Luiz Nishimori, deputado relator do ‘PL do Veneno’, é dono de empresas que vendem agrotóxicos
Por que a denúncia feita pela Revista Congresso em Foco não é uma surpresa?
A reportagem das jornalistas Amanda Audi e Thallita Essi revela que o deputado Luiz Nishimori, (PR-PR), relator do polêmico e absurdo projeto de lei (PL) 6299/2002 que quer tornar mais fácil o registro de agrotóxicos no Brasil é proprietário de duas empresas que comercializam… agrotóxicos!
Segundo o que foi apurado, as empresas que ficam em Marialva, no interior do Paraná, são a Mariagro Agricultura e a Nishimori Agricultura. Ambas vendem e prestam serviços na área agrícola, como o comércio de sementes, fertilizantes e “defensivos fitossanitários” – nome criado e sugerido no texto original da proposta da PL para substituir o de agrotóxico, ou seja, ludibriar e confundir os brasileiros.
A reportagem afirma que “… a Mariagro Agricultura chegou a vender um volume tão grande de agrotóxicos que bateu a meta estipulada pela Syngenta, multinacional que fabrica defensivos”.
Ainda de acordo com a matéria, as empresas estariam em nome de familiares de Nishimori – mãe, esposa e filhos. Em entrevista à Congresso em Foco, o deputado disse que há 20 ou 30 anos, a Mariagro e a Nishimori Agricultura não vendem mais agrotóxicos. Todavia, produtores da região afirmam que continuam comprando substâncias químicas delas e ambas apareciam como ativas, em 2014, na lista da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar).
Em tramitação na Câmara dos Deputados, a chamada Lei do Veneno tem como principal objetivo afrouxar o registro de agrotóxicos, incluindo aqueles com substâncias potencial ou comprovadamente cancerígenas e que causem mutações genéticas, malformações fetais, problemas reprodutivos e hormonais.
Atualmente a liberação desses produtos no Brasil depende de autorização de órgãos do Ministério da Agricultura, Saúde e Meio Ambiente, processo este que pode levar até cinco anos. O PL do Veneno faria com que o prazo fosse diminuído para 12 meses, caso nenhuma autoridade tenha se mostrado contrária a ele neste período.
Vale lembrar que o projeto de lei foi apresentado pelo ex-senador e atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi, coincidentemente um dos maiores produtores de soja do Brasil.
Ou seja, seu autor e seu relator são dois empresários ruralistas, extremamente interessados em sua aprovação, que caso aconteça, fará com que seus negócios faturem muito mais milhões por ano.
Infelizmente, nem toda a mobilização realizada pelo meio acadêmico e pela sociedade civil contra o ‘PL do Veneno’ conseguiu impedir que o texto do projeto fosse aprovado na Comissão Especial da Câmara, e agora, será votado pelo plenário (leia mais aqui).
Mais de 1,5 milhão de brasileiros já assinaram a petição online #ChegaDeAgrotóxicos para defender a aprovação de outro projeto de lei, mas este do bem ! O PL 6670/2016 quer instituir a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA). A proposta tem como meta reduzir gradativamente o uso de agrotóxicos no Brasil, desenvolver alternativas biológicas e naturais de defensivos agrícolas e controlar esses produtos.
Se você ainda não aderiu à esta causa, participe! Assine já a petição neste link.
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Foto: Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.
Então está explicado, gente boa; defendendo os interesses dos herdeiros, tá certo.