Manual de crowdfunding para cidades

manual de crowdfunding para cidades

A pressão quase desumana no mercado de trabalho e a vontade de deixar uma marca no mundo tem levado cada vez mais pessoas a sonhar com projetos bacanas e inspiradores que transformem a realidade local, seja um aplicativo para explicar a falta de água na cidade, um projeto de revitalização de praças ou o fechamento temporário de uma rua para que as crianças possam brincar livremente nela.

Você provavelmente já teve alguma ideia nesse sentido ou já ouviu alguma “ideia genial” de alguém próximo. E, mais provavelmente ainda, essa ideia nunca passou do campo conceitual ou saiu do papel.

O principal obstáculo para quem sonha com um projeto transformador e não consegue realizá-lo foi inventado pelos gregos no século VII a.C. e chama-se dinheiro. Afinal, a não ser que você já trabalhe com isso ou tenha um belo “paitrocínio”, envolver-se com projetos de transformação leva tempo, energia e, em boa parte dos casos, gastos difíceis de serem bancados pelo próprio bolso.

Buscar recursos junto às empresas ou inscrever o projeto em editais é sempre uma opção, os projetos ligados ao território urbano despertam cada vez mais interesse, mas isso envolve um grau de complexidade e de dificuldade adicional que torna o funil de possibilidades ainda mais estreito, especialmente em tempos de crise econômica como a que vivemos atualmente.

Mas se a ideia do projeto é realmente boa e você e/ou seu grupo estão dispostos a seguir em frente, que tal experimentar o caminho do financiamento coletivo?

Cada vez mais conhecido e utilizado entre jovens empreendedores, essa modalidade de financiamento (também conhecida como crowdfunding, a expressão original, em inglês) permite que você apresente um projeto na rede e, caso ele seja bom mesmo e seus realizadores tenham um razoável poder de convencimento, os recursos necessários para realizá-lo aparecem.

No lugar de um grande patrocinador, entram dezenas, centenas, quem sabe até milhares de micro patrocinadores, pessoas físicas que estão dispostas a ajudar a viabilizar seus sonhos em troca de algum brinde, agradecimento ou simplesmente de ver cumprida a vontade de ajudar o mundo.

Mas por onde começar? Qual a plataforma de crowfunding ideal? O que deve ser feito?

Foi pensando nesse mar de dúvidas que as responsáveis pelo projeto Cidades para Pessoas, Natália Garcia e Juliana Russo, lançaram o Manual Afetivo de Crowdfunding para Cidades, um guia simples e bem ilustrado – disponível online e sob licença Creative Commons – sobre o fascinante universo do financiamento coletivo voltado para projetos de melhoria e transformação urbana.

“Os estudos, debates e conceitos sobre as cidades são sempre importantes, mas é muito mais legal conseguir fazer, botar a mão na massa, transformar de fato os espaços que ocupamos nas cidades”, conta Natália, que teve a ideia do manual a partir de diversas palestras e debates realizados por ela Brasil afora. “O que vi por aí é que as pessoas têm ideias incríveis, mas muitas vezes não sabem como fazer ou como usar o financiamento coletivo. É isso que o manual procura esclarecer”.

É bom ressaltar, obviamente, que não basta apenas colocar um projeto bacana numa plataforma de financiamento coletivo e aguardar os recursos caírem do céu para seguir em frente. Dá trabalho, tem suas limitações, a divulgação na redes de amigos e pessoas conhecidas deve ser insistente e, muitas vezes, os projetos acabam não sendo viabilizados.

“A maior dificuldade que vejo, no entanto, não é da ferramenta do financiamento em si, mas das próprias pessoas conseguirem materializar o que realmente querem fazer. Isso envolve levantamento de custos, encontrar as recompensas adequadas, afinar o foco do projeto. O objetivo não pode ser algo tão genérico quanto, por exemplo, ‘melhorar o trânsito’”, ilustra Natália, acrescentando que o manual é orientado sobretudo para transformadores que já tenham alguma noção nesse sentido.

Empreendedores, então, mãos à obra! E boa leitura.

*Este artigo foi publicado originalmente no blog Cidades Sustentáveis, Criativas e Compartilhadas do site do jornal O Estado de São Paulo, em 3/12/2015

 

Foto: divulgação Cidade para Pessoas

 

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