Educação: importante chave no combate às fake news

As fake news viralizam mais do que notícias bem apuradas, revelou o professor Deb Roy, do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e colegas, em um estudo publicado em março na Revista Science (em inglês). Neste estudo, que é considerado o maior já feito sobre a disseminação de notícias falsas na internet, os pesquisadores chegaram à conclusão de que a chance de uma notícia falsa ser compartilhada é 70% maior do que a de uma verdadeira.

Ao contrário do que muitos poderiam imaginar, a universidade também mostrou que boa parte das notícias mentirosas são espalhadas por pessoas reais, e não apenas por robôs (que, no ambiente virtual, costumam ser utilizados para replicar rapidamente esses conteúdos). Visando reiterar aquilo que mais condiz com seus valores e opiniões, muitas delas compartilham notícias sem ao menos verificar se estas foram checadas, se vêm de fontes confiáveis.

Fato é que, para compreender o mundo como está hoje, é preciso reconhecer o grau de influência que as fake newstêm sobre todo tipo de informação – seja política, cultural, ou até mesmo sobre educação, saúde, sociedade. Tais notícias têm o poder de induzir inclusive o resultado de eleições, para isso basta lembrar a última disputa eleitoral nos Estados Unidos, que provocou a vitória de Donald Trump sob a suspeita de que as notícias mentirosas influenciaram o debate em favor do republicano.

Diante dos desafios que essa questão implica a toda sociedade, escolas têm se mobilizado, não apenas para avaliar se seus estudantes estão bem preparados para lidar com notícias falsas, mas também para entender qual o seu papel e sua responsabilidade em face dessa realidade.

Algumas ações já começaram a ser feitas dentro e fora da escola, a fim de preparar os alunos a identificar e a refletir sobre os impactos das notícias falsas na sociedade. Em reportagem publicada no Estadão, colégios entrevistados mostraram que professores têm realizado debates e atividades em sala de aula para alertar seus estudantes sobre o uso responsável das redes sociais e da internet. Em escolas de São Paulo, crianças são introduzidas ao assunto já nos primeiros anos do Ensino Fundamental, em um exercício de averiguação da veracidade de notícias e da compreensão do que é e o que não é fonte segura.

Outro exemplo semelhante vem da Lupa, agência de checagem de fatos, que, junto ao Canal Futura, lançou um projeto com foco em educação digital que pretende auxiliar jovens estudantes a checar informações e a combater a desinformação. Para tanto, o projeto Fake ou News elaborou as chamadas trilhas do conhecimento, que serão publicadas semanalmente até as eleições de 2018.

Nessas trilhas, são reunidos conteúdos sobre temas como “Será que essa informação está dentro do contexto?” e “Como descobrir se um perfil na rede social é falso”. Nesta última trilha, por exemplo, por meio de um conteúdo claro e dinâmico, o projeto ajuda a identificar os diferentes tipos de fakese robôs que atuam nas redes sociais, e apresenta passo a passo de como denunciar um perfil falso.

Para além das contribuições das iniciativas citadas acima, é importante nos lembrarmos do compromisso que a educação deveria ter no combate às fake newssob outra perspectiva: a escola assumindo a tarefa de entender quais são os desafios e tensões de seu próprio modelo educacional. Afinal, seu modelo trás ou não reais possibilidades para o desenvolvimento do pensamento crítico e do exercício da ética no consumo, produção e disseminação de informações e opiniões?

Sobre isso, um artigo publicado recentemente na Forbes pelo educador Enrique Dans nos ajuda a lembrar de que não adianta trazer a temática das notícias falsas em sala de aula se a própria maneira como a escola está estruturada impossibilita os estudantes a adquirir conhecimento e a desenvolver senso crítico. “A educação, em geral, evoluiu muito pouco nas últimas décadas. Basicamente continuamos a educar, em quase todos os níveis, com os mesmos mecanismos que nossos pais e avós foram educados: livros de textos que temos que estudar, memorizar e posteriormente repetir em um exame”, pontuou.

Ou seja, a escola precisa se comprometer em seu dia a dia num trabalho que tenha como finalidade a formação de sujeitos com capacidade crítica. Olhar e conhecer diferentes perspectivas são elementos-chave para que os estudantes possam, de fato, a sentir-se preparados para lidar com essa poderosa engrenagem de notícias mentirosas e de difamação.

A escola é um espaço de grandes possibilidades para a troca de diferentes pontos de vista. Um local privilegiado para o estudante se sentir convidado a dialogar diante da diversidade, a praticar o exercício da dúvida. E em um espaço que se pretende estimular o pensamento crítico, todas as contradições, discordâncias, dúvidas e curiosidades que surgirem devem ser acolhidas e não contornadas.

É construindo e dialogando em cima das incertezas, e não nas certezas trazidas pelas fake news, que as pessoas poderão elaborar melhor o mundo e estarão mais preparadas para realizar plenamente sua potência de observar, checar e atuar diante desse cenário.

Ainda há muito a ser dito sobre as fake newse seu impacto na vida de crianças e jovens, bem como o papel da educação ante essa questão. No dia 17 de maio, o programa Escolas Transformadoras fará debate com transmissão ao vivo com convidados que estudam o tema. Todas as informações sobre esta conversa estarão disponíveis em breve nas redes sociaise no site do programa. Acompanhe e participe!

Foto: Shutterstock

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Fernanda Peixoto

Formada em Jornalismo pela PUC-SP, é integrante da equipe de Educação e Cultura da Infância, do Instituto Alana