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Indígenas repudiam declarações de Bolsonaro na ONU: “um dia de terror para os brasileiros e todos os povos indígenas do mundo”

Enquanto Bolsonaro discursava na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, diplomatas e Chefes de Estado, no próprio plenário, já revelavam sua indignação e surpresa com o tom de suas palavras.

O jornalista Jamil Chade contou, em seu blog, que “Jair Bolsonaro não tinha chegado nem sequer à metade de seu discurso e meu WhatsApp, Signal e email já estavam sendo bombardeados por mensagens de diplomatas e representantes de entidades internacionais. Todos chocados com o que estavam ouvindo”. Ele contou, ainda, que “uma das mensagens, particularmente dura, veio de um representante que faz parte da cúpula das Nações Unidas: ‘Ele (Bolsonaro) acabou de perder a última chance de ser respeitado’ e que, em outra mensagem, um mediador perguntava: “Há algo mais extremo que essa visão de mundo?”.

Reproduzimos o discurso de Bolsonaro, aqui, no site.

O presidente atacou países (Cuba e Venezuela, em especial), os povos indígenas – repetiu o que diz sempre: que, em suas reservas, parecem animais no zoológico -, desrespeitou o cacique Raoni, amado e respeitado em todo o mundo – disse: “acabou o monopólio do senhor Raoni!” -, as ONGs, como de costume. Negou o desmatamento na Amazônia, a falta de uma politica de preservação ambiental, negou os incêndios florestais, mas acusou os indigenas pelas queimadas.

Declarou que a Amazônia está “praticamente intocada”, mas revelou que vai explorar esses territórios e que os indígenas desejam participar do desenvolvimento, porque “são como nós, seres humanos”. Quando começou a falar do bioma, aliás, ele destacou o nome de Ysani Kalapalo, indígena bolsonarista que levou a NY – e estava lá no plenário -, como sua escolhida para representar todas as etnias no Brasil, revelando uma carta de apoio do Grupo dos Agricultores Indígenas do Brasil, assinada por 52 etnias, que endossariam sua escolha.

Mas, ontem mesmo, assim que os nomes dos signatários dessa carta foram revelados, alguns deles pediram – por meio de áudios gravados no Whatsapp – para tirar seu nome do documento apresentado por Bolsonaro na ONU porque não reconheciam a indígena. De acordo com a reportagem de O Estado de Sao Paulo, um deles foi Rony Pareci, do povo Haliti-Pareci, conhecido por receber Ricardo Salles e Tereza Cristina em sua aldeia, em fevereiro, e ser um simpatizante do cultivo de soja em suas terras.

Pra arrematar, Bolsonaro ofendeu a ONU, dizendo que governos anteriores – que pregaram o socialismo (??) no Brasil – foram apoiados pela instituição.

Os impropérios foram diversos – tanto que foi cumprimentado por Trump, nos bastidores – e serviram para revelar ao mundo as verdadeiras intenções deste governo, que já haviam sido revelada por Bolsonaro, em doses menores, durante o encontro de Davos, em janeiro, e a Cúpula do G20, em junho.

Não temos medo do governo Bolsonaro

Por tudo isso, líderes indígenas – estes, sim, escolhidos pelos povos originários para representa-los em Nova York para acompanhar a Greve Global pelo Clima e a Cúpula do Clima, realizada no dia anterior a Assembleia – reuniram a imprensa brasileira e internacional para declarar seu repúdio às palavras proferidas por Bolsonaro e à escolha de Ysani, que não é reconhecida como liderança nem mesmo em sua tribo, no Xingu, mas se autointitula como “indígena do século 21”.

Estavam presentes: Sônia Guajajara, da Terra Indígena Arariboia, no Maranhão, e coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que foi candidata à presidência do Brasil pelo PSOL nas eleições de 2018; Dinamam Tuxá (etnia Tuxá, de Alagoas, Bahia e Pernambuco), Cristiane Pankarau (etnia Pankararu, Pernambuco) – ambos também da Apib – e a jovem Artemisa Xakriabá, Minas Gerais).

O cacique Raoni chamado por Bolsonaro de “peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia”.- ia participar desse encontro, mas passou mal e não compareceu.

Sônia Guajajara foi a primeira a falar: “Hoje foi um dia de terror para os brasileiros e para os povos indígenas do Brasil e do mundo. Bolsonaro fez um discurso de intolerância e muita truculência. Essa fala será histórica, infelizmente, porque mancha o legado brasileiro nas Nações Unidas”.

Importante lembrar que o Brasil foi um dos protagonistas na formação da instituição mundial e que sempre teve papel (positivo) nas negociações diplomáticas entre países.

“Ele nos chamou de homens das cavernas e ainda desrespeitou o nosso grande líder, o cacique Raoni, indicado ao prêmio Nobel da Paz. Assim, Bolsonaro se colocou como uma ameaça concreta à Amazônia, como porta-voz do agronegócio e da exploração mineral, com visão e mentalidade do século 19”, destacou Sônia. “Estamos aqui pra dizer que não temos medo do governo Bolsonaro, mesmo com nossas terras sendo tomadas, a Amazônia queimada, o nosso sangue escorrendo na terra, trazemos aqui o grito dos povos indigenas do Nordeste que, acima do medo, têm a coragem”.

Aliás, pouco depois que Bolsonaro discursou – e falou mal Raoni -, o texto que publicamos a respeito da indicação do cacique Kayapó ao Prêmio Nobel da Paz começou a se espalhar rapidamente pelo Facebook. E continua.

Sobre ele, Sônia acrescentou: “Dizer que Raoni é usado por interesses estrangeiros reforça uma prática da ditadura, de achar que não temos capacidade. Não estamos sendo usados por ninguém, estamos aqui respondendo ao chamado da mãe-terra”.

“Pela Amazônia, Bolsonaro deve ser acusado de crime contra a humanidade

A respeito de Ysani, a líder indígena ressaltou que ela pode representar o governo Bolsonaro, mas não os indígenas, explicando que os povos originários têm autonomia para escolher seus próprios representantes, “ao contrário do que ele tentou pregar hoje, deslegitimando a liderança do cacique Raoni e apresentando sua representante”. E acrescentou: “Quando ele traz uma indígena e usa um colar de nossa cultura para dizer ao mundo que está apoiando os povos indigenas, revela o tamanho do seu cinismo pra com a realidade que vivemos hoje. Os nossos representantes são diversos, estão por várias partes do Brasil e contemplam a diversidade de povos e culturas. São lideres escolhidos por seu povo”.

Cristiane Pankararu lembrou que os quatro indígenas ali presentes estavam, sim, legitimados por seus povos a representa-los em todos os encontros realizados em Nova York.

Dinaman Tuxá revelou que os indígenas ficaram bastante assustados com o pronunciamento de Bolsonaro, mas que “agora, nós e vocês tivemos a certeza que tudo o que a gente vem falando nesses nove meses de governo é verdade. As denúncias que os povos indígenas trouxeram à tona são verdadeiras. Bolsonaro declarou que vai abrir mineração em terra indígena e não apresentou nada de concreto para combater os incêndios na Amazônia”.

Sobre a Amazônia, Sônia acrescentou: “Bolsonaro mente quando diz que a Amazônia não é patrimônio da humanidade. A floresta não é minha, nem dos povos indígenas, é de todos! Por isso é, sim, patrimônio da humanidade. E, por isso, Bolsonaro deve ser acusado por crime contra a humanidade”.

Como publicamos em agosto, há, pelo menos dois pedidos de juristas brasileiros na Corte Internacional de Haia para investigação de Bolsonaro por crimes contra a humanidade.

Por fim, a jovem Artemisa Xakriabá declarou que “É uma tristeza ver, depois de marchar com milhares de outros jovens pelas ruas pela proteção do nosso planeta, o presidente falar que é a gente que põe fogo na floresta. Dá muita raiva, tristeza e vergonha”.

Ontem, foi um dia de vergonha para os brasileiros, mas não deixa de ser positivo que Bolsonaro tenha escancarado para o mundo o verdadeiro governante que é: ultrapassado, autoritário, injusto, desumano e perverso.

Fontes: Transmissão ao vivo pela Mídia Ninja, O Estadão, Globo, Instagram

Foto: Reprodução da transmissão ao vivo da coletiva de imprensa

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