Hashtag #MeToo tem mais de 12 milhões de citações no Facebook

Hashtag #MeToo tem mais de 12 milhões de citações no Facebook

Já passa de 50 o número de mulheres que acusam o produtor de cinema de Hollywood, Harvey Weinstein, de as ter estuprado ou assediado sexualmente. O caso, que ganhou as manchetes mundiais nas últimas semanas, colocou luz sobre um comportamento inaceitável que há décadas era conhecido por todos na indústria cinematográfica. O tal “teste do sofá”, como é chamado aqui no Brasil, e que de engraçado não tem nada, tem sido uma prática comum, não somente no meio da mídia, como em outros também, para que mulheres consigam um emprego, depois de serem constrangidas a prestar serviços sexuais a seus possíveis futuros – ou não – chefes.

A cada dia, mais uma atriz, jornalista ou profissional da mídia americana finalmente toma coragem e conta publicamente como foi assediada ou estuprada por Weinstein. Os relatos são grotescos. O produtor as tratava como objeto sexual, sem qualquer tipo de pudor. Usava seu poder para subjugar as mulheres que encontrava pela frente. Monstro. Predador. Maníaco. Criminoso. Difícil achar uma só palavra que defina Harvey Weinstein, que está sendo investigado agora tanto nos Estados Unidos, como na Inglaterra.

Foi a atriz americana Alyssa Milano que conclamou mais vítimas de assédio a contar suas histórias nas redes sociais usando a hashtag #MeToo. Segundo ela, com a hashtag, seria possível ver a real dimensão do problema.

Somente nas primeiras 24 horas após o tuíte de Alyssa, 4,7 milhões de pessoas utilizaram #MeToo no Facebook. Até o final da semana passada, já havia passado de 12 milhões as menções, comentários e reações à hashtag.

Nestes posts, mulheres relatam os abusos que sofreram. No Brasil, a hashtag foi traduzida para #EuTambém e se espalhou pelas redes.

O movimento é importantíssimo para que mais e mais mulheres deixem de ficar caladas diante dessa violência. Desde jovens, ainda hoje, em muitas sociedades, meninas são ensinadas a ficar quietas e aceitarem aquilo que lhes é imposto. Mesmo que seja contra a vontade delas. Mesmo que seja um estupro.

Pois é hora de dar um basta a isso. Assédio sexual e estupro são crimes. É preciso combater o medo e a vergonha e denunciar pessoas envolvidas nestes atos. É preciso ir à delegacia e fazer um boletim de ocorrência. Apontar o dedo para os criminosos. Esta é a única maneira que conseguiremos fazer com que o abuso acabe: colocando quem os pratica na cadeia!

Em abril deste ano, um caso no Brasil também mostrou como o abuso tem sido escondido por aqui, como mostramos neste outro post. Uma figurinista da Rede Globo teve coragem e acusou José Mayer de assediá-la constantemente e ainda, de chamá-la de “vaca”, na frente de seus colegas, quando ela não respondeu a seus convites. O ator foi afastado temporariamente da televisão. Como Susllem Tonani não abriu um processo contra Mayer, ele continua em liberdade.

Mais recentemente, outra celebridade, o treinador esportivo Nuno Cobra foi acusado de constrager duas mulheres. Ambas vieram à público denunciá-lo (leia mais aqui).

Infelizmente, abusadores estão em qualquer lugar. A impunidade alimenta essa prática todos os dias. Seja por falta de denúncia das vítimas – que não querem se sentir ainda mais expostas na delegacia – ou por falhas da Justiça, quer dizer, de seus representantes, que fazem uma leitura equivocada das leis, são machistas e destituídos da capacidade de sentir empatia pelas mulheres, como no caso do juíz que decidiu dar liberdade ao homem que ejaculou em uma passageira dentro de um ônibus de São Paulo. Na rua, ele voltou a cometer o mesmo crime dias depois.

Desde 2001, assédio sexual é considerado crime no Brasil, previsto no artigo 216 A do Código Penal. A lei é bem clara: “Constranger alguém com intuito de levar vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua forma de superior hierárquico, ou ascendência inerentes a exercício de emprego, cargo ou função: Pena: detenção de 1 (um) a 2 (dois) anos.”

A hashtag #MeToo ou #EuTambém é mais um instrumento para encorajar vítimas a denunciar o assédio sexual. Abuso não é aceitável, é crime. E o criminoso deve pagar pelo que faz, conforme a lei estabelece.

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Foto: domínio público/pixabay

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.