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Florestas tropicais de 20 países – o Brasil, entre eles – estão ameaçadas pela produção do óleo de palma

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Hoje, o óleo de palma – ou azeite de dendê, como é mais conhecido no Brasil – domina o mundo. Nos últimos 25 anos, sua produção tem aumentado abruptamente: mais de 80% de sua produção tem origem na Indonésia e na Malásia, mas a palma é cultivada em 43 países e, em pelo menos 20 deles (na Ásia, América do Sul, África e América Central), essa expansão já é uma grande ameaça às florestas e à biodiversidade.

Este é um dos alertas de um novo estudo liderado pela Universidade de Duke e que examinou – pela primeira vez! – os impactos da produção do óleo de palma sobre a biodiversidade global. A pesquisa levou em conta não apenas o passado das áreas de plantio como as ameaças futuras para florestas que ainda sobrevivem nos países analisados. O artigo – publicado ontem na revista PLos ONEé assinado por quatro pesquisadores dos EUA e do Brasil, entre eles Clinton Jenkins, do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas.

Analisando imagens de satélite, os pesquisados detectaram altos níveis de desmatamento relacionados à produção de óleo de palma nos últimos 25 anos (de 1989 a 2013), principalmente no sudeste da Ásia e na América do Sul. Na Ásia, 45% das plantações dos produtores de dendê são provenientes de áreas onde ocorreu desmatamento recente, e, na América do Sul, no mesmo período, o desmate foi de 31%. Mas, na América Central e na África, observou-se resultado oposto: apenas 2% a 7% do óleo de palma é proveniente de áreas onde, antes das plantações de palmeiras, havia florestas.

O Equador, a Indonésia e o Peru apresentaram os maiores níveis de desmatamento, sendo que mais de metade do óleo de palma foi cultivado nas terras desmatadas durante o período estudado: 60,8%, 53,8% e 53,1%, respectivamente. E no Brasil? O índice é preocupante também: 39,4% das áreas de plantio de palma tiveram origem em florestas devastadas.

No artigo, a principal autora do estudo e doutoranda na Universidade de Duke, Varsha Vijay, afirma que “quase todas as plantações observadas estão em áreas onde, originalmente, havia florestas tropicais. A grande questão agora é desvendar como elas foram desmatadas recentemente e de que forma devemos olhar para o desmatamento futuro (proveniente do plantio do óleo de palma)”.

O futuro das florestas

O estudo avaliou as expansões recentes e os modelos possíveis de produção e extração para o futuro em 20 países. Também comparou essas tendências com dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) sobre áreas plantadas para óleo de palma. O resultado indicou que as florestas e as áreas críticas para a conservação da biodiversidade nesses países estão vulneráveis ao desmatamento por causa da produção de palma. (ver no mapa abaixo)

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É na África e na América do Sul que estão as maiores áreas florestais vulneráveis, mas todas as quatro regiões de produção apresentam altas concentrações de mamíferos e aves em risco de extinção.  Mesmo com variações, as florestas mais vulneráveis estão localizadas nos países com elevada porcentagem de áreas de plantio atuais provenientes de desmatamento recente (1989-2013). No Brasil, a ameaça está em áreas ainda não exploradas e igualmente vulneráveis por conta de suas condições socioambientais, especialmente em áreas que não estão protegidas pela legislação.

O pesquisador do IPÊ e professor da Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade, Clinton Jenkins, comenta esses dados: “Quase toda a palma cresce em áreas onde, antes, havia floresta úmida tropical. No Brasil, isso é um risco futuro para áreas da Amazônia, por exemplo. A expansão desse mercado ameaça a biodiversidade e aumenta as emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo. Florestas em todas as quatro regiões de produção do óleo de palma são importantes para a biodiversidade porque reúnem muitas espécies de mamíferos e aves em risco de extinção. Uma das sugestões seria utilizar áreas já desmatadas e inativas para o plantio desse produto”.

Stuart, Pimm, professor de Biologia da Conservação na Universidade de Duke e também coautor do estudo, destacou, em suas observações, que diferentes grupos de espécies estão em risco em diferentes regiões do mundo. E isso precisa ser incorporado aos planos de conservação, levando em conta a expansão de ameaças como a produção de óleo de palma.

Sharon Smith, da União dos Cientistas Preocupados e também coautora da pesquisa, acredita que ela ajuda a compreender onde é preciso “concentrar esforços e aplicar regulamentação governamental a fim de restringir a expansão das plantações de óleo de palma de forma a proteger os ecossistemas ricos em biodiversidade e evitar o desmatamento”.

Para que esse estudo não seja em vão, é preciso disseminá-lo. Só o conhecimento poderá ajudar a impedir que a fronteira do óleo de palma ultrapasse os limites do tolerável e da vida. Mas é importante não criminalizar o óleo de palma. Há produções sustentáveis do óleo e um certificado que confere qualidade e procedência, como explico a seguir.

Por que a produção do óleo de palma se expandiu tão rápido?

Para compreender essa “corrida” ao azeite de dendê, como é mais conhecido o óleo de palma no Brasil – principalmente na Bahia -, é preciso entender suas características e como e onde é utilizado.

A árvore que fornece a palma ou dendê é o dendezeiro, uma palmeira da África trazida ao Brasil no século 17 e que se adaptou muito bem ao solo da Bahia, onde é mais conhecida e consumida. Cada palmeira pode render até 5 toneladas de óleo por ano, o que significa 5 a 10 vezes mais a produção de qualquer outro óleo vegetal. Além disso, seu cultivo exige menos espaço – metade, na verdade! – do que outros cultivos para a produção do mesmo volume. Daí, a razão para sua expansão acelerada.

O óleo de palma é rico em ácidos graxos – como o oleico (ômega 9), o linoleico (ômega 6), o palmítico e o esteárico -, além de ser fonte de tocotrienol (vitamina E) e tocoferol, que agem como antioxidantes e também têm betacaroteno (vitamina A). Por isso, sua aplicação é ampla: alimentos (margarinas, sorvetes e chocolates – dá boa textura e crocância; sem falar em sua aplicação na culinária baiana típica, como acarajé e vatapá), cosméticos (cremes, loções de limpeza e xampus – para cabelos ressecados e com frizz, principalmente), graxas e lubrificantes, sabão, detergentes e velas, agindo como um conservante natural.

Sustentabilidade e certificação

Ser um dos maiores responsáveis por desmatamentos pelo mundo – com impactos inomináveis sobre a biodiversidade, comunidades locais (que foram retiradas de suas casas) e nossa vida – não significa que precisamos demonizar, completamente, o cultivo do óleo de palma.

Existem iniciativas, pelo mundo, que buscam a sustentabilidade dessa produção e uma organização internacional – a Roundtable on Sustainable Palm Oil (RSPO) – criada em 2004 por produtores, instituições financeiras e ONGs para implementar e aprimorar práticas responsáveis de plantio, sem agrotóxicos, queimadas, nem derrubada de florestas, minimizando os impactos negativos do seu cultivo sobre o meio ambiente e as comunidades. O cumprimento de tais critérios pelas empresas produtoras de óleo de palma resultam na obtenção do Certificado de Óleo de Palma Sustentável (CSPO). Aí, sim, essas empresas podem dizer que produzem óleo de palma sustentável.

Para complementar estas informações, reproduzo o vídeo/animação produzido pelo WWF, em 2012, que explica bem as questões que envolvem a produção mundial e a importância de torna-la sustentável.

Leia também:
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Enfim, vendo a onça beber água! 

Foto: Pixabay/Domínio Público

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