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Expedição de pesquisadores do Jardim Botânico do RJ descobre espécies inéditas nas Montanhas da Amazônia

flor encontrada na expedição às montanhas da Floresta Amazônica

Foram nada menos que cinco expedições realizadas durante 2011 e 2014. No total, aproximadamente 50 dias em meio a uma das matas mais exuberantes do planeta e ainda hoje, com trechos desconhecidos pelo homem e pela ciência.

Para desbravar este mundo mítico, uma equipe de pesquisadores  do Jardim Botânico do Rio de Janeiro decidiu se aventurar em quatro montanhas do extremo norte da Amazônia: Serra do Aracá e Pico da Neblina, no Amazonas, e Serra Grande e Monte Caburaí, em Roraima. O objetivo da expedição era identificar e catalogar espécies da flora amazônica.

Certamente a chegada nestes locais remotos não foi fácil. Algumas destas montanhas estão a três mil metros de alturas, na fronteira entre Brasil, Guiana e Venezuela. Sob a coordenação do pesquisador Marcus Nadruz Coelho e com a ajuda de um time local, a equipe do jardim botânico carioca enfrentou longas viagens de barco e voadeira, além de trajetos à pé e de helicóptero.

O resultado de todo este esforço científico, cheio de riscos e desafios, foi a coleta de 4 mil amostras de plantas, entre elas, oito que ainda eram completamente desconhecidas pela ciência. Outras 52 espécies foram descobertas pela primeira vez no Brasil e os cientistas puderam ficar cara a cara com dezenas mais de plantas que só tinham sido vistas até então em ilustrações de livros de botânica ou em herbários.

O projeto, com custo de R$ 1,7 milhão, foi patrocinado pela multinacional brasileira Natura. Para contar a história da iniciativa, o trabalho dos pesquisadores e mostrar as novas espécies identificadas foi lançado o livro “Expedições às Montanhas da Amazônia”, repleto de imagens do fotógrafo Ricardo Azoury, que participou das viagens e registrou as novas descobertas na maior floresta tropical do mundo (veja algumas dessas imagens ao final da entrevista). Em junho do ano passado, já havia sido lançado um documentário em DVD “Montanhas da Amazônia – em busca da flora desconhecida“.

gustavo-martinelli-800O Conexão Planeta conversou com Gustavo Martinelli, um dos pesquisadores envolvidos na expedição. Na entrevista que segue, ele revela a emoção de estar no alto de uma montanha na Amazônia, suas descobertas favoritas e destaca a importância do estudo que está sendo feito para a conservação da biodiversidade brasileira.

Por que foram escolhidas exatamente estas localidades para a pesquisa? O que as torna tão especiais?
Em 2007, publiquei um artigo científico com o título “Mountain Biodiversity of Brazil“, que contém uma análise dos principais ecossistemas de montanhas em todos os biomas do Brasil. Neste trabalho foram listadas as montanhas que necessitavam de levantamentos biológicos, considerando que muitas delas não possuíam registros e/ou informações sobre sua biodiversidade. Neste sentido, as montanhas que fizeram parte das expedições deste projeto seguiram as indicações contidas na publicação por serem as áreas de maiores altitudes e menos conhecidas do bioma Amazônia.

Quais foram os principais desafios das expedições?
Alguns dos desafios foram obter as licenças e os documentos necessários para cada uma das áreas (FUNAI, ICMBio, Ministério da Defesa, lideranças dos povos indígenas, etc.). e organizar a logística de transporte da equipe do projeto de guias. Também é complicado administrar o trabalho intensivo de pesquisa e coleta de amostras de plantas, associado à preocupação com mateiros, embarcações, helicópteros, equipamentos, alimentação, combustível, operacionalização e planejamento dos roteiros e a sobrevivência nas montanhas.

E quais foram as principais lições para a equipe de pesquisadores?
Levando em conta o esforço e as dificuldades para alcançar estas montanhas, considero que a maior lição é que precisaríamos conseguir ficar pelo menos o dobro de tempo nestes locais.

Vocês já sabiam que encontrariam espécies ainda não catalogadas? Era esta a principal expectativa da pesquisa?
Nós sabíamos sim. A principal expectativa da pesquisa era documentar a flora destas regiões desconhecidas para contribuir para o conhecimento e a conservação da biodiversidade brasileira.

Quais foram as experiências mais marcantes da viagem?
Cada expedição teve uma experiência significativa. Uma das sensações mais marcantes era quando o helicóptero nos deixava no alto de uma montanha. O silêncio e a quietude se faziam presentes, enquanto estávamos em um lugar isolado e inacessível sentindo a imensidão da natureza.

Qual foi a espécie mais bela e celebrada encontrada durante a expedição? Por quê?
Cada pesquisador em função tinha suas especialidades, então isso variava. Eu e a Rafaela Campostrini Forzza, também pesquisadora do Jardim Botânico, ficamos deslumbrados com as espécies da família Bromeliaceae e Rapateaceae. No entanto, como eram muitas novidades, cada espécie que víamos tinha uma comemoração própria.

Qual a importância de uma pesquisa como esta para a biodiversidade brasileira e sua consequente preservação?
Conservar o que não se conhece não é conservação. O estudo mostra a importância do Brasil em termos da diversidade de plantas com relação ao mundo e o grande desafio que a ciência ainda tem pela frente.

A publicação do livro não encerra ainda os trabalhos da expedição. Quais são os próximos passos para o estudo e catalogação de todas as espécies encontradas?
Ainda estamos na fase inicial de análises apuradas de todo o material obtido nas expedições. Temos várias frentes como a produção de listas, descrição das espécies novas, publicações de espécies descritas para a Venezuela e Guiana e contribuições para os planos de manejos destas áreas.

expedição às montanhas da Floresta Amazônica

A beleza e exuberância da Serra do Aracá, no Amazonas

expedição às montanhas da Floresta Amazônica

A pesquisadora Denise Pinheiro da Costa examina espécie no Pico da Neblina

expedicao-jardim-botanico-amazonia-2-800

Marcus Nadruz, coordenador da equipe, coleta amostras da flora amazônica

Fotos: Ricardo Azoury

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PEDRO LUCAS LINDOSO
PEDRO LUCAS LINDOSO
8 anos atrás

Gostaria de saber se a UFAM – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS, A UEA, UNIVERSIDADE DO ESWTADO DO AMAZONAS, ou mesmo o IGHA – Instituto Geográfico Histórico do Amazonas FOI INFORMADO FOFICIALMENTE DA EXPEDIÇÃO. ? Seria a Amazônia aqui tratada como casa da mãe joana pelos próprios brasileiros? existe biopirataria interna? ou só externa?

Flávio
Flávio
8 anos atrás

Caro Pedro Lucas Lindoso,

vivemos em uma única federação, BRASIL! Sem bairrismo, até onde eu sei quem tem que ser informado oficialmente é ICMBio, IBAMA, FUNAI, etc., já UFAM, UEA talves deveriam ser chamadas a participar como parceiros, mas sem essa de se achar dono e querer dar aval para que se um brasileiro possa trabalhar na Amazonia. Temos que dar parabéns ao JBRJ por ter capitado recurso e executado este dificil e complexo… Afinal, gostaria de saber o pq da biopirataria interna? já que as plantas coletas estão depositadas no herbario nacional, os dados são públicos e disso diversas publicações estão contribuindo de forma significativa para a ciência do BRASIL.
Que as instituições citadas se movam, busquem parceiros, captem recurso e façam um projeto ainda melhor!!!

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