Mãe, verbo em tempo presente

Mãe, verbo em tempo presente

Este será meu primeiro Dia das Mães sem que eu tenha minha mãe “fisicamente” presente. Já tinha passado outras datas longe dela, mas sempre com o conforto do telefonema, que me assegurava a oportunidade de conversar e expressar meu amor, carinho e gratidão, mesmo que à distância. Este ano, vai ser diferente. Ela se foi há pouco mais de um mês.

Como jornalista, sempre amei escrever e contas histórias. E agora, como parte do meu processo de luto, sinto uma necessidade enorme de colocar no papel os sentimentos que têm inundado minha mente e meu coração.

Nas últimas semanas, por ser ainda tudo muito recente, me pego pensando e falando sobre minha mãe. E quando isso acontece, uso o verbo no tempo presente. “Ela é, ela gosta, ela diz…”. Mas meu lado racional me questiona se devo me referir a ela com o verbo no passado. “Ela era, ela preferia…”

Minha decisão, que rechaçou minha razão e deu lugar à vontade do meu coração, é de que o verbo para minha mãe é – e sempre será – conjugado no presente. A presença dela em minha vida é simplesmente forte demais. Ela é parte de mim: quando me olho no espelho, quando penso nas minhas melhores lembranças da infância, quando cozinho, quando cuido de meus filhos.

Quando me tornei mãe pela primeira vez, cheia de medos e dúvidas, foi ela que esteve ao meu lado, me dando confiança e compartilhando ensinamentos para que eu me sentisse segura ao lado daquele pequeno ser, que chegava em minha vida.

Quando cuido do meu jardim, sinto sua presença por todos os lados. Apaixonada por plantas, minha mãe passava horas no quintal de nossa casa. E hoje, a cada flor que desabrocha, penso como ela irá reagir ao ver o meu progresso na jardinagem. Consigo ver, claramente, o sorriso no rosto dela, orgulhosa que agora, também vibro com a terra.

Na cozinha, minha mãe continua me dando dicas todos os dias. Basta eu fechar os olhos, que consigo escutar sua voz me ensinando como é a melhor maneira de fazer a calda de caramelo do pudim de leite ou o segredo do sorvete de três camadas de chocolate.

E quando me questiono quando a dor, que sinto agora, vai sair do peito, é a voz dela que ouço novamente. “Não há nada que eu possa fazer ou dizer agora que vai te fazer parar de chorar, minha filha. Somente o tempo. Apenas ele fará com que o sofrimento vá embora”. 

Neste Dia das Mães não quero chorar. Na verdade, não preciso chorar. Apesar da saudade, minha mãe continua aqui. Dentro de mim, ao meu lado. Sua presença é intensa demais.

Para você, que ainda tem sua mãe ao seu lado, “fisicamente”, aproveite o dia: abrace, converse e diga o quanto a ama. Vale o mesmo para os milhares de pais que fazem papel de mãe ou então, aquelas mães que não são biológicas, mas agiram como tal na sua vida.

E se assim como a minha, a sua não está mais por aqui, para você beijar e dar aquele abraço apertado, faça como eu: vá lá pra fora, olhe para o céu, sinta o calor do sol e converse com ela. Ela está te ouvindo, tenha certeza!

Porque mãe é amor, mãe é presença! Hoje e sempre.

Minha mãe comigo, no meu aniversário de 1 ano

mãe, verbo em tempo presente

No jardim de nossa casa, que ela tanto amava

Me ensinando a ser mãe e descobrindo a paixão pelos netos

Ela e eu, eu e ela

 

Fotos: domínio público/pixabay (abertura) e arquivo pessoal

5 comentários em “Mãe, verbo em tempo presente

  • 12 de maio de 2017 em 8:47 PM
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    Lindo texto. A minha voltou à pátria espiritual há dez anos no dia 17, mas ainda é como você diz; sua presença está sempre comigo. Acho até que estamos mais conectadas agora do que antes…

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  • 13 de maio de 2017 em 10:42 AM
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    Lindo Suzana! E quando você vir a borboleta azul ? passeando pelo teu quintal pode ter certeza de que é ela que veio dar uma espiadinha para ver como andam as coisas por aí!
    Beijo querida!

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  • 15 de maio de 2017 em 4:28 PM
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    Que post lindo Suzana! Também vou o meu primeiro dia das mães! Parabéns para nós todas!

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  • 21 de fevereiro de 2018 em 3:21 PM
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    Que lindo. perdi minha mãe quando eu tinha apenas dez anos. sinto muito falta. mas já vi mais sem ela do que com ela. que Deus abençoe vc.

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  • 11 de julho de 2018 em 8:38 PM
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    Nossa!
    Esse texto me fez voltar no tempo. Já se passaram onze anos, mas parece que foi ontem, apesar da saudade sem sofrimento.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.