Ginseng brasileiro age contra a fadiga e favorece a memória

As plantas são diferentes, de gêneros diversos, originárias de continentes muito distantes, mas possuem compostos bioativos semelhantes, geralmente obtidos das raízes, cuja aparência também é bem semelhante. Por isso as fáfias – espécies brasileiras do gênero Pfaffia e da família Amaranthaceae – ganharam o apelido de ginseng – nome comum de espécies chinesas e coreanas do gênero Panax e da família Araliaceae. E como o ginseng asiático, esse ginseng brasileiro pode ser tomado em chás ou cápsulas para combater a fadiga, o estresse; melhorar a memória, a atenção, a concentração e a visão, e até como fortificante muscular e afrodisíaco. É um tônico estimulante para tudo! E, aliás, “paratudo” é outro de seus nomes comuns.

Entre as várias espécies de fáfia de ocorrência no Brasil, duas são cultivadas como plantas medicinais: Pfaffia glomerata, nativa em áreas restritas do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Pará, Amapá e Ceará, e P. paniculata, de distribuição mais ampla, nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Ambas são arbustos de pequeno porte, com folhas alongadas e florezinhas brancas, aglomeradas em pompons. É fácil confundir as duas e muitas vezes se encontra uma espécie rotulada como a outra no comércio de fitoterápicos.

A coleta das fáfias na natureza é proibida, para evitar superexploração e extinções locais. Diversos pesquisadores se dedicam a estudos sobre a propagação do ginseng brasileiro, como é o caso do doutor em Biologia Molecular e Fisiologia Vegetal, Fernando Teixeira Nicoloso, da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. “Em geral, o ginseng brasileiro é produzido em condições de campo, principalmente em São Paulo, e depois é embalado pela indústria em cápsulas. Mas é possível melhorar as técnicas de cultivo para reduzir o extrativismo (ilegal)”, comenta o pesquisador.

Nicoloso obteve bons resultados com a micropropagação e a propagação massal ou clonal de fáfias em laboratório, ao trabalhar junto com estudantes de pós-graduação. Eles confirmaram, inclusive, a possibilidade de induzir maiores concentrações dos compostos bioativos nas mudas produzidas in vitro. “Diversos fatores podem influenciar a produção de substâncias consideradas medicinais, como saponinas e beta-ecdisterona, no caso da Pfaffia glomerata. Em algumas situações (que podem ser induzidas), a planta aumenta a produção de determinados compostos para se defender, por exemplo, do estresse derivado da existência de elementos indesejáveis encontrados no solo, como alumínio (solos ácidos) ou mercúrio (poluição) ou cobre e zinco (contaminação por pesticidas)”, explica o especialista.

Por enquanto, ele ainda avalia se a indução aumenta as concentrações de compostos bioativos desejáveis – como antioxidantes e estimulantes – sem elevar a níveis tóxicos os elementos estressantes – como os metais pesados. Se tudo correr bem, no futuro as indústrias farmacêuticas poderiam obter os princípios ativos de que precisam em cultivos biotecnológicos controlados, eliminando o risco de superexploração do extrativismo sem manejo e eliminando também o risco de coleta na natureza de plantas com altos níveis de elementos tóxicos (caso tenham crescido sobre solos contaminados, por exemplo).

“No Brasil, não existe controle de qualidade de alimentos quanto à concentração de metais tóxicos”, pondera Fernando Nicoloso. “E deveria existir. Não só para alimentos, mas para qualquer tipo de produto de consumo, como é o caso de plantas medicinais. Temos que evoluir”.

Fotos: Paulo Pedro P. R. Costa/CC Wikimedia (folhas e flores de Pfaffia glomerata, ao alto, e raízes de ginseng brasileiro, acima)

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Liana John

Jornalista ambiental há mais de 30 anos, escreve sobre clima, ecossistemas, fauna e flora, recursos naturais e sustentabilidade para os principais jornais e revistas do país. Já recebeu diversos prêmios, entre eles, o Embrapa de Reportagem 2015 e o Reportagem sobre a Mata Atlântica 2013, ambos por matérias publicadas na National Geographic Brasil.