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Entre o sim e o não, um mundo de possibilidades

um mundo de possiblidades para as crianças descalças

Na semana passada escrevemos sobre a importância de permitir que as crianças brinquem descalças, no post A importância do andar descalçoo que provocou certo desconforto para certas mães, que comentaram conosco sobre a dificuldade de colocar em prática esse gesto tão simples. Ao invés de responder aos comentários, acreditamos que escrever um outro post sobre isso seria uma oportunidade para aprofundarmos a reflexão e a prática sobre esse assunto específico.

Como deixar as crianças caminharem, correrem e brincarem descalças nas praças e parques, se é tão comum encontrar cacos de vidro, lixo em geral e cocô de cachorro? Esta é uma pergunta aparentemente paralisante. Como? Deixar que as crianças se cortem ou se contaminem com todas essas coisas que os outros jogam no chão?

Obviamente não é isso que propomos, mas convidamos a explorar essa questão. De primeira mão parece que temos apenas duas saídas: ou deixar as crianças sempre calçadas e até trancadas dentro de casa, onde estão protegidas desses riscos, ou deixar que elas se machuquem ou se contaminem. É importante, diante das dificuldades, explorar a questão de diversos lados, pois entre o sim e o não existe um mundo de possibilidades. Que outras possibilidades temos?

Vasculhar cada praça ou parque e encontrar cantinhos mais limpinhos; deixar que as crianças brinquem apenas em áreas internas dos edifícios, que contam sempre com boa manutenção; ocupar uma praça ou parque e, junto com outros usuários criar sinalizações, colocar cestos de lixo e indicar aos transeuntes que ali é um local apropriado para as crianças brincarem; limpar esses locais públicos toda vez que for levar as crianças pra brincar neles; colocar areia ou terra em uma bacia ou caixote de papelão e deixar que as crianças brinquem descalças apenas dentro de casa; permitir que as crianças brinquem descalças apenas nas férias, onde viajam para lugares onde isso é feito com tranquilidade, nas praias, por exemplo.

Nossa imaginação e nossos gestos podem ir longe: será que cada um de nós é responsável pelo lixo que encontra nas praças, mesmo se não o joga diretamente lá? Você já observou se você mesmo(a) acondiciona corretamente o lixo de sua casa? Você assume a responsabilidade sobre o próprio lixo? Encaminha para a reciclagem tudo o que pode? Ensina às pessoas próximas a fazer o mesmo? Embala com reforço os vidros e lâmpadas quebrados, para que o lixeiro não se machuque, para que o saquinho não rasgue e os cacos se espalhem pelo caminho entre sua casa e o aterro sanitário, passando pelas praças? Você recolhe o cocô do seu cachorro? Você deixa o seu cachorro correr solto pelas praças de modo que você não tem como controlar todos os momentos em que ele faz cocô? Você ajuda ou orienta os demais usuários das praças sobre a importância de assumir a responsabilidade dos resíduos que produz?

Nas Escolas da Floresta que a Ana Carol visitou, a primeira ação das crianças pela manhã era junto com as professoras caminhar pela área que brincam ao longo do dia e coletar lixo, cacos de vidro, cocô de cachorro. Como as escolas aconteciam em locais públicos, era comum encontrar este tipo de resíduo. Apontar essa situação para as crianças é uma forma de mantê-las atentas ao ambiente e ensiná-las a se cuidar.

Querer locais adequados para que as crianças possam brincar descalças pode transformar todo um modo de viver na cidade.

Acreditamos que se nos colocarmos na escuta e no diálogo vamos encontrar muito mais saídas. Brincar descalço é um pequeno aspecto da liberdade e da riqueza de aprendizados que a criança conquista quando está em contato com a natureza. Uma discussão, pequena como essa, nos faz sonhar com uma cidade onde todos se disponham a criar espaços bons para as crianças. Uma cidade plena de jardins e praças cheios de crianças brincando, onde a confiança no outro e em si mesmo pode ser exercida, é um lugar bom de se viver, beneficiando não só aos pequenos, mas a toda a sociedade.

Foto: Renata Stort

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