Fotógrafo retrata idosos para mostrar que ‘o sorriso não envelhece’

Envelhecer só é engraçado na música do Arnaldo Antunes. “A coisa mais moderna que existe nesta vida é envelhecer. A barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer… Os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer. Não quero morrer porque quero ver como será que deve ser envelhecer…” (assista ao vídeo no final deste post).

Também pode ser mais tranquilo envelhecer se o idoso foi saudável a vida inteira e tem boa situação financeira para manter certa estrutura – por mais simples que seja -, que garanta conforto até o fim da vida, seja em sua própria casa ou numa ‘casa de repouso‘. Ou ainda se ele tem uma família amorosa, que está disposta a abrir mão de uma certa tranquilidade para dedicar-lhe atenção e cuidados especiais, sempre que necessário.

Enfim… histórias ruins e boas não faltam nesse cenário, claro. E, pra mostrar que a alegria também pode fazer parte desse momento da vida, esteja onde estiver o idoso, que o jovem fotógrafo russo, Ilya Nodia, atendeu o convite de uma empresa de homecare para criar as imagens de seu projeto Smile Don’t Get Old ou, em tradução livre, O Sorriso Não Envelhece. Ele vive em Los Angeles, trabalha com publicidade e é reconhecido por seu estilo forte e dramático, daí a escolha.

Nodia costuma dizer que, em cada trabalho, quer sempre “criar mais do que uma foto porque gosto de desafios e sou atraído pelas pessoas e por suas histórias pessoais. Crio cenas dramáticas sempre inspiradas por experiências e sentimentos”. É só navegar um pouco por seu site para compreender isso. 

Então, com a missão de valorizar a velhice de homens e mulheres, ele partiu em busca de seus modelos. Visitou casas de família – por indicação de amigos – e ‘casas de repouso’ da cidade de Leningrado.

Imaginou que encontraria muita dificuldade para fazer tal casting, mas se surpreendeu. Conheceu idosos de bem com a vida, que se revelaram muito animados em participar desse projeto e o resultado ficou lindo, como se pode ver na foto que escolhi para a abertura deste texto e no final dele.

Nos retratos de Nodia estão reveladas as rugas, a pele flácida e marcada pelo tempo, os cabelos brancos – e, em alguns casos, ralos ou inexistentes -, a evidente falta de tônus, a decadência física, mas também um largo sorriso – claro! -, com dentes amarelados ou substituídos por dentaduras, não importa.

Em seus retratos impecáveis estão escancarados a felicidade e o brilho nos olhos, traduzidos ainda pelo empenho destes homens e mulheres velhos ao se vestirem com entusiasmo e cuidado para a sessão fotográfica com Nodia.

Para posar para suas lentes, eles usaram algumas de suas melhores roupas e os mais bonitos acessórios que encontraram em seus guarda-roupas. Mas também se esbaldaram com tudo que a produção levou para o estúdio para poder compor o visual de cada um, a seu gosto.

Foi uma linda oportunidade para quebrar a rotina, também, e fazer coisas que há muito tempo não faziam. As mulheres passaram pó e batom. Algumas quiseram pentear os cabelos de um jeito diferente, mais arrumado. Os homens se dedicaram à barba, fosse para tira-la bem ou apara-la.

Assim, as fotos de Nodia são retratos de moda, de beleza, de comportamento. São registros da alma de pessoas que já viveram muito e têm a vida desenhada em seus corpos, em suas expressões. Tá na cara deles que valeu muito, até aqui.

Para nós, fica o exercício de olhar para essas imagens sem qualquer julgamento ou tristeza pela velhice inexorável. Muito pelo contrário. Bom demais poder ver idosos tão lindos e alegres.

Pensando bem, a música Envelhecer, de Arnaldo Antunes, poderia ser a trilha desta sessão fotográfica amorosa e divertida. Ouça (no final deste post) depois de se deliciar com os retratos de Nodia. Vai ser impossível não sorrir.

Em seguida, leia também: Terceira idade com autonomia e sem solidãoA solidão na cidade e os idosos.

3 comentários em “Fotógrafo retrata idosos para mostrar que ‘o sorriso não envelhece’

  • 22 de agosto de 2018 em 8:54 AM
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    Parabéns pela iniciativa,muitos desses idosos são abandonados pela própria família nos asilos, e com certeza registrar sua alegria e gratidão pela vida não tem preço. faço visitas com muita frequência em um asilo público na cidade de Macaé-RJ, e vejo em seus rostos o sorriso distinto que cada um carrega.

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  • 12 de setembro de 2018 em 6:34 PM
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    Imaginar, olhando estes rostos onde o tempo desenhou sabedoria e superação, que cada um deles foi um bebê que nada sabia da vida mas agora sabe tanto e guarda tantos tesouros no coração que fica difícil andar com o peso deles; por isso os idosos andam devagar. Atrás destes olhos existem sóis que (ainda) não vemos, de manhãs onde (ainda) não acordamos, porque também seremos estes rostos amanhã e tomara, tenhamos transformado as dores em um sorriso apesar de tudo, como eles conseguiram transformar, Deus sabe como.

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.