Insana Pinhão: a cerveja que ajuda a preservar o pinheiro símbolo do Paraná

Insana Pinhão: a cerveja que ajuda a preservar o pinheiro símbolo do Paraná

Para quem nasceu no Paraná, como eu, o pinhão tem um lugar especial na caixinha de lembranças da infância. Durante o inverno, assado ou cozido, é este alimento que faz com que muitas famílias se juntem e passem horas conversando e comendo esta delícia típica da terra. No meu caso, consigo hoje ainda, sentir o cheiro do pinhão, feito no forno à lenha da casa da minha avó.

Infelizmente, a Floresta das Araucárias, tem hoje menos de 3% da sua cobertura original no estados do Sul do Brasil. O pinhão é a semente desta espécie, a Araucaria angustifolia, também conhecida como pinheiro-do-Paraná.

A expansão das cidades em direção ao campo, a conversão de florestas nativas em áreas para agricultura e a exploração da madeira levaram a araucária a entrar para a lista de espécies ameaçadas de extinção da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).

Desde 2013, entretanto, a iniciativa Araucária+ tem envolvido produtores locais em um projeto de conservação e valorização econômica da espécie. Idealizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em parceria com a Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras de Santa Catarina (CERTI), o projeto estimula novos negócios, criando assim uma rede sustentável de proteção, produção e consumo.

Um destes negócios é a Insana Pinhão. Fabricada no Paraná, a cerveja utiliza pinhão coletado por agricultores que fazem parte do Araucária+. A primeira garrafa da bebida foi lançada em 2015. “Eu e meus sócios éramos cervejeiros caseiros e como somos apaixonados pelo Paraná, decidimos criar uma cerveja para ajudar a divulgar a necessidade da preservação da araucária”, conta Pedro Reis, um dos proprietários da empresa.

Este ano serão produzidas 45 mil garrafas da Insana Pinhão. Apesar de serem comercializadas no Brasil todo, o foco principal de venda está nos estados do Paraná, São Paulo e Santa Catarina.

Os 600 kg de amêndoa do pinhão vieram dos municípios de Urupema e Urubici, ambos em Santa Catarina. “Essa quantidade corresponde a uma tonelada e meia do pinhão bruto. Para 2017, tivemos esse avanço, que foi uma grande diferença no processo produtivo”, explica Reis. “O produto que recebemos veio 100% semiprocessado, ou seja, descascado, cozido, moído e congelado. Recebê-lo assim reduziu nosso custo e aumentou o valor recebido pelo produtor rural, o que mostra que o projeto traz benefícios para todos os envolvidos”.

Pinhão para produzir a cerveja é colhido somente na época certa

Toda a negociação do valor pago pelo insumo utilizado na Cerveja Insana Pinhão é feita via Araucária+. Atualmente são cerca de 80 hectares de Floresta de Araucária conservadas nesta produção, por meio do Padrão Sustentável do programa. Para participar da iniciativa, depois de receber orientação técnica e capacitação, agricultores são obrigados a seguir certas normas, como por exemplo, não realizar queimadas nem extrair as pinhas verdes. Com isso, eles recebem cerca de 30% a mais pelo quio do pinhão bruto, além de contribuir para a redução do impacto gerado nas florestas nativas.

O sabor único do pinhão

Segundo Pedro Reis, o processo de produção da Insana Pinhão se difere das cervejas tradicionais apenas pela adição da semente na formulação. “Como ela tem bastante açúcares de cadeia longa e taninos, o envelhecimento ajuda na realização de reações químicas que alteram o seu paladar, deixando mais arredondada e complexa”, afirma. Com 8,5% de teor alcóolico, a recomendação é seja refrescada em uma temperatura entre 6 a 8 graus.

Em 2017, as garrafas de 300ml da bebida terão uma validade de três anos. O proprietário da cervejaria explica que o  ápice do sabor chega com dois anos após o envase. “Neste ano, nossos produtos serão safrados. Por isso, indicamos ao consumidor que compre e guarde a bebida por dois anos, que é quando ela estará ideal para consumo”, recomenda.

Vale lembrar que, a cerveja de pinhão é obviamente um produto sazonal, já que a semente da araucária pode ser encontrada somente entre março e julho. Todavia, Reis explica que o preparo para a comercialização da bebida dura o ano todo. “Em novembro, começamos a preparação do projeto, por volta de janeiro pensamos na estrutura e na receptividade do produto e em março, é hora do trabalho direto com os produtores. Já em maio, recebemos o pinhão e iniciamos a produção, e em junho e julho, partimos para a comercialização”, destaca.

A cerveja paranaense já foi premiada duas vezes com medalha de bronze pelo Festival Brasileiro de Cerveja, de Blumenau. Mas em breve, deve alçar voos mais distantes. O cervejeiro revela que a empresa já está em processo para exportar a bebida para alguns mercados da América Latina e Europa. “Para nós, isso é muito importante, pois além de auxiliar na preservação da planta símbolo do Paraná, ainda temos um produto que nos dá orgulho em produzir”.

E para 2018, a expectativa é de uma (excelente) novidade: uma cerveja 100% orgânica. Vale um brinde pela Floresta de Araucária: tim-tim!

Fotos: divulgação Insana Pinhão e Haroldo Palo Jr. (pinha)

Deixe uma resposta

Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.