Indígenas Munduruku expulsam invasores de suas terras durante autodemarcação

Em 2018, ao ver que o governo Temer não os apoiava nem protegia e não respondia aos seus apelos para fazer a demarcação de suas terras, o povo Munduruku do Médio e Alto Tapajós decidiu agir. Desde então, faz a própria demarcação e criou um sistema de alerta e proteção para combater a invasão de madeireiros, garimpeiros e palmiteiros.

Isso não quer dizer que está tudo tranquilo e que, agora, eles estão protegidos. O governo obviamente não reconhece a demarcação feita por eles – apesar de o “Relatório Circunstancial de Identificação e Delimitação” ter sido publicado no Diário Oficial em abril de 2016 -, e as invasões continuam acontecendo. O que mudou foi que os Munduruku se fortaleceram para defender suas terras e sua vida, e têm confrontado os invasores.

Foi o que aconteceu há poucos dias em sua Terra Indígena Sawre Muybu, invadida por madeireiros e palmiteiros, que eles expulsaram. O relato está em sua página no Facebook, que vale acompanhar.

Assim são as placas que delimitam a Terra Indígena Sawre Muybu, dos Munduruku

Em seu relato, eles comentam que já andaram mais de 100 km em seu território sagrado Daje Kapap Eipi para protegê-lo, organizados em cinco grupos liderados pelos guerreiros Pusuru Kao, Pukorao Pik Pik, Waremucu Pak Pak, Surup Surup e pela guerreira Wakoborun. “Assim sempre foi a nossa resistência. Como nossos antepassados sempre venciam as batalhas e nunca foram atingidos pelas flechas dos inimigos, nós também continuamos limpando os nosso picos, fiscalizando, formando grupos de vigilância e abrindo novas aldeais, como Karoebak no Rio Jamanxim”, contam.

Indígenas Munduruku tomam caminhão carregado de. madeira derrubada em suas terras

Quando iniciaram a autodemarcação de terras, tinham duas aldeias, hoje são seis. E estão na quinta fase desse trabalho. Foi durante sua execução que encontraram “novas aberturas e vários ramais de madeireiros e palmiteiros”. Com seu espírito guerreiro e propósito bem alinhado, expulsaram os dois grupos que encontraram. “Ficamos muito revoltados por ver as nossas árvores derrubadas e as nossas castanheiras como torra de madeira em cima de um caminhão. E sabemos que, depois de tirarem toda a madeira, vão querer transformar nossa terra em um grande pasto para criar gado”.

Os Munduruku andam armados com seus arcos e flechas e facões, mas o mais importante pra eles é que estão sempre muito bem acompanhados por sua cultura e seus antepassados. Veja o que escreveram lindamente sobre isso: “Nós estávamos armados com nossos cânticos, nossa pintura, nossas flechas e a sabedoria dos nossos antepassados”. Invencíveis.

O “arsenal” dos invasores era composto 11 máquinas pesadas, 2 caminhões, 1 quadriciclo, 1 balsa e 8 motos. Boa parte desses equipamentos foi queimada pelos indígenas. Eles contam que nenhum deles tinha identificação ou placa. Tudo era ilegal. Depois que os criminosos saíram – e foram pra onde? -, os Munduruku andaram por 26 km vigiando “os ramais (!!) que os madeireiros fizeram em nosso território”. Durante o percurso, tiveram que beber a água suja do rio Jamanxim, poluída pelo garimpo e se orgulham: “Sozinhos, fizemos muito mais do que ICMBio, Ibama e Funai já conseguiram”.

Madeireiros recolhem equipamentos para sair das terras dos Munduruku

No relato, eles também contam que, na Floresta Nacional dna de Itaituba II, ali pertinho, existe uma pista de pouso, o que garante a fuga rápida dos criminosos. E avisam:

“Os invasores estão matando a nossa vida e derramando a sangue da nossa floresta. A nossa vida está em perigo. E, por isso, nós vamos continuar mostrando a nossa resistência e a nossa autonomia. Somos capazes de cuidar e de proteger nosso território para nossos filhos e as futuras gerações. Ninguém vai fazer medo e ninguém vai impedir que nós mandemos na nossa casa, que é nosso território. Estamos aqui defendendo o que é nosso e não dos pariwat. Por isso. vamos continuar lutando pelas demarcações dos nossos territórios. Nunca vão nos derrubar. Nunca vamos negociar o que é sagrado“.

E finalizam: “Será que vai precisar morrer outros parentes, como aconteceu com a liderança Wajãpi, para que os órgãos competentes atuem?”.

Bolsonaro e a destruição de tudo

Se depender de Bolsonaro, sim, morrerão muitos mais. Todos, talvez. Suas declarações desde que ainda era um medíocre deputado, sempre deixaram claro sua posição sobre os indígenas. Ele teve o desplante de dizer em uma entrevista, que “competente foi a cavalaria americana que dizimou seus índios no passado e, hoje, não tem esse problema em seu país”. Quem duvida pode ler o que escreveu a Agência Lupa de checagem de conteudos, a respeito dessa declaração insana.

Ontem, 29/7, ao responder sobre o assassinato do líder Wajãpi e a invasão das terras desse povo, na semana passada, ele disse que não entende porque as demarcações são feitas em terra tão rica de minério, provando um total desconhecimento da História do país e da Constituição. E que vai legalizar o garimpo, que as ONGs estrangeiras (de novo, elas!!) refutam o garimpo porque querem manter os indígenas como se fossem animais num zoológico (!!) e se apropriar da soberania do país. Leia no texto que publicamos aqui no site.

Suas declarações são de uma estupidez atroz, mas são coerentes com seu plano desenvolvimentista para o país, que visa extrair tudo que a natureza oferece e pode ser transformado em dinheiro.

A Batalha Munduruku

Agora, assista ao vídeo produzido em 2018 pela Agência Pública sobre A Batalha Munduruku. Nele está tudo detalhado. Os indígenas sofrem também com a construção de hidrelétricas e de portos (há projetos para a construção de 30!!) na região.

Os Munduruku são guerreiros e lutarão até o fim por suas terras. Espero que esse fim seja o dos crimes ambientais e sociais que este governo apoia. E que possam viver em paz, como também os demais povos indígenas brasileiros, nossos parentes.

Fotos: Divulgação/Facebook Munduruku

Fontes: Facebook dos Munduruku, CIMI, Agência Pública, O Globo

Um comentário em “Indígenas Munduruku expulsam invasores de suas terras durante autodemarcação

  • 30 de julho de 2019 em 2:55 PM
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    Lutem essas terras são suas, por direito.

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.