Marca gaúcha lança coleção de sapatos com fios biodegradáveis

Marca gaúcha lança coleção de sapatos com fios biodegradáveis

O mercado mundial da moda movimenta, por ano, cerca de 2,4 trilhões de dólares. Se o valor gerado por esta indústria fosse comparado a PIB – produto interno bruto – de um país, ela seria a 7ª maior economia do planeta.

Infelizmente, os números grandiosos de faturamento do setor são repetidos pelo seu desperdício. Estima-se que, a cada segundo, o equivalente a um caminhão de lixo cheio de sobras de tecido é queimado ou descartado em aterros sanitários.

Mas algumas marcas já se deram conta desse desperdício absurdo e resolveram virar o jogo. É o caso da gaúcha Insecta, que só produz sapatos ecológicos e veganos.

A última novidade da empresa é uma coleção de calçados feita com fios biodegradáveis e um solado mais leve e sustentável, fabricado com plástico reciclado. Os modelos são protótipos e foram desenvolvidos somente para a participação na feira Inspira Mais.

A tecnologia do fio biodegradável, chamado de Amni Soul Eco®, foi desenvolvida pela Rhodia, em 2015. Foram cinco anos de pesquisa para criar o fio de poliamida, que pode ser reciclado e, caso seja descartado na natureza, se decompõe em apenas três anos, diferentemente de outros produtos têxteis que levam décadas para se desintegrar ao ar livre.

Segundo os fabricantes, o tecido feito com o fio biodegradável dá ao calçado maior leveza, além de garantir a respirabilidade e secagem rápida do mesmo. “A ideia de poder trabalhar com tecidos e solados de ciclo fechado é não só inovadora e pioneira, como um favor para o futuro do planeta”, diz Laura Madalosso, sócia e diretora da Insecta. “Torcemos para que o mercado enxergue a importância dessa tomada de consciência.

Sapatos veganos e ecológicos

A Insecta tem uma trajetória muito bacana. Criada como uma startup, em 2014, pelas três sócias Pamella Magpali, Bárbara Mattivy e Laura Madalosso, tem como missão principal, o “reaproveitamento, aumentando a vida útil do que já está por aí”.

Quase quatro anos depois da sua fundação, a marca (que perdeu Pamella como sócia, mas ganhou Kento Kojima como administrador e diretor de operações), tem hoje lojas próprias em Porto Alegre, São Paulo e Rio, além de outras pop stores pelo país, como por exemplo, no Instituto Inhotim, em Minas Gerais. Além disso, tem seus produtos vendidos nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Espanha, França e Suíça.

A Insecta é adepta da moda sustentável e do upcycling, que tem como principal conceito transformar resíduos que seriam descartados em novos materiais ou produtos de maior valor, uso ou qualidade. O objetivo é valorizar o que seria considerado “inútil”, utilizando a maior parte possível do produto ou todo o material na criação de algo novo, que possa prolongar seu ciclo de vida e diminuir o volume de lixo.

E como a empresa gaúcha faz isso? Transformando em sapatos peças de roupas usadas, além de garrafas de plástico recicladas. Tecidos e estampas de roupas encontradas em brechós ou descartados viram botas, oxfords (um estilo de sapato inglês, igual ao modelo que aparece na foto abaixo), sandálias e slippers. Tudo vegano, ou seja, sem nenhum uso de matéria-prima de origem animal.

Confira o que, em 2017, a Insecta utilizou para produzir sapatos e mochilas, como contou em seu blog:

– 6.640 garrafas plásticas, que viraram tecidos lisos e estampados. Todo esse material poderia estar em algum aterro ou mesmo boiando no mar, e olha que incrível: foi reciclado e virou uma coisa totalmente nova;

– 391,69 m² de tecidos e roupas reaproveitadas. Isso inclui as peças de roupas vintage garimpadas por nós, jeans doado, e ainda tecidos que vieram do Banco de Tecido. Mais material que pra muita gente era lixo, mas pra gente é oportunidade e inspiração;

– 2.120 kg de borracha reciclada para fazer solados. Isso tudo era excedente da produção e também teria como destino o lixo. Ao invés disso, deu vida a solados bonitos, resistentes e super ecológicos.

Demais, né?

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Fotos: divulgação

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.