Histórias invisíveis

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Comunicar é verbo parceiro do contato direto com a rua. As grandes descobertas de um jornalista acontecem na sequência de um gesto simples, o de sair da zona de conforto, expor-se na calçada e caminhar. A partir do momento em que percebi qual era o meu papel no mundo nunca mais cogitei ser outra coisa, se não repórter. Há quatro anos, optei pelo imponderável e comecei a trabalhar de forma independente.

Com a agenda flexível, coloquei as tralhas na mochila e saí a desbravar os sertões das Gerais. Percorri milhares de quilômetros. Só na Serra do Espinhaço, passei por inúmeras comunidades tradicionais, cidades históricas, parques nacionais e estaduais, vilarejos que nem constam no mapa. Cruzei a ponte Marechal Hermes, divisa entre Pirapora e Buritizeiro, visitei as colônias de pesca do Médio São Francisco, entrei em contato com a cultura barranqueira e as lendas que ecoam das águas de um dos rios mais emblemáticos do Brasil – o Velho Chico. Estive no Vale do Jequitinhonha, entrevistei artesãs que transformam barro em arte e mudam a realidade social de uma região por meio de talento e luta.

Quando dei por mim, estava embrenhada nos recônditos do Brasil. No ir e vir das andanças, tive o prazer de cruzar com profissionais com os quais me identifico pela sensibilidade aguçada, pela paixão que compartilhamos e pelo comprometimento com o que chamo de travessia – uma palavra que me habita quase que como um lar.

historias-invisiveis-fotografos-andredib-tomalvez-fellipeabreuO primeiro que encontrei, um grande amigo, foi o talentoso fotógrafo Tom Alves (no centro, na foto). Juntos, demos os primeiros passos por estradas distantes das rodovias principais. Logo depois, apareceu o carismático André Dib (na foto, à esquerda), fotógrafo que em uma tarde de outono me telefonou, perguntando se eu topava desenvolver com ele uma pauta sobre os coletores de flores do Cerrado. Aceitei. No ano passado, conheci o intrépido Fellipe Abreu, fotojornalista com quem tenho um diálogo superentrosado. Convidei-o para uma empreitada braba. Ele disse sim. A primeira etapa já cumprimos. Em julho, viajamos para a Serra da Canastra, um universo à parte, repleto de beleza, dinâmica e personalidade.

As peças deste gigantesco quebra-cabeça, que é a estruturação de um trabalho documental, começam a se juntar. Em 2014, fundei a Nascente Casa Editorial. Nos próximos meses, trarei muita novidade sobre os projetos que desenvolvo via Nascente, cujo nome está intimamente ligado a esta terra farta de água. Água é vida. Vida é estrada. Estrada sou eu. Eu pelo Brasil.

Este blog é um espaço dedicado às histórias invisíveis do Brasil, para que elas ganhem mundo. Muitas delas. As mais diversas. Será como o afluente principal de um rio que nasce em locais isolados do país e deságua na tela do público. Logo depois do convite feito pela Mônica Nunes (uma das editoras e fundadoras do Conexão Planeta) para eu integrar sua rede de colaboradores, conversamos e concluímos que o blog tem uma missão muito clara: trazer para a sociedade o rosto, a voz, a identidade de pessoas anônimas, residentes dos sertões, do agreste, do alto das serras, das grotas, das florestas, de um Brasil que o Brasil não conhece. Vamos em frente, pois como escreveu Virginia Woolf, “não se pode ter paz evitando a vida”.

Abaixo, lindos retratos de alguns personagens encantadores que encontramos pelo caminho. Um pequeno exemplo do que vem pela frente… Sejam todos bem-vindos à esta jornada!

historias-invisiveis-capivari-mg-foto-tom-alvesAnita Rodrigues é coletora de flores sempre-vivas em Capivari, povoado localizado
no sopé do Pico do Itambé, o mais alto da Serra do Espinhaço. Foto de Tom Alves

historias-invisiveis-galheiros-serra-da-canastra-mg-foto-fellipe-abreuRoque Pedro e Zé Pão, produtores de queijo, em conversa de fim de tarde com Márcio Freitas (extrema esquerda), na região da Matinha do Ouro, uma das mais tradicionais da Serra da Canastra. Foto de Fellipe Abreu

historias-invisiveis-galheiros-mg-foto-andre-dibAntônio Borges é coletor e artesão de flores sempre-vivas em Galheiros,
comunidade modelo em desenvolvimento sustentável no Brasil e no mundo. Foto de André Dib

6 comentários em “Histórias invisíveis

    • 17 de novembro de 2016 em 9:39 AM
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      Obrigada, querido!!! Que assim seja ;)

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  • 17 de novembro de 2016 em 12:11 PM
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    Adorei a ideia deste blog. Eu atualmente mudo constantemente de cidade e o que mais faço é ver, observar,conversar com as pessoas. Sempre faço anotações e ao contar depois os “casos” para as “gentes da cidade” percebo o quanto são desligadas de outras vidas, o quanto não enxergam o que está ali na sua frente e ao mesmo tempo, como ficam sensibilizadas quando me escutam. O blog poderá vir a ser uma abertura para o olhar e a escuta do outro.
    Parabéns, vou seguir o blog.
    Regina

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  • 17 de novembro de 2016 em 7:12 PM
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    Que bom que gostou, Regina! É exatamente o que queremos, que o blog sirva de canal entre mundos. Aproximar o Brasil do Brasil é o objetivo deste trabalho. Obrigada pela visita. Vem com a gente!!!

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  • 10 de abril de 2017 em 12:06 AM
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    Tive o prazer de conhecer dona Anita, pessoa encantadora que nos recebeu de braços abertos.

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    • 12 de abril de 2017 em 12:55 AM
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      Ela é mesmo maravilhosa, Sebastião!

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Carolina Pinheiro

Jornalista e documentarista, colabora com importantes publicações nacionais e internacionais. Viaja o Brasil atrás das histórias do povo, de cantos que não constam no mapa, de lugares distantes das principais rodovias. Traz a reportagem na veia. Em 2014, fundou a Nascente Casa Editorial, onde trabalha com a produção de conteúdo sobre cultura popular, meio ambiente e turismo sustentável no país.