Indústria da moda desperdiça um caminhão de tecidos por segundo

Indústria da moda desperdiça um caminhão de tecidos por segundo

O mercado da moda movimenta anualmente cerca de 2,4 trilhões de dólares no mundo. É muito dinheiro. Algo difícil de imaginar. Segundo um estudo da consultoria McKinsey, este é um dos raros casos de sucesso na economia na última década. O setor cresceu em torno de 5,5% por cento ao ano. Se o valor gerado pela indústria da moda fosse comparado ao PIB – produto interno bruto – de um país, ela seria a 7ª maior economia do planeta.

Infelizmente, os números grandiosos de faturamento do segmento são repetidos pelo seu desperdício. Estima-se que, a cada segundo, o equivalente a um caminhão de lixo cheio de sobras de tecido é queimado ou descartado em aterros sanitários. Ou 500 bilhões de dólares são jogados fora, por ano, com roupas que mal foram usadas ou quase nunca recicladas.

As estatísticas fazem parte de um relatório lançado esta semana, em Londres, pela Ellen MacArthur Foundation, com o apoio da estilista Stella McCartney.

A new textiles economy: Redesigning fashion’s future” conclama os fabricantes a rever a maneira como a moda é feita atualmente, já que no século XX ela incutiu na mente do consumidor a ideia de que “roupas são descartáveis”. Além disso, o processo de manufatura globalizado faz com que coleções sejam desenhadas em um país, confeccionadas em outro e vendidas nos quatro cantos do mundo. Com isto, hoje a moda é um negócio que emite 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa por ano – mais do que a aviação comercial e a indústria naval juntas.

Se nada mudar, a previsão é que até 2050, o setor utilize ¼ do orçamento de carbono do planeta todo.

“A indústria têxtil de hoje é construída em um modelo ultrapassado que gera desperdício e poluição. O que apresentamos no relatório é uma visão ambiciosa de um novo sistema, baseado em princípios de economia circular, que oferece benefícios à economia, à sociedade e ao meio ambiente. Precisamos de toda a indústria reunida para isso”, destaca a ambientalista Ellen MacArthur.

A ideia é que roupas sejam desenvolvidas para durar mais tempo e possam ser facilmente recicladas, alugadas ou vendidas em lojas de segunda mão. Outra prerrogativa é que tecidos não liberem toxinas ou fibras poluentes. Atualmente 500 mil toneladas de microfibras plásticas são liberadas na lavagem de roupas: 16 vezes mais do que as micropartículas plásticas contidas em cosméticos, que já tem o uso proibido em diversos países.

Recentemente, noticiamos no site, que criaturas dos abismos mais profundos dos oceanos têm fibras plásticas em seus estômagos (leia mais aqui).

“Este estudo apresenta soluções para uma indústria que é extremamente prejudicial para o meio ambiente. O relatório oferece um roteiro para criar melhores negócios e um melhor ambiente. Ele nos abre as portas que nos permitirão encontrar uma maneira de trabalhar em conjunto para melhorar não somente nossa indústria, mas o futuro da moda e do planeta”, afirma Stella MacCartney.

Empresas como H&M, Nike, Lenzing e C&A são parceiras na iniciativa.

Entre as soluções apontadas pelo relatório estão:

– eliminar o uso de substâncias tóxicas e fibras plásticas nos tecidos;

– transformar a forma como as roupas são projetadas, vendidas e usadas para que elas se livrem da natureza descartável atual;

– fazer da durabilidade um conceito mais atraente;

– melhorar radicalmente a reciclagem através da transformação do design, coleta e reprocessamento do vestuário;

– fazer uso efetivo dos recursos e insumos renováveis.

Leia também:
A moda brasileira feita com lonas de barcos e redes de pesca retiradas do fundo do mar
Tecido biodegradável pode virar adubo para a horta… e menu gourmet!  
Sacolas plásticas transformam-se em tecido pelas mãos de designers egípcias
Novo tecido elástico garante que criança use mesma roupa dos 4 meses até os 3 anos

 

Fotos e gráficos: divulgação 

Deixe uma resposta

Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.