Lygia Fagundes Telles é a primeira escritora brasileira indicada ao Nobel de Literatura
“Chão da infância. Algumas lembranças me parecem fixadas nesse chão movediço, as minhas pajens. Minha mãe fazendo seus cálculos na ponta do lápis ou mexendo o tacho de goiabada ou ao piano; tocando suas valsas. E tia Laura, a viúva eterna que foi morar na nossa casa e que repetia que meu pai era um homem instável. Eu não sabia o que queria dizer instável …”
O texto acima, Que se chama solidão, foi extraído do livro “Invenção e Memória“, de Lygia Fagundes Telles. Uma das mais celebradas e premiadas escritoras brasileiras, desde cedo a paulistana já revelava o dom para usar as palavras. Em seus dezenas de romances e contos, trouxe para o imaginário de milhões de leitores brasileiros as histórias que ouvia.
Para celebrar ainda mais a importância de sua obra, a União Brasileira de Escritores (UBE) indicou Lygia Fagundes Telles à Academia Sueca para concorrer ao Prêmio Nobel de Literatura deste ano. A diretoria da entidade brasileira aprovou por unanimidade o nome da escritora. “Ela é a maior escritora brasileira viva e a qualidade de sua produção literária é inquestionável”, afirmou Durval de Noronha Goyos, presidente da UBE.
A autora, que está com 92 anos, tem obras traduzidas para inúmeras línguas, como inglês, alemão, espanhol, francês, italiano, polonês e sueco. Seus romances foram adaptados também para cinema, teatro e televisão.
Formada em Direito, conheceu nos bares e cafés do Largo do São Francisco, em São Paulo, intelectuais da era modernista, como Mário e Oswald de Andrade e o crítico de cinema e ensaísta Paulo Emilio Salles Gomes (seu segundo marido).
Entre suas diversas obras premiadas estão os livro de contos O Cacto Vermelho (1946), Histórias do desencontro e Antes do baile verde (1970), vencedor do Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros, na França.
Com As Meninas (1973), inspirado no momento político brasileiro da época, Lygia conquistou o Jabuti.
A escritora é a primeira mulher brasileira indicada ao Nobel de Literatura. O reconhecimento é dado desde 1901 pela Academia Sueca. Podem ser indicados autores de qualquer nacionalidade. Em 2015, a vencedora foi a escritora e jornalista bielorrussa Svetlana Alexievich.
Pablo Neruda, Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez estão entre os autores latinoamericanos que já receberam o prêmio. Nenhum brasileiro ganhou até hoje um Nobel.
O anúncio do Nobel de Literatura deve ser feito em outubro deste ano, na sede da academia em Estocolmo, na Suécia.
Agora é torcer por Lygia Fagundes Telles!
Foto: Divulgação/UBE
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.
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