Manifesto conclama empresas a acabar com o desmatamento do Cerrado

Manifesto conclama empresas a apoiar o desmatamento zero no Cerrado

Nos últimos 50 anos, metade do Cerrado brasileiro foi destruído. Só entre 2013 e 2015, 18.962 km² deste bioma foram desmatados. É como se, a cada dois meses, uma área do tamanho da cidade de São Paulo, simplesmente desaparecesse do mapa. Projeções indicam que, se mantido o padrão de destruição observado entre 2003 e 2013, até 2050, serão extintas 480 espécies de plantas e mais 30% do Cerrado.

Esta tragédia ambiental, que ocorre diariamente, sob a anuência do governo brasileiro e cumplicidade de muitas empresas, que compram soja e carne de áreas desmatadas do Cerrado, precisa ter um fim.

Em manifesto, 40 organizações ambientais convocaram ontem (11/09), quando foi celebrado o Dia do Cerrado, indústrias e empresas a se comprometeram com o desmatamento zero do bioma.

O objetivo do documento é que, os setores da soja e carne, façam sua parte para impedir a destruição do que sobra do Cerrado. Em março deste ano, o Conexão Planeta publicou matéria em que mostrava a denúncia da organização internacional Mighty Earth, que acusou a segunda maior cadeia de fast food do planeta de comprar ração feita com soja vinda de áreas desmatadas do Cerrado brasileiro e florestas da Bolívia, para alimentar o gado que produz a carne utilizada em seus hambúrgueres.

O manifesto Nas mãos do mercado, o futuro do Cerrado: é preciso interromper o desmatamento afirma que a principal causa da destruição do bioma é a expansão do agronegócio sobre a vegetação nativa. E a afirmação vem junto com provas: há mais de 10 anos as taxas de desmatamento do Cerrado superam as da Amazônia (veja outros detalhes neste post).

Biodiversidade em risco

Ocupando 25% do território brasileiro, o Cerrado é o segundo maior bioma do país. Chamado de berço das águas, nele estão a bacia hidrográfica do rio São Francisco e três aquíferos – Guarani, Bambuí e Urucaia. Habitam a região diversas espécies de animais endêmicas (que só existem no Brasil), algumas delas, infelizmente, ameaçadas de extinção.

Vida animal em risco

Para as organizações signatárias do manifesto, é preciso que todos os atores da cadeia produtiva, incluindo pecuaristas, agricultores, traders, frigoríficos, empresas do varejo, investidores, indústria de insumos agrícolas e companhias de terras adotem políticas e compromissos eficazes para eliminar o desmatamento e desvincular seus produtos de áreas recentemente desmatadas.

“O que precisamos no Cerrado é de um compromisso claro de todos os atores das cadeias de produção e consumo que impactam o bioma, principalmente da soja e da carne. A expansão agropecuária não pode continuar acontecendo a partir da destruição de ecossistemas naturais. Os estudos mostram que é possível expandir sob áreas degradadas, garantindo o aumento da produção e o desenvolvimento social e econômico que a região precisa”, afirma Mauricio Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil, uma das ONGs signatárias do documento.

As entidades também pedem uma atitude mais séria e firme do governo perante a situação alarmante. Elas sugerem que sejam criados instrumentos e políticas para frear o desmatamento e oferecidos incentivos econômicos para recompensar produtores que conservem áreas de vegetação nativa.

“O fim do desmatamento no Cerrado é uma necessidade para conservar serviços ambientais fundamentais para a produção agropecuária e para a economia brasileira e pode ser uma oportunidade para a imagem do setor em todo o mundo. Mas é necessário haver politicas públicas e privadas para compensar os produtores que se comprometerem com o fim do desmatamento para além do cumprimento ao Código Florestal”, diz Lisandro Inakake de Souza, coordenador de projetos do Imaflora, outra organização que assinou o manifesto.

Chuveirinho do Cerrado (Paepalanthus Speciosus)

Os efeitos trágicos da destruição do Cerrado irão ter efeitos diretos sobre a produção do agronegócio, que parece, infelizmente, ainda não ter se dado conta disso. Especialistas do clima alertam que a redução do bioma pode alterar o regime de chuvas na região, impactando a produtividade da agropecuária.

De acordo com Nas mãos do mercado, o futuro do Cerrado: é preciso interromper o desmatamento, estudos indicam que há cerca de 40 milhões de hectares já desmatados e com potencial para soja no Brasil, o suficiente para atender às metas brasileiras de expansão produtiva de soja dos próximos 50 anos. Ou seja, não é preciso desmatar mais! O estrago feito já foi enorme.

Agora é esperar para ver quem serão as primeiras empresas a se comprometer com o manifesto e ajudar a salvar o que resta do Cerrado.

Confira abaixo a lista com as organizações que apoiam o documento:

WWF-Brasil
Greenpeace Brasil
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)
Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora)
The Nature Conservancy (TNC)
Earth Innovation Institute (EII)
Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN)
Conservação Internacional – Brasil (CI-Brasil)
Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi)
Iniciativa Verde
APREC Ecossistemas Costeiros
Fundação Avina
Engajamundo
GeoLab/USP
Lagesa/UFMG
Lapig/UFG
PHS
Instituto Centro de Vida (ICV)
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)
Instituto Socioambiental (ISA)
Fundação Pró-Natureza (Funatura)
Conservação Estratégica (CSF-Brasil)
Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda)
LABAQUAC/Projeto Hippocampus
Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)
Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza
Instituto BVRio
Instituto o Direito por um Planeta Verde
Amigos da Terra – Amazônia Brasileira
Wildlife Conservation Society – Brasil (WCS-Brasil)
Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam)
Instituto Çarakura
Fundação Biodiversitas
Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham)
National Wildlife Federation (NWF)
Ecoa – Ecologia e Ação
Rede GTA
Grupo Desmatamento Zero
Observatório do Código Florestal
Observatório do Clima

Foto: Alf Ribeiro/divulgação Mighty Earth e demais ©WWF-Brasil/Bento Viana 

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.