Energia limpa muda a vida de comunidades carentes, como a dos moradores do Morro da Mineira, no Rio

A desigualdade social ainda é um dos principais problemas enfrentados pela sociedade moderna. Enquanto pouquíssimos ganham muito, milhões tentam sobreviver com o dinheiro contado no final do mês. Estas pessoas ainda esbarrram nas dificuldade de viver em locais onde, muitas vezes, não há acesso a saneamento básico e eletricidade.

Mas alguns projetos, com foco em sustentabilidade e novas tecnologias, têm conseguido transformar a vida desta gente. Para muito melhor. E diminuindo o impacto sobre o meio ambiente.

É o caso, por exemplo, da tecnologia desenvolvida pela Pavegen. Criada em 2009, por Laurence Kembal-Cook, a empresa britânica produz placas cinéticas, que captam a energia dos passos das pessoas e a convertem em eletricidade.

Instalação das placas cinéticas no campo de futebol do Morro da Mineira

Em 2014, um dos primeiros projetos implantados pela Pavegen foi justamente no Brasil, mais especificamente num campo de futebol na favela do Morro da Mineira, no Rio de Janeiro. No chão, foram colocadas 200 placas cinéticas, que funcionam com a energia produzida pelos passos dos jogadores e assim, abastecem os seis refletores de LED em volta da quadra (veja o vídeo ao final desta reportagem).

A iniciativa, que aconteceu no ano da realização da Copa do Mundo em nosso país, teve repercussão mundial.

Entretanto, qual foi o impacto da produção de energia limpa e renovável na vida dos moradores do Morro da Mineira? Enorme! No passado, quando escurecia, os jovens não podiam mais jogar futebol. Agora, com eletricidade, se envolvem na prática esportiva, importantíssima para o físico, mente e convívio social, ainda mais numa comunidade tão vulnerável como uma favela, frequentemente afetada pela violência e pobreza extrema.

Energia limpa melhora a vida de comunidades carentes, como a dos moradores do Morro da Mineira, no Rio

Energia cinética produzida pelos jogadores abastece refletores

Além disso, o campo – agora iluminado – ainda serve de ponto de encontro para os jovens durante a noite. Os comerciantes locais, com lojas próximas da quadra de futebol, também se beneficiaram, já que puderam estender o horário de funcionamento – movimentando assim a economia local e aumentando sua renda. Outros viram ali uma oportunidade de negócio e decidiram abrir novas lojas na região.

“Queremos provar que é possível mudar uma comunidade através da energia”, acredita Kembal-Cook.

O sucesso do projeto da Pavegen foi tão grande, que no ano seguinte, ele foi replicado em uma comunidade carente de Lagos, na Nigéria. Para o CEO e fundador da empresa, oferecer energia limpa e renovável para estas pessoas não está somente melhorando a qualidade de vida delas hoje, mas garantindo que elas tenham maiores chances no futuro.

Todavia, o grande sonho do empreendedor britânico é inspirar esta nova geração de jovens para que eles tenham uma relação diferente com a energia e acreditem que podem mudar a maneira como produzimos eletricidade atualmente.

Energia solar iluminando a vida de famílias pobres da África

Quando muitos de nós não consegue sequer imaginar nossa sobrevivência diária sem o uso de tablets, smartphones ou redes sociais, cerca de 1,2 bilhão de pessoas não tem acesso à eletricidade no mundo. A maior parte delas vive na África.

Em muitos destes lugares, a única maneira de ter luz em casa é usando lampiões de querosene. Todavia, além de ser caro e inflamável, ele é extremamente tóxico. Respirar a fumaça gerada por um lampião é equivalente a fumar dois maços de cigarro. E pensar que muitas crianças o usam diariamente para poder, por exemplo, fazer a lição de casa.

Mas em 2012, o artista Olafur Eliasson e o engenheiro Frederik Ottesen decidiram se unir para levar energia – renovável e não poluente – para as famílias africanas. Little Sun é uma pequena lâmpada LED portátil, recarregável com energia solar, e de baixo custo para comunidades pobres e sem acesso à eletricidade.

Energia limpa melhora a vida de comunidades carentes, como a dos moradores do Morro da Mineira, no Rio

O mais interessante do projeto da Little Sun é ser um negócio social. A pequena luminária não é doada. Seu objetivo é gerar renda através da criação de novos empregos e a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Conforme escrevi no site Planeta Sustentável, em 2015 sobre a Little Sun, a lâmpada solar é comercializada em pontos de venda na Europa e Estados Unidos, onde parcerias garantem que os revendedores tenham uma margem de lucro mínima.

O dinheiro restante é usado na abertura de pequenas lojas na África, onde comerciantes locais vendem a lâmpada por um custo bem mais acessível. Com este investimento social, a Little Sun gera renda, ao mesmo tempo em que leva eletricidade para mais famílias.

Little Sun e Pavegen, dois projetos lindos: investimento em tecnologia limpa e renovável, mudando a vida de milhares de crianças e assim, ilumando seu futuro!


Fotos: divulgação Pageven e Little Sun

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.