Mapa colaborativo de árvores frutíferas dissemina conhecimento e incentiva plantio


Mapear árvores é algo que sempre teve um significado muito maior para mim do que somente identificar as espécies e indicar a localização delas. Meu olhar para as árvores e a natureza inclui a percepção de uma conexão total com a existência de todos os seres. De maneira de que a interdependência e os vínculos entre todos os seres e elementos, em sua enorme complexidade, é o que torna cada elemento tão valioso.

Cada vez mais os estudos científicos ecológicos de relação entre os seres e o ambiente tem demonstrado essa rede altamente complexa. O vídeo que inseri no final deste post exemplifica isso, demonstrando claramente o valor dos lobos na preservação dos parques de Yellowstone. Além do valor ecossistêmico, as relações de uso, troca e significado simbólico cultural, ganham ampla gama de facetas quando colocamos em pauta a relação humana com a natureza.

Por conta dessa percepção holística, desde o princípio da estruturação do Instituto Árvores Vivas, visualizei que essa rede complexa de relações das árvores com a vida deveria ser evidenciada, afirmada, conhecida, divulgada, apreciada, alimentada e compartilhada com consciência e gosto por toda humanidade. Para ilustrar de maneira simplificada essa percepção, elaborei uma mandala (ao lado) da dinâmica de desenvolvimento da cultura ambiental que pode ser melhor visualizada neste link.

Um pequeno passo na promoção dessa visão é a estruturação de mapeamentos colaborativos que contemplam muito mais do que dados quantitativos, mas oferecem espaço para descobrir e valorizar o vínculo afetivo, as relações históricas e as percepções simbólicas da sociedade em relação às árvores que cada pessoa escolhe registrar no mapa.

Mapeamentos de árvores foram realizados em diferentes modelos e com diferentes parceiros do Árvores Vivas nos dez anos de atividades da ONG. Muitos desses mapas podem ser visitados online, em PDF ou num blog.

Quando divulgo esse trabalho que também realizamos para escolas, empresas, hotéis, clubes e até mesmo fazendas particulares, gosto muito de citar os mapas construídos para diversas unidades do SESC no Estado de São Paulo. Alguns deles foram concebidos de maneira bastante centrada na unidade, como o que foi feito para a inauguração do SESC Belenzinho. Outros ampliam a percepção dos ativos ambientais do bairro, como foi o caso dos mapas feitos para o SESC Consolação, onde já citávamos o terreno do Parque Augusta ainda esquecido pela sociedade; e a mesma unidade encomendou o mapa Passeio Verde da Praça Roosevelt, antes da reforma. Neste último trabalhamos com diversas turmas do Colégio Caetano de Campos para ampliar a percepção dos alunos e professores sobre essa riqueza histórica ambiental.

Outro mapeamento de que gosto muito de lembrar foi encomendado pela unidade do SESC Araraquara, mas seu foco foi bem mais amplo, promovendo um trajeto por entre diversas praças da cidade, o histórico ambiental da região até chegar no SESC. Por lá, também realizamos diversas oficinas e caminhadas guiadas com a comunidade local.

O primeiro mapa foi feito em parceria com a Secretaria do Verde e Meio Ambiente de São Paulo para um evento que aconteceu no Parque da Luz – o primeiro jardim público da cidade. Esse mesmo mapa foi utilizado depois como base das ações da Secretaria de Educação durante as atividades do Recreio nas Férias, no qual formamos mais de 50 monitores de educação ambiental para atender mais de 900 crianças do ensino público municipal promovendo o contato com o verde nos parques.

E. finalmente, temos muito orgulho do projeto feito em parceria com a USP e SAAP na construção do mapa e sinalização das árvores da Praça Província de Saitama no bairro Alto de Pinheiros. Todo conteúdo está online e também pode ser apreciado pessoalmente em visitas autoguiadas.

Mapear para preservar

No início do ano passado, lançamos o Mapeamento Colaborativo de Árvores de Pau-Brasildivulgado primeiro aqui, neste blog, no Conexão Planeta – já contamos com mais de 250 registros de árvores únicas no país e precisamos atingir 300 para realizar a primeira análise e divulgação de resultados.

Agora, o Instituto Árvores Vivas lança o mapeamento colaborativo de árvores frutíferas, para que cada vez mais pessoas compreendam a dinâmica de importância de cada árvore e o conjunto delas na paisagem. O mapa permite gerar conhecimento sobre a distribuição das espécies, principalmente nas cidades; descobrindo onde e quais espécies são; e também onde estão plantadas as espécies nativas de cada bioma brasileiro. Todos esses dados são somados ao propósito primordial de estimular o plantio afetivo e a valorização das árvores frutíferas nativas, que são essenciais para restabelecer ambientes ecologicamente adequados para a fauna dos nossos ecossistemas. E, claro, para todos conhecerem a história de cada árvore e de cada pessoa que plantou e cuida dela.

Esse mapa das árvores frutíferas é uma continuação do nosso programa Guardião das Árvores e, da mesma forma, todos que fizerem registros lá recebem certificado com número de cadastro da espécie.

Convido você a ser um polinizador dessa ideia e dispersor dessa semente de cuidado e carinho com as árvores que estão nos caminhos. Participe desta iniciativa para que tenhamos cada vez mais árvores presentes em nossas vidas! Aproveite para compartilhar em suas redes sociais e convidar os amigos também.

Agora, fique com este maravilhoso vídeo sobre o impacto precioso dos lobos introduzidos no Parque Nacional de YellowStone- nos Estados Unidos, em 1995 – para a restauração da complexa rede ecológica entre espécies:

Fotos: Juliana Gatti

2 comentários em “Mapa colaborativo de árvores frutíferas dissemina conhecimento e incentiva plantio

  • 23 de fevereiro de 2017 em 7:48 PM
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    Adooorei o texto e a proposta! Sinto que esta metodologia aberta de mapeamento colaborativo traz este vínculo afetivo e co-responsabilidade também. Ao mesmo tempo, o desafio está em mobilizar estas pessoas para a colaboração. Tem o pessoal do Trilhas Urbanas (acho que você já os conhece) que pode ajudar nesta mobilização.
    Ah, coloquei seu artigo na plataforma de Aprendizagem Criativa que fomenta iniciativas mão na massa e colaborativas: http://aprendizagemcriativa.org/mapa

    Um grande abraço!
    Larissa

    Resposta
    • 18 de março de 2017 em 10:11 AM
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      Olá Larissa, agradeço muito por divulgar o mapeamento, realmente a mobilização é o maior desafio. Vamos fazer uma ação presencial de mapeamento dia 1 de abril saindo do Metrô Marechal Deodoro no centro de SP. Mais detalhes do evento na nossa página do facebook http://www.fb.com/arvoresvivas

      Conheço sim a Virginia de muito tempo, boa ideia vamos compartilhar com ela também!
      Grande Abraço e Até breve

      Resposta

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Juliana Gatti

Mestranda na área de Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável, sua pesquisa dedica-se a avaliar a influência da natureza na qualidade de vida de crianças e sociedade. Idealizou o Instituto Árvores Vivas em 2006, onde promove ações de conexão com a natureza por meio de apreciação, restauração e fomento da cultura ambiental.