Com bom humor, prêmio expõe países que atrapalham as negociações na conferência do clima, em Paris

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O nome não poderia ser melhor! Inspirado pela principal causa das mudanças climáticas no planeta – a queima de combustíveis fósseis – o prêmio Fóssil do DiaThe Fossil of the Day Award, foi criado em 1999 pela rede The Climate Action Network (CAN) para dar destaque às nações que atrapalham as negociações durante as conferências da ONU (COPs). Com bom humor porque, de pesado já chega o clima (!) da conferência.

Mas a CAN – que reúne cerca de 150 organizações da sociedade civil – também incentiva os países que se comportam bem. Este ganham o prêmio Raio do Dia, que foi entregue apenas duas vezes: uma, em 2011, em Bonn, para a AOSIS – Aliança dos Estados-Ilha, que propôs avanços nas negociações do Protocolo de Kyoto; e, outra, este ano.

Veja, abaixo, quem tem subido ao pódio a cada dia da COP21, que vai até a próxima sexta, 11/12:

30/11

fossil-do-dia-nova-zelandiaEste ano, o primeiro prêmio foi duplo, ou seja, entregue a dois países: Nova Zelândia e Bélgica. Ambos passaram informações dúbias sobre suas reais intenções.  O primeiro ministro da Nova Zelândia, John Key, alegou que o país é líder na abolição dos combustíveis fósseis de sua matriz energética, mas, desde sua eleição em 2008, os subsídios aumentaram mais de sete vezes. Por sua vez, a Bélgica é um dos poucos países da União Europeia que não reduziu emissões, nem investiu em energia renovável. Numa metáfora à sua política climática, basta dizer que seu ministro do Meio Ambiente perdeu – literalmente – o trem para Paris por causa de negociações para a reativação de centrais nucleares interrompidas há mais de um ano.

1/12

Em vez de um Fóssil, a CAN entregou um Raio do Dia – The Ray of the Day, na COP21!!! Merecidíssimo.

Em encontro (de alto nível), os representantes do Fórum de Vulnerabilidade Climática  são os 43 países mais vulneráveis às mudanças climáticas no mundo, entre eles, Tuvalu, Madagascar, Ruanda, Bangladesh, Etiópia, Maldivas, Tanzânia, Gana, Nepal, Timor Leste, Butão, Afeganistão, Barbados, Quênia, Filipinas, Costa Rica, Kiribati, Santa Lúcia, Vanuatu, Vietnã – abandonaram a posição de vítimas, que têm adotado nos últimos anos, para mostrar liderança: se comprometeram a adotar 100% de energias renováveis e descarbonizar suas economias até 2050.

3/12

A Dinamarca, que já foi modelo por sua política climática avançada – inspirou muita gente quando fixou metas ambiciosas de redução de gases de efeito estufa e lançou projetos de energia eólica em 2009 –, este ano, deu vários passos atrás, desde que o governo liberal assumiu o poder: acenou com o corte de suas metas – definida em 40% até 2020 – e a redução de contribuições para o financiamento climático que passaria de US$ 72 milhões para US$ 39 milhões em 2016. Na cerimônia de entrega do prêmio, o apresentador disse: “Esse valor mal dá pra comprar um café em Copenhague!”.

4/12

Este foi um dia intenso para o Fóssil do Dia. O primeiro prêmio foi entregue à Arábia Saudita. Mas ela não estava sozinha, mas muito bem (ou seria mal?) acompanhada por Índia e China.  Mas as emoções não pararam por aí e outros países foram agraciados com o Fóssil do Dia: Noruega, EUA e – caramba!!! – a Arábia Saudita, de novo! Segundo a organização, os três estavam “ameaçando o coração e a alma da transição para um mundo movido a energia renovável”.

E um terceiro prêmio foi entregue nesse dia, tamanha a intensidade de “bolas fora” da Arábia Saudita. Sim, ela de novo! Segundo a CAM, sua delegação estava inspirada nesse dia e, a julgar pelas propostas, o mundo poderia aquecer três graus facilmente. Eles bloquearam a revisão dos planos de ação climática nacional (ou INDCs) em 2018 ou mais cedo, o que permitiria aumentar a ambição de todos os países e que nos afastaria de um quadro de catástrofes.

5/12

Vai ser difícil desbancar a Arábia Saudita deste prêmio, pelo visto. Mas, neste dia, ela não estava sozinha: a Venezuela lhe fez companhia. Ambos se opuseram à descarbonização, apesar de apoiarem a estabilização dos gases de efeito estufa. Relutam em limpar suas economias porque querem proteger seus lucros oriundos do petróleo.

Na história do prêmio, um Fóssil para o Brasil

Apesar de sua boa fama ao liderar algumas conversas durante a COP17, em Durban, na África do Sul, em 2011, o Brasil entrou para esta lista de premiados. O motivo? A declaração da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, de que as alterações realizadas no código florestal ajudariam o país a diminuir suas emissões de gases de efeito estufa.

Na época, a CAN fez questão de ressaltar que o país já tinha realizado a Eco92 e, no ano seguinte, sediaria a Rio+20.

O Brasil ficou em primeiro lugar. Mas a Nova Zelândia (que este ano ganhou destaque já no primeiro dia) ficou em segundo – propôs mecanismos flexíveis de crédito para redução de suas emissões – e o Canadá, tem terceiro lugar. De acordo com a organização, esta indicação foi feita porque seu ministro do meio ambiente, Peter Kent, teria dito que os prêmios anteriores concedidos ao país se deram por desinformação e motivos ideológicos.

Como se vê, os organizadores do prêmio Fóssil do Dia, além de espirituosos, são implacáveis.

Quer assistir a cerimônia de entrega do prêmio para o Brasil? O vídeo está abaixo, mas como as cerimônias eram muito longas, vale a dica: os representantes brasileiros aparecem somente em 9’26”.

Imagem: Reprodução

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.