tecido, para os profissionais já que seus estoques estavam acabando.

Em uma demonstração de solidariedade sem precedentes, inúmeras pessoas se mobilizaram para produzir máscaras, não apenas para os hospitais, mas para todos os tchecos. Fizeram isso por conta própria, sozinhas, ou se juntaram em coletivos.

Costuraram à mão ou em máquinas de costura domésticas. Mas, em pouco tempo, um batalhão de gente se envolveu nesse movimento: cidadãos, companhias de teatro, organizações sem fins lucrativos, pequenas empresas. Também confecções e fabricas de roupas de cama e acessórios redirecionaram seus esforços para a produção de máscaras de tecido, em tempo integral.

Todos os cidadãos, os hospitais, as casas para idosos, os policiais, os bombeiros, os funcionários de mercados, farmácias, entre outros, receberam máscaras caseiras. Quem produzia, oferecia para os vizinhos, os amigos, os moradores da sua rua… Em algumas cidades, foram criadas áreas chamadas de “árvores de máscara” onde foram colocadas máscaras extras disponíveis para que os que ainda não tinham sua máscara de proteção pudessem pega-la.

À medida que mais e mais pessoas saíam às ruas e às mídias sociais com máscaras, em 17 de março, na coletiva de imprensa diária do governo, todos os membros usavam máscaras. Em 18 de março, o governo anunciou que era obrigatório usar algo que cubra parte de sua boca e nariz ao sair de sua residência – como uma máscara caseira ou um cachecol. Uma hipótese sobre o motivo pelo qual o governo esperou tanto tempo para fazer isso é que seria extremamente impopular ordenar máscaras se elas não pudessem fornecê-las. Uma vez que quase todos fizeram a sua própria, a diretiva ficou muito mais fácil de implementar.

O entusiasmo da máscara tcheca provavelmente é alimentado por sua raiva contra o governo, que não conseguiu proteger seus cidadãos. Fazer suas próprias máscaras é uma maneira de compensar a falta de ação do governo e tomar o assunto em suas próprias mãos. Muitos foram muito criativos nessa tarefa e proporcionaram humor e leviandade nesse momento desafiador (máscaras para brinquedos, bondes, estátuas).

“Eu te projeto, você me protege”

Assim foi criado o movimento Masks4All (máscaras para todos, em tradução livre), que incentiva a produção de máscaras de proteção caseiras para driblar a falta do produto em qualquer lugar do país. Usar máscara está entre as orientações que podem ajudar a evitar a transmissão da COVID-19, junto com “ficar em casa”, “lavar as mãos sempre” e “usar álcool em gel”.

Rapidamente, uma onda de tutoriais em vídeo invadiu o YouTube, ensinando como fazer uma boa máscara facial de tecido, e incluíam dicas sobre materiais, ajustes, acabamento etc. Celebridades exibiram suas máscaras caseiras nas redes sociais e cantores populares gravaram uma música sobre o movimento lindo que os cidadãos criaram, enfatizando que “usar máscara é ser responsável em relação aos outros e não espalhar o vírus”.

Grupos se organizaram e lançaram um site para coordenar os trabalhos de costura e de distribuição, incluindo um mapa que indica onde podem ser encontradas máscaras extras.

Também foi criado um grupo no Facebook – Czechia Sews Masks (Česko šije roušky) -, que reúne cerca de 33 mil pessoas e oferece dicas e truques sobre como fazer a máscara, além de publicar fotos de todas as máscaras criadas com este movimento. Um acervo especial.

No site Masks 4 All, o grupo se define como Movimento para Uso de Máscaras Domésticas como Equipamento de Proteção Crítica contra Covid-19 e tem um slogan bastante simpático: “Eu te protejo, você me protege”. E, assim, ambos estao seguros.

Para defender e disseminar essa ideia para o mundo todo também – nos convidando a fazer o mesmo -, eles produziram um vídeo que garante que o país está conseguindo conter o avanço do coronavírus com elas, inclusive com depoimentos de médicos e especialistas, que você pode assistir no final deste post.

Claro que, como já sabemos, as máscaras caseiras são parcialmente eficazes na proteção individual, mas não há como refutar que utilizar qualquer barreira de proteção na região da boca e do nariz pode ajudar a retardar a propagação do coronavírus.

De acordo com o estudo que embasa a campanha, o uso de máscaras caseiras impede de 95 a 100% dos vírus (não só do coronavírus) que as pessoas emitem pela respiração, quando espirram ou tossem. No site, eles dizem: “Testamos as máscaras caseiras com sucesso na Universidade Técnica Tcheca, em Praga. Sua equipe de especialistas – formada por virologista, epidemiologista, médicos com especialização em proteção, químicos e um físico, que integram o grupo consultivo do governo – garantiu que seu uso é altamente recomendável.

Governo ineficaz, cidadãos fortes

Ao ver como crescia rapidamente a quantidade de pessoas que saiam às ruas usando máscaras caseiras e mostravam isso, com orgulho, nas redes sociais, o governo reconheceu o movimento e anunciou que, a partir de então, era obrigatório usar algo que cubra parte de sua boca e nariz ao sair de sua residência – como uma máscara caseira ou um cachecol. Ficou claro que a demora do governo em tomar essa decisão certamente se devia ao fato de que seria extremamente impopular obrigar a usar máscaras se ele não podia fornecê-las. Como os cidadãos assumiram as rédeas da situação e adotaram a máscara por conta própria, tornou-se mais fácil transformar a medida em lei.

Esse movimento provou que, diante de um governo incapaz de proteger suas vidas, os cidadãos devem ignora-lo, se unir, buscar uma solução e tomar decisões. O movimento da máscara tcheca – como ficou conhecido – certamente foi alimentado pela raiva dos cidadãos contra o governo, que não foi capaz de orientá-los em um momento tão desafiador e delicado como a pandemia. Mas não foi só a raiva que os moveu. Unidos, foram criativos e muito bem-humorados: também criaram máscaras para colocar em brinquedos, nos bondes, em estátuas….. Ela se tornou um símbolo de união e de força do povo.

Agora, assista ao vídeo sobre o lindo movimento Masks4All: Como diminuir significativamente o contágio por coronavírus?

Um comentário em “#Masks4All: na República Tcheca, movimento incentiva produção e uso de máscaras de proteção caseiras e combate ineficácia do governo

  • 5 de abril de 2020 em 6:30 PM
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    Muito bem Mônica. Belo trabalho por divulgar essa questão da Máscara! Ao verificar as estatísticas de contaminação pelo Coronavírus, a gente percebe números um pouco mais tímidos em países da Ásia como o Japão, Cingapura, Taiwan, Coreia, etc. que usam bastante as máscaras. E, agora, fico sabendo que também na república Theca os números são menores… Muito interessante. E veja que só nos últimos dias a OMS e o nosso Ministério da Saúde estão enfatizando o uso por todos, mesmo que sejam caseiras. Vamos nos proteger da melhor forma e não esquecer de todos os outros cuidados: manter tanto quanto possível o confinamento, lavar as mãos e manter distância e usar máscara SIM quando precisar sair.

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.