Fazenda no deserto produz toneladas de tomates usando somente a luz do sol e água do mar

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Na agricultura tradicional, muitos produtores optam por utilizar sementes geneticamente modificadas para poder ter plantas mais resistentes a fungos e doenças. Também se faz necessário o uso da terra, lógico. Será preciso ainda fertilizantes e muita água. E pesticidas para matar pragas.

Mas será possível imaginar um tipo de agricultura que não use nada disso? Nem solo, nem água, muito menos agrotóxicos ou sementes transgênicas? A resposta é sim!

Esse tipo de tecnologia no campo já existe e de maneira muito bem sucedida na Austrália. O que parece ser uma inovação do futuro, começou a ser testado por uma equipe de pesquisadores internacionais há seis anos, em 2010, nas terras áridas de Port Augusta, no sul do país. E agora, a fazenda foi finalmente inaugurada.

No local escolhido para sediar o projeto não há acesso à água potável e as terras tinham sido degradadas pela pecuária e o clima inclemente da região (a Austrália tem sofrido com secas históricas nos últimos anos).

O projeto da Sundrop Farms, uma empresa especializada em agricultura sustentável, usa tecnologia de ponta. Algo nunca antes empregado. É pioneiro no mundo. Numa extensa propriedade, imensas estufas, de 5 hectares cada, produzem, através do processo hidropônico (que usa água no lugar da terra), 17 mil toneladas de tomates por ano. Como?

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A Sundrop Farm produz 17 mil toneladas de tomate por ano

Primeiramente, a água do Golfo de Spencer, que fica a 2 km do local, é bombeada para a fazenda. Depois disso, ela passa por uma planta de dessalinização (retirada do sal), movida a energia solar. Em seguida, a água é utilizada para irrigar as estufas. Com a nova tecnologia, a Sundrop consegue dessalinizar 1 milhão de litros de água por dia.

A energia solar, que faz funcionar não somente a planta de dessalinização, como atende toda a demanda de eletricidade das estufas, é gerada por 23 mil espelhos que refletem a luz do sol numa torre de 115 metros de altura (entenda melhor como o sistema funciona em um dos vídeos ao final deste post).

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Energia solar é usada para fazer funcionar a planta de dessalinização

Os pés de tomate crescem em cascas de coco e não há necessidade de uso de agrotóxicos ou pesticidas porque, segundo os cientistas, a água do mar limpa e esteriliza o ar.

Uma das principais vantagens deste sistema é que há pouquíssimo desperdício. Como o clima é totalmente controlado dentro das estufas, dificilmente existe perda de colheita. Além disso, com a produção hidropônica, a fazenda reutiliza constantemente a água.

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A água dessalinizada é utilizada para irrigar os pés de tomate

Obviamente que o investimento para a construção da Sundrop Farms foi altíssimo: 200 milhões de dólares. Mas a empresa está confiante de que esta é a tecnologia a ser usada para atender a crescente demanda por alimentos num mundo que deve chegar a ter 9 bilhões de habitantes. Para os idealizadores do projeto, a inovação também garante o fim da dependência aos combustíveis fósseis.

Duas novas fazendas entrarão em funcionamento ainda este ano, uma delas em Portugal e outra nos Estados Unidos.

Assista abaixo aos vídeos que explicam melhor como é o trabalho nesta incrível fazenda:

Fotos: divulgação Sundrop Farms

17 comentários em “Fazenda no deserto produz toneladas de tomates usando somente a luz do sol e água do mar

  • 16 de outubro de 2016 em 5:55 PM
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    Muito boa a reportagem.
    Acho muito mais importante se fazer pesquisa deste tipo do que tentar colonizar Marte.

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  • 18 de outubro de 2016 em 11:18 PM
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    Devemos implantar no poligno da seca, essas fazendas maravilhosas, pra acabar com a farra do dinheiro publico, e gerar muitos empregos e fixar o homem na terra. É a minha sugestão

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    • 19 de outubro de 2016 em 11:34 PM
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      Perfeito comentário, Rodolpho. Há mais de 60 anos, os políticos do Nordeste, vêm retirando dinheiro público, na prerrogativa de acabar com a aridêz do Nordeste, mas tudo o que eles conseguem é irrigar seus bolsos. Cadê a SUDENE ? Prá que serve?. É só mais uma manobra para colherem dinheiro fácil, e encherem as repartições de parentes e amigos !!

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    • 2 de julho de 2019 em 11:19 PM
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      Plenamente de acordo. AS pesquisas no Brasil apenas favorecem aos empresários para um produção rápida, lucrativa sem pensar no consumidor. Assim, comemos mais venenos que tomates.

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    • 3 de julho de 2019 em 4:17 AM
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      Na~estou a ver este tipo de projetos gerar muitos empregos. Estes projetos estão mesmo virados para utilização de grandes áreas e poucos empregos devido á simplificação e mais tarde á implementação de robotica nas colheitas.

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  • 2 de novembro de 2016 em 8:25 PM
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    Investimento iniciial muito elevado. Quanto seria investir uma planta de dessalinização com placas de dessalinização para um hectare? Essas placas ou sistemas de conversão de energia solar em elétrica são de células fotovoltaicas ou por simples aquecimento pela conversão do reflexo em fonte de calor?

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    • 3 de novembro de 2016 em 5:54 AM
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      Franklin,
      Maiores detalhes técnicos podem ser obtidos diretamente com a empresa. Aqui está o link http://www.sundropfarms.com/ Inclusive, eles planejam ter outras fazendas em outros lugares.
      Abraço,
      Suzana

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  • 2 de novembro de 2016 em 8:32 PM
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    Ao invés de placas de dessalinizaçao para um hectare, entenda-se como placas solares…

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  • 2 de novembro de 2016 em 9:11 PM
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    Achei bom o comentário do ponto de vista politico, mas do técnico e econômico, gostaria de saber os custos e produtividade por hectare, comparando o sistema convencional/tradicional, orgânico/agroecológico e hidropônico, assim como, gostaria de saber a diferença em cada sistema, quanto à composição e valor e biológico, quimico e físico dos tomates para o consumo final in natura, o tempo de prateleira no pós-colheita e o rendimento agroindustrial de cada.

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    • 3 de novembro de 2016 em 5:54 AM
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      Franklin,
      Maiores detalhes técnicos podem ser obtidos diretamente com a empresa. Aqui está o link http://www.sundropfarms.com/ Inclusive, eles planejam ter outras fazendas em outros lugares.
      Abraço,
      Suzana

      Resposta
  • 3 de novembro de 2016 em 6:36 PM
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    Suzana que bom reportagem e muito interessante mêssmo o que o pessoal na Austrália está fazendo mas…. Esta errado falar que eles somente usam luz do sol e água do mar! Eles usam fertilizantes e nutrientes como todo processos hidropônicos, o Head grower (gerente de produção) falou mesmo no clip, além pode se observar que usam fibra de coco produzida na Sri Lank como substrato e lã de rocha holandesa. Estos substratos tem um tempo de vida de 2 anos comercial, então… O que eles fazem com esses desperdícios?
    A dessalinização da água( existem vários tipos osmoses de inversão, placas de troca de sódio,) não é novidade, em muitos países /para produção de tomate hidropônico e um requerimento governamental para implantação do projeto (Francia, Canadá, USA) e opcional na Holanda, México, Espanha, Colômbia, Guatemala ? … E mesmo! … no Brasil estamos precisando tecnologia e boa informação!

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    • 4 de novembro de 2016 em 5:52 AM
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      Oi Haidee,
      Dentro da matéria, você vai ler que falo sobre a fibra de coco. Infelizmente, no título da reportagem, não tem como nos estendermos muito. Nem cabe nas redes sociais títulos grandes. O mais importante, neste caso, era salientar como uma tecnologia de ponta está sendo empregada em outro país. Como apesar de cara, a dessalinização é viável. Aliás, em momento algum falei que a dessalinização era novidade.
      Muitíssimo obrigada por seus comentários. É sempre bom saber que há leitores, como você, que lêem a matéria completa e fazem considerações inteligentes e oportunas.
      Abraço,
      Suzana

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  • 10 de novembro de 2016 em 2:29 AM
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    Parabéns pelo valioso insight, e espero que repercuta positivamente de forma que a iniciativa privada ou estatal comece a investir neste tipo de tecnologia aqui no Brasil.

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  • 17 de outubro de 2017 em 11:13 AM
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    Interessante as tecnologias.Mais vejo que em grande escala traria um grande inpacto ambiental por ser algo com pouca biodiversidade e naturalidade.Talvez com todo esse investimento ,daria para implantar sistemas agroflorestais sintropicas e manejos agroecologicos junto a essa tecnologia renovavel.

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    • 31 de março de 2018 em 8:52 AM
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      Creio que a tendência é que diversas pesquisas sejam levadas adiante, cada uma se adaptando melhor a cada local. É muito válido que seja assim.

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  • 25 de julho de 2019 em 10:08 PM
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    Adorei a reportagem. Parabéns e muito obrigada por divulgar esse projeto.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.