Líder de reserva extrativista no Pará recebe prêmio internacional de conservação ambiental

Maria Margarida Ribeiro da Silva é líder da Associação Comunitária de Arimum, cidade pertencente à região de Porto de Moz, no Pará, na Amazônia. Sua casa fica na reserva extrativista Verde para Sempre, uma área de 1,3 milhão de hectares à beira do rio Xingu. Foi de lá que ela saiu, no dia 19 de dezembro de 2017, para viver um momento muito especial: receber o Wangari Maathai Forest Champions Award, um dos mais importantes prêmios de conservação ambiental do mundo, em Bonn, na Alemanha, durante o Global Landscapes Forum.

Esta foi a primeira vez que o prêmio foi entregue neste evento internacional, criado pelo Centro Internacional de Pesquisa Florestal em 2013. Nada mais perfeito já que somente pessoas que protegem as florestas e promovem seu uso por meio de práticas sustentáveis são indicadas para recebê-lo. Além disso, a mulher que dá nome ao prêmio foi uma africana (Quênia) comprometida com causas ambientais e sociais e foi a primeira a receber o Nobel da Paz. Isso aconteceu em 2004. Cinco anos depois, tornou-se Mensageira da Paz das Nações Unidas. Morreu em 2011

O evento, por sua vez, promove a troca de experiências sobre o uso sustentável da terra, debate a conservação ambiental e a restauração de florestas e também destaca projetos desenvolvidos pelo mundo (até agora, mais de três mil organizações e 25 mil pessoas participaram). Tudo a ver com o contexto do prêmio.

Assim, no dia 20 de dezembro, Margarida Maria recebeu a honraria das mãos do cacique Marcos Terena, da etnia Xané, do Mato Grosso do Sul. E ainda participou de bate-papo com ativistas ambientais, durante o qual apresentou a experiência na reserva que lidera. Muito linda essa oportunidade porque a comunidade internacional está sedenta por soluções para recuperar florestas e combater as mudanças climáticas. Margarida tem muita coisa a ensinar, com certeza. É só conhecer sua história pra entender.

Agora reconhecida, reserva corre risco 

Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, ela disse que não entendeu sua indicação,  mas depois compreendeu que o trabalho realizado em ‘sua’ reserva foi reconhecido em diversas instâncias – estadual, nacional, recebeu certificação do FSC em 2016… Natural seria, portanto, que a inspiração chegasse ao exterior.

E o mais incrível é que esse reconhecimento internacional chega num momento complicado, em que a reserva – assim como inúmeros projetos pelo país – perdeu apoio financeiro do governo. Os cortes feitos por Temer na área ambiental atingem principalmente os brasileiros que tiram seu sustento da floresta com consciência. O Bolsa Verde, por exemplo – criado em 2011 para ajudar famílias que viviam em situação de extrema pobreza, como forma de incentivar ações de proteção à natureza – não tem recursos para atender quem está registrado. A maioria é da Amazônia.

E a grande questão é que o Ministério do Meio Ambiente garantiu – durante a COP 23, em dezembro – que manteria o pagamento, mas com o dinheiro do Fundo Amazônia. E há duas considerações importantes a fazer, aqui: a primeira diz respeito ao fato de que o fundo depende de recursos do exterior e não podemos esquecer que o Ministro do Meio Ambiente da Noruega,Vidar Helgesen, deu um puxão de orelhas em Temer, por causa da devastação da Amazônia e o fundo estava sendo ofertado pelo país para ações de preservação. A segunda é que o fundo – de acordo com sua concepção original – não pode substituir recursos públicos, apenas complementá-los.

Então, ao mesmo tempo em que celebramos o reconhecimento da reserva de Arimum, devemos lamentar a sorte das 55 famílias que compõem a comunidade da Vila do Socorro, onde está localizada a reserva Verde para Sempre e torcer para que ela continue fazendo juz a seu nome.

Este é o desafio da reserva liderada por Maria e também de muitas comunidades agroextrativistas que tornam possíveis modelos de produção e gestão sustentável. Mais do que nunca, precisamos dessas comunidades para preservar nossas florestas.

Origem na violência

A Verde para Sempre nasceu em meio à violência pela disputa de terras entre madeireiros e os cidadãos das comunidades locais. Isso lá no início dos anos 2000. Em 2005, Maria e a comunidade de Arimum já celebravam o reconhecimento da reserva como a maior do país. Mas isso só aconteceu depois de muita luta pela regularização fundiária, confrontos com grileiros e pistoleiros.

Foi preciso muita força e muita coragem. Muita determinação e muito entendimento sobre a terra também. E, assim,  Maria ajudou a elaborar o plano de manejo florestal comunitário para a reserva. Isso possibilitou a exploração sustentável da floresta – madeira e outros produtos – e alimento e bem estar para a comunidade.

Em 2008, ela participou da proposta para a criação do Fundo Amazônia. Depois, foi a vez de dar seus pitacos para a reformulação do Código Florestal, aprovado em 2012 com muita polêmica e algumas perdas para quem acredita no desenvolvimento sustentável.

Com informações da Folha de São Paulo e Global Landscapes Forum

Foto: Pilar Valbuena/Divulgação Global Landscapes Forum

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.