A meia hora inesquecível

fotografia de natureza

Era minha última tarde de uma expedição fotográfica no Pantanal com dois clientes dos Estados Unidos, pai e filho. Até então tudo estava correndo perfeitamente: éramos os únicos hóspedes na pousada, o clima e os bichos estavam colaborando bastante com a gente. Porém, ainda faltava algo: Mark (o pai fotógrafo) estava intrigado com a quantidade de buracos de tatu que existiam por todo lado, mas até então, não havíamos visto um tatuzinho sequer. E foi então que tudo aconteceu.

Faltavam poucos minutos para as 5 da tarde e a luz natural daquele final de tarde de inverno estava perfeita para fotos. Ao cruzarmos de caminhonete um campo “minado” por buracos de tatu, finalmente um deles apareceu saindo de sua toca. Paramos o veículo e descemos cuidadosamente para tentar um melhor ângulo.

Mark ia na frente com sua câmera e eu logo atrás, dando algumas dicas sobre como se posicionar para não espantar o bicho e conseguir imagens melhores. Quando ele finalmente estava na posição ideal, vi que ao fundo, na linha do horizonte, um casal de lobinhos (cachorros-do-mato) desfilava enfileirado. Dei um toque no Mark, que conseguiu fazer umas imagens rápidas da dupla e ainda voltar sua lente para o tatu, que continuava exibindo-se.

Passados poucos minutos, olho para a direita e vejo um tamanduá-bandeira na borda da mata, entrando lentamente na floresta. Aviso Mark novamente, que se diz satisfeito com o tatu e decide tentar o tamanduá. Caminhamos em silêncio para a mata, ainda a tempo de ver o bicho e fazer algumas boas fotos.

Naquele momento já poderíamos ir embora tendo encerrado a expedição com chave de ouro, mas ainda tinha mais! Do outro lado da estreita faixa de mata onde fomos ver o tamanduá, noto um grande vulto familiar e outro menor logo atrás. Era uma anta com seu filhote, que se alimentavam tranquilamente na vegetação sem se incomodar com nossa presença. Conseguimos nos aproximar e fazer ótimas fotos dos dois! Tudo isto aconteceu em menos de meia hora e dentro de um raio de uns 100 metros, aproximadamente.

Escolhi para esta postagem duas das fotos que fiz neste momento tão espetacular que só o Pantanal pode nos propiciar: a do tatu foi tirada às 5h07 e a das antas às 5h20. Entre elas vieram os lobinhos e o tamanduá, que ficaram registrados somente na minha memória, já que eu estava ocupado auxiliando os clientes a conseguirem boas imagens e curtirem este evento pra lá de especial.

E, por uma dessas duras peças que o destino nos prega, a pousada em questão encerrou suas atividades e o guia local que nos mostrou tudo aquilo de forma brilhante já não está mais entre nós – mas as emoções que ambos nos proporcionaram estão eternizadas na mente e nas imagens daquela tarde.


2 comentários em “A meia hora inesquecível

  • 14 de julho de 2018 em 12:35 PM
    Permalink

    Bem aventurados os caçadores que valorizam seus “troféus” de fotos ao invés das cabeças sagradas dos animais da Natureza. Benditos os que carregam câmeras ao invés de armas, os que visitam os animais em seu habitat, sem destruí-lo, os que são capazes de compreender a importância da vida de todas as espécies, em extinção ou não, voltando para sua casa humana de alma lavada, sabendo que deixaram os animais VIVOS, na paz de suas casas também. Deus gosta disso.

    Resposta
    • 17 de julho de 2018 em 6:13 PM
      Permalink

      Olá Sandra, muito obrigado pela visita e comentários. Concordo plenamente com suas colocações.

      Resposta

Deixe uma resposta

Daniel De Granville

Biólogo com pós-graduação em Jornalismo Científico, começou a carreira fotográfica na década de 90, quando vivia no Pantanal e trabalhava como guia para fotógrafos renomados de várias partes do mundo, o que estimulou seu interesse pela atividade. Já apresentou exposições, palestras e cursos na Alemanha, EUA, Argentina e diversas regiões do Brasil. Em 2015 foi o vencedor do I Concurso de Fotografia de Natureza do Brasil, da AFNATURA, e em 2021 ganhou o primeiro prêmio na categoria “Paisagem” do Concurso Global da The Nature Conservancy. Vive atualmente em Florianópolis, onde tem se dedicado ao ensino de fotografia e continua operando expedições em busca de vida selvagem Brasil afora