Fibras plásticas estão presentes na água que o mundo inteiro bebe, inclusive, o Brasil

água

Se há resíduos plásticos nos oceanos, rios, lagos e no estômago de animais marinhos, será que este lixo também não contamina a água que bebemos? Com esta pergunta em mente, a organização e plataforma digital de jornalismo Orb Media decidiu fazer o primeiro estudo científico internacional para descobrir se a água que sai de nossas torneiras contêm partículas plásticas.

O resultado, divulgado no artigo Invisibles – The plastic inside us (Invisíveis – o plástico dentro de nós, em português), revela que em 83% das amostras de água de torneiras analisadas, em dezenas de países ao redor do planeta, apresentavam fibras de plástico.

Nos Estados Unidos, este porcentual foi ainda mais alto: 94%. Na Europa, o estudo apontou que 72% das amostras possuíam micropartículas de plástico. A pedido do jornal Folha de São Paulo, a Orb Media também avaliou a água das torneiras brasileiras Das dez amostras, nove continham fibras.

Apesar dos brasileiros não beberem água da pia, muitos usam a mesma para colocar em seus filtros e certamente, para cozinhar alimentos. Ou seja, de Nova York a São Paulo, de Paris a Nova Deli, estamos todos tomando água com fibras de plástico. O estudo da Orb media constatou, inclusive, a presença de partículas plásticas em três amostras de água engarrafada.

E qual o impacto disso para a saúde humana? Pesquisas indicam que micropartículas plásticas absorvem substâncias químicas tóxicas ligadas ao câncer e outras doenças, que acabam sendo liberadas no organismo de animais que ingerem estes resíduos. Agora, cientistas terão que estudar se o mesmo acontece com o ser humano.

Especialistas consultados pela Orb Media afirmam que, não há dúvida, as fibras plásticas estão presentes também em nossa comida: papinhas de bebê, massas, sopas e molhos, sejam eles preparados em casa ou comprados prontos no supermercado.

“Os produtos químicos do plástico fazem parte da nossa dieta diária. Acreditamos que a garrafa de água mineral, o pote de plástico seguro para microondas ou o copo de isopor com o café quente está protegendo nossos alimentos e bebidas. Em vez de atuar como uma barreira completamente inerte, esses plásticos estão “quebrando” e liberando em nossa dieta e corpo produtos químicos, incluindo plastificantes que interferem com o funcionmaneto do sistema endócrino, como BPA ou ftalatos, retardadores de chama e até mesmo, metais pesados tóxicos que são todos absorvidos em nossas dietas e corpos”, alerta Scott Belcher, professor da North Carolina State University.

Fibras por todos os lados

Uma das principais invenções da humanidade, o plástico é um material que revolucionou a indústria. Leve, barato e prático, ele está em tudo. O grande problema é que ele tomou o lugar de outras matérias-primas, muito mais fáceis de serem recicladas e de decomposição mais acelerada, como o papel e o vidro.

Infelizmente, é impossível reciclar o volume de plástico fabricado diariamente no planeta. Produzimos mais plástico na última década do que no século passado inteiro. Com isso, montanhas de lixo se acumulam em aterrros sanitários ou acabam indo parar nos oceanos. Estima-se que há aproximadamente 5,2 trilhões de resíduos de plástico boiando pelos mares.

O estudo conduzido pela Orb Media também tentou descobrir de onde surgem estas fibras plásticas invisíveis. As principais possibilidades estão abaixo:

Roupas sintéticas de acrílico, poliester e fleece: ao serem lavadas, elas liberam na água milhões de fibras plásticas. Estima-se que um milhão de toneladas sejam jogadas na água por ano, contaminando o meio ambiente;

Borracha de pneus: a cada 100 km rodados, pneus de carros e caminhões soltam 20 gramas de poeira de borracha. Dispersadas no ar e no solo, acaba indo parar em bueiros, depois em rios, lagos e oceanos;

Tinta: micropartículas de tinta (que têm plástico em sua composição) se desprendem diariamente de casas, sinalizações de rua e navios;

Lixo plástico: toneladas de sacolas, talheres e canudos de plástico são encontrados nos oceanos, transformando-se em micropartículas, ingeridas por peixes, tartarugas, aves e outros animais marinhos (e consequentemente, pelo ser humano, que se alimenta de frutos do mar);

Micropartículas plásticas: as minúsculas esferas, menores do que a ponta de um alfinetes, são utilizadas em produtos cosméticos, como cremes e sabonetes esfoliantes, pastas de dente e esmaltes. Estados Unidos, Canadá e Reino Unidos já proibiram a indústria de usá-las.

Qual a solução?

Ao final, o artigo Invisibles – The plastic inside us (Invisíveis – o plástico dentro de nós) aponta que a única maneira de diminuirmos a contaminação da água, solo e ar por partículas plásticas é repensando a maneira como usamos o plástico. A pesquisa cita, por exemplo, a transformação de lixo orgânico e resíduos plásticos em gás e combustível líquido, processo este que já acontece em muitos países.

Outra saída é estimular a implantação da chamada economia circular, em que indústria e varejo ficam responsáveis pelo reúso e reabsorção de embalagens.

Por último, o desenvolvimento de novas tecnologias e soluções, algumas delas já em andamento, pode ser a resposta para deixarmos de usar tanto plástico no planeta, antes que este, vire o “planeta plástico”.

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Foto: domínio público/pixabay

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.