Lideranças indígenas dedicam prêmio ‘Racista do Ano’ a Bolsonaro e o entregam na embaixada brasileira, em Londres

Esta semana, em 13/11, Bolsonaro ganhou um prêmio especial do movimento Survival International, que atua na defesa dos direitos indígenas pelo mundo. O presidente do Brasil foi escolhido o Racista do Ano (Racist of the Year) graças a seu empenho em promover o desmatamento e agir contra a demarcação de terras, favorecendo sua liberação para exploração pelo agronegócio e pela mineração.

A organização se uniu a dez lideranças indígenas na frente da Embaixada do Brasil em Londres para protestar contra as ações governamentais e as declarações de Bolsonaro que atacam as comunidades e, depois entregar a honraria para um representante diplomático.

Os indígenas que participaram da mobilização integram o grupo que empreende, desde 12 de outubro (e até 20 de novembro) a Jornada Sangue Indígena – Nenhuma Gota a Mais (sobre a qual contei aqui, no site) organizada pela APIB – a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil com o objetivo de conscientizar governantes, instituições e empresas da necessidade de boicotar negócios que promovem o desmatamento e o genocídio indígena no Brasil. E também obter o apoio da sociedade e de ativistas pelo mundo.

Kretã Kaingang segura o prêmio concedido a Bolsonaro

Na ocasião, Sonia Guajajara, coordenadora da APIB, declarou que “O presidente Bolsonaro quer destruir os povos indígenas do Brasil. Seu racismo e ódio incentivam os garimpeiros e madeireiros a invadir nossos territórios e matar nosso povo. Mas tenho uma mensagem para ele: amamos nossas terras muito mais do que ele nos odeia e nunca permitiremos que ele nos destrua, nem as florestas que protegemos por tanto tempo”.

Sonia Guajajara, coordenadora da Apib

O protesto aconteceu depois que, pelo menos, dois graves ataques foram registrados no Maranhão e no Vale do Javari.

O primeiro foi o assassinato do líder Paulo Paulino Guajajara, em 1 de novembro, durante emboscada de madeireiros ao grupo Guardiões da Floresta, na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão. O grupo de guardiões foi criado pelos próprios indígenas da etnia Guajajara para defender seu território, já que o governo não os protege e ainda incentiva as invasões.

Dinaman Tuxá

“O que aconteceu com nosso parente, Paulino Guajajara, é um exemplo claro do que estamos passando. Estamos reafirmando que é o nosso sangue que está sendo derramado às custas da soja e da madeira que chega à Europa”, declarou Nare Baré, Coordenação de Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB). “Estamos aqui para dizer que todo produto importado pela Europa é lavado com nosso sangue. Hora de dizer basta! É necessário adotar medidas e assumir que a responsabilidade é de todos, dos parlamentos, da sociedade civil, do consumidor e dos próprios empresários”.

O segundo ataque foi feito por invasores armados ao posto da Funai que protege a Terra Indígena Vale do Javari, no oeste da Amazônia, onde vivem indígenas isolados.

Incansável nas declarações racistas

Desde que chegou ao poder, Bolsonaro não tem feito outra coisa do que desqualificar e agredir os povos indigenas. Sua retórica racista ajudou a aumentar, de forma assustadora, as invasões. Incansável, quer facilitar o agronegócio e a exploração de minérios por grandes indústrias em terras indígenas.

Quando decide ser ameno, diz que índio quer ter o mesmo que a gente e precisa ser integrado. Mas sua visão de integração é capitalista, portanto, não condiz com a essência desses povos nem com suas reivindicações. Não entende, nem quer, que eles querem apenas respeito à sua cultura, à sua identidade e às suas terras sagradas (leia Integração de indígena não pode ser pretexto para apropriação cultural).

Por isso, desmantelou a Funai. Primeiro, com a Medida Provisória 886, tirou-a do Ministério da Justiça e entregou-a ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos, de Damares. E deu ao Ministério da Agricultura o direito de decidir sobre as demarcações de terras indígenas. Em maio, a Câmara dos Deputados revogou sua decisão sobre a Funai. E, em agosto, o STF anulou o destino da demarcação definido pelo presidente e a devolveu para a Funai.

Vale lembrar que, entre as muitas declarações racistas de Bolsonaro, está a que ele repetiu inúmeras vezes, até antes de se candidatar a presidência. A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e, hoje em dia, não tem esse problema em seu país”. Pra quem pensa que é fake news, recomendamos a leitura do texto da Lupa, que investigou e comprovou a veracidade da frase.

Só por essa frase, Bolsonaro merecia o prêmio. A Survival International demorou..

Companheiros à altura

Com o reconhecimento, Bolsonaro se junta ao deputado Fernando Furtado, do Partido Comunista do Brasil (veja só!), no Maranhão, contemplado em 2015, e ao presidente de Botsuana, Ian Khama, vencedor em 2016.

O primeiro, declarou que os bosquímanos de Kalahari vivem vidas “atrasadas”, questionando a legitimidade de sua existência e sugerindo que eles estão mais abaixo na escada evolutiva do ser humano. De acordo com a Survival International, o governo do general Khama negou continuamente aos bosquímanos o acesso às suas terras ancestrais depois de terem sido expulsos em 1997, 2002 e 2005.

Já Furtado, declarou em reunião com madeireiros e fazendeiros, teria dito que os indígenas brasileiros “não sabem plantar arroz, então deixe-os morrer de fome na pobreza, é a melhor coisa, porque não sabem trabalhar”. Ele também os chamou de “um bando de pequenos gays” e, depois de causar indignação no país, teve que se retratar formalmente.

Fonte: Survival International, Apib

Fotos: Rosa Gauditano/Survival International

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.