Mais de 200 renas morrem de fome em ilha no ártico norueguês devido ao aquecimento global

Mais de 200 renas morrem de fome em ilha no ártico norueguês devido ao aquecimento global

Nunca antes os pesquisadores do Instituto Polar Norueguês tinham encontrado tantas renas mortas em uma região do Ártico. Foram achados mais de 200 carcaças no arquipélago de Svalbard, na Noruega.

Os cientistas suspeitam que os animais (herbívoros) tenham morrido de fome porque não encontraram vegetação para se alimentar e acreditam que a responsabilidade está nas mudanças climáticas. A ilha enfrentou um inverno muito chuvoso, algo atípico.

A maioria das carcaças era de renas jovens ou mais velhas, as mais vulneráveis nessas situações.

“Nos últimos 30 a 40 anos, percebemos que o clima está mudando mais rápido do que as causas naturais parecem explicar. Svalbard é uma das áreas mais claramente impactadas pela crise climática, com consequências trágicas para os animais que vivem aqui”, afirmou Åshild Ønvik Pedersen, do Instituto Polar Norueguês. “Este é um exemplo de como a mudança climática está afetando a natureza. É muito triste”.

Mais de 200 renas morrem de fome em ilha no ártico norueguês devido ao aquecimento global

Nunca antes os cientistas observaram uma mortandade tão grande de renas

Frequentemente os pesquisadores fazem o monitoramento da população de renas em Svalbard. Por serem os únicos grandes mamíferos que pastam no Alto Ártico europeu, esse animais são importantes indicadores da saúde das tundras, ecossistema formado de solo rochoso e frio intenso, com vegetação composta por plantas herbáceas e arbustos.

As renas de Svalbard

Há sete espécies de renas selvagens (Rangifer tarandus platyrhynchus) na região do Ártico. A de Svalbard só é observada ali e vive nessa região há mais de 5 mil anos. Entre suas características estão as pernas curtas e a cara arredondada.

No começo do ano, o Instituto Meteorológico da Noruega havia divulgado um estudo em que alertava que algumas áreas do norte do país estavam apresentando altas temperaturas e com um aquecimento superior ao resto do planeta.

A suspeita é que as renas morreram de fome

De acordo com a Agência Nacional de Oceano e Atmosfera (NOAA) dos Estados Unidos, a cobertura de gelo no Ártico (extensão) em maio de 2019 foi 8,5% menor do que a média observada entre 1981 e 2010 – a segunda mais baixa para o mês já registrada. Na Antártica, a porcentagem era 13% menor.

Em junho, a imagem (impressionante) abaixo viralizou nas redes sociais. Com temperatura mais de 20oC acima da média na Groenlândia, o cientista Steffen M. Olsen, do Instituto Meteorológico da Dinamarca, fotografou cachorros levando um trenó sobre a água derretida da geleira. Os meteorologistas estimam que a cobertura de gelo na região tenha perdido o equivalente a 2 bilhões de toneladas de água.

Mudanças climáticas a todo vapor

Em fevereiro de 2018, cientistas também registraram anomalias climáticas no Ártico. A temperatura estava entre 20oC e 30oC acima do normal. No que deveria ser o pico do inverno ártico, pesquisadores estavam perplexos com a onda de calor que se abateu sobre o continente. Na Sibéria, os termômetros marcaram 35oC além da média para aquele mês.

“Isto é uma anomalia entre anomalias. É completamente fora de qualquer registro histórico. É alarmante! É uma indicação de que haverá muitas outras surpresas se continuarmos cutucando a “besta” que é o nosso clima”, disse Michael Mann, diretor do Earth System Science Center, da Pennsylvania State University, em entrevista ao jornal The Guardian no ano passado.

Pelo jeito, a besta está definitivamente solta.

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Fotos: divulgação Norsk Polarinstitutt/ Silje-Kristin Jensen (abertura), Elin Vinje Jenssen e Siri Uldal

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.