Garimpeiros incendeiam as sedes do Ibama e do ICMBio no Amazonas


O fogo ainda não cessou no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, no Cerrado, e mais um incêndio criminoso acontece. Desta vez, o fogo não atingiu outro bioma, mas duas instituições criadas para proteger o meio ambiente no país: o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), em Humaitá, no Amazonas.

No caso da Chapada, o MPF ainda investiga se o incêndio foi crime. O IMCBio – que atua no combate a esse  incêndio ao lado de brigadistas e voluntários – não tem a menor dúvida. No caso da Humaitá, não há muito o que investigar já que muita gente presenciou a ação criminosa: garimpeiros atearam fogo nos prédios e em carros dos dois institutos, na sexta-feira, 27/11.

Tudo começou com a apreensão de instrumentos e balsas usadas em garimpo instalado na região, realizada pelo Ibama e o ICMBio com a Operação Ouro Fino, que fiscaliza a atividade de extração ilegal de ouro no Rio Madeira. Mas, segundo relatos, o fogo foi provocado no dia seguinte, depois que algumas dessas balsas foram queimadas por funcionários do Ibama, às margens da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Madeira. Os garimpeiros se revoltaram (!!!!) e protestaram. Sim, eles esperavam ter tempo para regularizar o garimpo, as balsas etc. Inacreditável! Bandidos reclamando seus direitos, como se estivessem trabalhando dentro da lei.

Só que, durante essa manifestação, os ânimos se inflamaram e eles invadiram e botaram fogo em tudo. A Força Nacional de Segurança Pública que está na cidade para acompanhar a Operação Ouro Fino – e o Exército tentaram conter a fúria dos garimpeiros, mas foi impossível e o confronto inevitável.

Para o site do Estado, o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Luciano Evaristo, explicou a ação. “O objetivo era apreender as balsas que estavam na Floresta Nacional de Humaitá, uma unidade de conservação, onde o garimpo é ilegal. Eram 39. Oito não conseguimos puxar, por um problema no rebocador, e optamos por destruí-las”. E completou: “Mas estávamos levando 31 delas, quando garimpeiros atacaram o rebocador, ameaçaram a tripulação. Ficamos com as balsas na nossa mão, à deriva dentro de uma área protegida, podendo contaminar o rio com mercúrio. Por isso a decisão foi fazer uma destruição cautelar”.

Ontem, 28/11, os garimpeiros fizeram outro ataque, desta vez a um barco do ICMBio, atracado em Humaitá, que teria sido usado na operação.

“Essa atividade ilegal é altamente impactante e causa graves danos ao meio ambiente e à saúde humana, além do risco à navegação. Normalmente associado a diversos outros crimes como contrabando e sonegação fiscal, o garimpo ilegal financia a grilagem de terras e contribuiu para o aumento da violência no campo. Este cenário exige atuação firme das instituições públicas”.

O Ibama e o ICMBio divulgaram nota de esclarecimento: “Essa atividade ilegal é altamente impactante e causa graves danos ao meio ambiente e à saúde humana, além de risco à navegação. Normalmente associado a diversos outros crimes como contrabando e sonegação fiscal, o garimpo ilegal financia a grilagem de terras e contribuiu para o aumento da violência no campo. Este cenário exige atuação firme das instituições públicas”.

Observatório do Clima (OC) também se manifestou, divulgando nota de repúdio ao que chamou de atentado terrorista em Humaitá. Pediu a “punição dos culpados com todo o rigor da lei” e acrescentou: “O ataque ocorre em um momento dramático para a Amazônia e o país. Por um lado, os órgãos ambientais retomam seu poder de fiscalização, o que foi crucial para a redução da taxa de desmatamento em 2017. Por outro lado, o próprio poder público estimula ações como a de sexta-feira, à medida que o orçamento da área ambiental é ameaçado de novos cortes e que cresce no governo federal a influência de políticos locais aliados a setores que sempre fizeram do crime um modo de vida”.

De acordo com os novos dados do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, do OC), em 2016, o desmatamento cresceu na Amazônia e, por isso, as emissões no país aumentaram, “mesmo em um ano de recessão”. Por isso, o que aconteceu em Humaitá parece mesmo uma “tentativa de intimidação” que, se não for rapidamente punida, poderá resultar em mais desmatamento e, consequentemente, em mais emissões.

Como bem salientou o OC em sua nota, o futuro da região amazônica depende “do resultado da queda de braço entre a ordem pública e seus inimigos”, mas não só. As minorias, os trabalhadores e todo o patrimônio natural do país estão em risco. Só a força da sociedade precisa impedir que “as forças do atraso” – que o governo Temer tem incentivado – dominem.

Foto: Divulgação

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.